Protestos contra o presidente, Roberto Freire, Alckmin, Doria e André Sturm tomam conta da primeira noite da mostra

Uma peça improvisada, porém ovacionada pelo público, marcou o primeiro dia da 4ª Mostra Internacional de São Paulo (MITsp). Não exatamente “Avante, Marche”, o espetáculo previsto no programa, mas a cerimônia de abertura que calou representantes dos governos federal, estadual e municipal de São Paulo.

Soberbamente regida pela atriz Georgette Fadel, que no papel de apresentadora convocava um a um os discursantes da noite, a festa de abertura foi marcada pelos protestos contra o presidente Michel Temer e o congelamento de verbas municipais para a cultura. Além de Temer, Roberto Freire, Geraldo Alckmin, João Doria e André Sturm foram os outros alvos.

Artistas subiram ao palco do Teatro Municipal na abertura da 4ª MITsp - Fotos: Eduardo Nunomura
Artistas subiram ao palco do Teatro Municipal na abertura da 4ª MITsp – Fotos: Eduardo Nunomura

O Teatro Municipal, palco da Semana de 22, como lembrou Danilo Santos de Miranda (Sesc-SP), testemunhou quando Haifa Madi, chefe da representação do Ministério da Cultura em São Paulo, tentou responder à plateia, dizendo ao microfone “gente, isso é democracia”. Foi o bastante para irromperem gritos de “Fora Temer”, ela ser chamada de “golpista” e não conseguir terminar o discurso.

De forma corajosa e quebrando o protocolo, a coordenadora da Funarte em São Paulo, Maria Ester Moreira, subiu ao palco para socorrer Haifa, convidando os manifestantes a “conhecer melhor” e “dialogar” os novos ocupantes do órgão em São Paulo. Mais gritos de “Fora Temer”. Georgette, mestre de cerimônias, habilmente pediu para que Haifa e Maria Ester saíssem pela frente do palco, aumentando a exposição das duas aos protestos.

Alguém da plateia teve tempo de gritar: “Freire é um covarde, mandou uma mulher no seu lugar.” Ao retomar o microfone, Georgette deu um tempo típico de ator e respondeu: “Com certeza”. Em seguida, emendou uma pequena fala em que provocava: “Vamos com Bacco, Xangô, Tupã, sem Temer e sem temer essa realidade.” Foi ovacionada. No público, era possível ver convidados incomodados com os artistas, mas eles permaneceram calados.

Grupos de teatro já estavam preparados para politizar o palco da abertura da MITsp. O diretor de produção da mostra, Guilherme Marques, em sua primeira frase (“Pelo descongelamento da cultura já”) dava a senha para a leva de protestos da noite. Danilo Santos de Miranda e Eduardo Saron, do Itaú Cultural, falaram sem serem interrompidos e foram aplaudidos. Saron invocou a todos a lutarem pela “democracia cultural”.

Giovanna de Moura Rocha Lima, chefe do gabinete da Secretaria Municipal de Cultura, que representou o secretário ausente André Sturm, subiu ao palco e ouviu os primeiros gritos de “descongela”. Tentou discursar, mas os gritos de “Fora Doria” e “Fora Sturm” prevaleceram. O mesmo aconteceu com Rodrigo Mathias, representante do secretário estadual de Cultura, José Roberto Sadek. Ele fez questão de dizer que estatais paulistas como Sabesp e Cesp patrocinavam a MITsp, no melhor estilo “estou pagando”, e recebeu em troca um “Fora Alckmin”.

Banda Sinfônica de São Paulo, encerrada por falta de recursos
Banda Sinfônica de São Paulo, encerrada por falta de recursos
A Rede Brasileira de Festivais de Teatro circulou um manifesto reivindicando uma política pública para a sobrevivência dos festivais no Brasil. Ao fim do espetáculo “Avante, Marche”, da companhia belga, Les Ballets C de la B, produtores culturais subiram ao palco com faixas de protesto. O elenco apoiou a iniciativa – a peça utiliza músicos da Banda Sinfônica de São Paulo, que teve recursos cortados pelo governo Alckmin. Uma faixa de “SOS Banda Sinfônica” foi erguida.

Os espetáculos da MITsp e outras atividades vão até o dia 21. Os protestos devem ser a tônica de muitos desses encontros (confira aqui a programação). A quinta edição acontecerá de 1º a 11 de março de 2018.

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