“O mulato” em quadrinhos

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"O mulato". Capa. Reprodução
"O mulato". Capa. Reprodução

Da ideia inicial, pesquisa, tratamentos de roteiro, desenhos até a impressão, Iramir Araújo e Ronilson Freire levaram dois anos para transpor “O mulato” (2019, 132 p.), originalmente publicado em 1881, romance inaugural do naturalismo no Brasil, do maranhense Aluísio Azevedo (São Luís, 1857-Buenos Aires, 1913). Como nada é por acaso, calhou de lançarem a HQ amanhã (20), último dia da 13ª. Feira do Livro de São Luís (FeliS), edição que tem o escritor maranhense como patrono.

O romance causou rebuliço na província à época de seu lançamento, ao jogar luz sobre o racismo estrutural da sociedade brasileira – tivesse sido escrito hoje, certamente não faltaria quem negasse o racismo ainda vigente. Nesse quesito, infelizmente “O mulato” segue atual.

Página de "O mulato". Reprodução
Página de “O mulato”. Reprodução

Em parte graças ao fato de a capital maranhense ser considerada patrimônio cultural da humanidade e ter preservado o casario de seu centro histórico, foi possível a Araújo e Freire a reconstituição da atmosfera do romance, o quadrinho talvez angariando novos leitores a ele, longe do debate infrutífero sobre uma linguagem ser superior a outra.

O par de adaptadores consegue captar a essência de “O mulato”, escrito com o rigor de detalhes que caracteriza a escola literária na qual se insere o romance de Azevedo. Se uma imagem vale mais que mil palavras…

O calor de São Luís, o romance proibido de Raimundo e Ana Rosa, a escravidão, a corrupção no clero e a violência são detalhadamente reconstituídas por Araújo e Freire, que, sem exagero, alinham-se a grandes duplas da nona arte em todos os tempos, entre as quais Aurelio Galleppini e Gian Luigi Bonelli ou Ivo Milazzo e Giancarlo Berardi, criadores, respectivamente de Tex Willer e Ken Parker, para citar apenas duas influências do primeiro; o segundo tem vasta experiência com trabalho em quadrinhos para editoras inglesas, canadenses, norte-americanas e asiáticas.

Não é a primeira vez que a dupla trabalha junta: já tinham realizado as graphic novels “Ajurujuba – A fundação da cidade de São Luís” e “Balaiada – A guerra do Maranhão”, ambas baseadas em fatos históricos. Também não é a primeira vez que Iramir Araújo debruça-se sobre Aluísio Azevedo: sua dissertação de mestrado, “A flecha, a pedra e a pena – João Affonso, Aluísio Azevedo e a primeira revista ilustrada do Maranhão” venceu o 35º. Concurso Literário Cidade de São Luís e foi publicada em livro.

Se, em certos aspectos, “O mulato” permanece incomodamente atual, espera-se que a adaptação em quadrinhos seja recebida de forma diferente do romance quando de sua publicação. Uma concorrida sessão de autógrafos na noite de encerramento da FeliS será um belo começo da trajetória da obra. Vigorosa.

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