Luna, de Cris Azzi, e Onde Quer Que Você Esteja, de Bel Bechara e Sandro Serpa, flagram emoções delicadas na tela grande nas estreias da semana
A DIFÍCIL ADOLESCÊNCIA
Na primeira cena, um professor debate com os jovens alunos em sala de aula se o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe ou não foi. Sabemos também, pelo início de Luna, que a adolescente periférica Luana (Eduarda Fernandes) foi flagrada pela comunidade num vídeo íntimo e decidiu se suicidar. O tema das difíceis relações entre a adolescência e a internet já vai compondo um subgênero cinematográfico. O mineiro Cris Azzi agarra a oportunidade com afinco, num filme em que predominam a sutileza e a delicadeza, mesmo nos momentos de maior violência (psicológica).
Se a princípio a vida virtual parece tomar a integridade da jovem Luana, aos poucos a chamada vida real vai invadindo suas experiências (boas e más) e especialmente no contato com a colega Emília, que a leva para a parte rica de Belo Horizonte e se torna sua companheira de experimentações sensoriais, sexuais, humanas. O ponto de vista adotado é quase sempre o dos adolescentes envolvidos, principalmente as meninas. O desfecho catártico comunica-se com o início, com o assassinato (de reputações), com o suicídio, com Dilma Rousseff, com a feminilidade em flor de Luana.
Luna. De Cris Azzi. Brasil, 2018, 89 min.
MAIS ESTREIAS DA SEMANA: SOLIDÃO, PERDA E PROCURA
Primeiro filme ficcional da dupla mineira (radicada paulista) Bel Bechara e Sandro Serpa, Onde Quer Que Você Esteja é mais uma das estreias da semana. A trama evolui pelas ruas e vidas de São Paulo privilegiando sempre os tipos comuns, as vidas banais de brasileiros ditos típicos. Um programa de rádio que vai ao ar às seis horas da manhã das sextas-feiras, Onde Quer Que Você Esteja, ilumina cidadãos que se pronunciam em busca de entes queridos perdidos – esposas, pais, filhas crianças ou adolescentes, filhos esquizofrênicos, maridos…
As diversas histórias se entrecruzam na sala de espera do estúdio radiofônico, onde evoluem personagens tão “normais” quanto fascinantes. De início, ouve-se a fala (e o canto) de personagens solitários e desalentados. Conforme vão se conhecendo uns aos outros na sala de espera, a narrativa se bifurca: a fala fica ao fundo, no estúdio, e as personagens passam a se relacionar enquanto aguardam a vez de entrar no ar. Músicas tristes emolduram vidas tristes – “Silêncio de Um Minuto”, de Noel Rosa, “Ontem ao Luar”, de Catulo da Paixão Cearense, enfim “Praça Clóvis”, de Paulo Vanzolini. A empatia se faz na medida da solidão de cada personagem, e da nossa.