Uma outra narrativa é possível?

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“Sou uma pessoa que aguenta pressão, que aguenta ameaça. Sobrevivi a grandes ameaças.” Ditas pela presidentA Dilma Rousseff em 7 de agosto deste ano, essas frases soaram cifradas para nós que não temos acesso aos altos escalões políticos e econômicos, aos poderes centrais, às caixas de segredo do país onde vivemos.

pato-fiespAs palavras soaram cifradas, mas atiçaram nossas intuições. Então nossa presidentA, sucessivamente reeleita em regime de eleição perpétua, estava sofrendo ameaças?, estava sob pressão? Quais ameaças? Pressão por parte de quem? Não nos era dado entender, a nós que não somos amigos de banqueiros, de donos de jornal, de bonequistas infláveis financiados pela Fiesp, de jornalistas, dramaturgos e outros ficcionistas da Rede Globo, do vice-presidente Michel Temer (um dos primeiros a colocar o focinho para fora da toca) ou de gente que os valha.

Captura de Tela 2015-10-20 às 15.51.11As mensagens de Dilma sobre ameaças e pressões soaram cifradas como tinham soado cifradas antes, em 2014, suas repetidas promessas de combater a corrupção com rigor e sem trégua caso fosse reeleita. Nós, meros mortais sem acesso a operações estrepitosas da Polícia Federal (a não ser via PIG, o Partido da Imprensa Golpista), oscilávamos entre não entender do que ela estava falando e desconfiar que se tratavam de meras promessas de candidata, sem muitas obrigações com a vida real.

O fato é que a reeleição, que chegara a parecer fácil, custou caríssimo e foi combatida sem trégua por um bom tanto dessa gente que está aí até hoje grasnando feito patos contra a mulher que foi eleita pela graça de Luiz Inácio Lula da Silva e reeleita às próprias custas.

 

Pouco compreendemos do que está acontecendo, até hoje, mas a intuição não para de crescer: há um enredo coeso (se não muitos e múltiplos), ainda que não nos seja dado enxergá-lo, menos ainda decifrá-lo.

O golpismo contra a reeleita, que já vigorava durante a campanha (uma capa da revista mais corrupta do BraZil quase mudou todo o curso da história), emergiu das trevas no mesmo instante da reeleição. A quarta vitória trabalhista consecutiva nas urnas destampou o bueiro do inferno, fosse nas falas de maus e ressentidos perdedores, no ~jornalismo~ adversário (de Dilma e do Brasil) ou mesmo nas páginas virtuais dos sempre alarmados blogueiros progressistas, que, uníssonos com o PIG, passaram a falar sem parar de impeachment, antes mesmo de começar a falar de posse da reeleita.

Impeachment seria o filme hollywoodiano de maior bilheteria em 2015, decretaram em coro mervais & nassifs, antes mesmo de a nova temporada da série estrear.

Acordada sob esse barulho todo, Dilma reempossou-se, ~duela a quien duela~. E submergiu num silêncio ensurdecedor, que pouco deu a decifrar sobre os dias que correm até as fatídicas falas sobre “ameaças” e “pressões” no agosto que já se foi. Por 365, 366 ou mais dias ininterruptos, às segundas, quartas, sextas, sábados e domingos, os trombetistas do PIG alardearam sua incompetência para seguir governando e a inevitabilidade de sua queda (por que mesmo?). Às terças e quintas, os blogueiros do campo progressista o fizeram.

De um lado e de outro, a narrativa única convergiu no essencial, apesar de divergir nas filigranas: havia um impeachment em curso, não se sabe por quê ou para quê, e era preciso garantir (ou evitar, dependendo do freguês) a deposição da reeleita. O blockbuster A Grande Potoca Golpista tomou vulto de chanchada, à direita, à esquerda e no centrão (especialmente nesse, a casa úmida de todo peessedebista e toda peemedebista “sem partido” ao sul do Equador).

Dilma seguiu no enfrentamento quase sempre silencioso do golpismo que a assediava sem trégua, até começar, em dias recentíssimos, a falar mais diretamente contra Eduardo Cunha, autoproclamado emissário de Jesus.com (e dos homens ~de bem~) na Terra. Como de praxe, constantinos e cantanhedes do PIG deploraram as reações de Dilma na mesma velocidade com que blogueiros progressista muy machos reclamaram da demora da presidentA em quebrar o silêncio.

Os segundos não devem conhecer o mecanismo de funcionamento das ratoeiras – se você quer pegar o camundongo que lhe está depredando a despensa, não sai gritando “armei o queijo envenenado para ti, ratinho querido!”, sai? Os primeiros não sei se entenderam ou não a arapuca, mas têm papado fatias grossas de roquefort, como se fossem suas últimas refeições.

O bate-boca destes dias entre Dilma e Cunha está delicioso – quando o rato já está com o rabo totalmente enganchado na guilhotina, até dá para fazer umas cosquinhas de leve na barriga do peludo. Quando a ratazana tem milhões de dólares guardados nos furos de queijo suíço e uma frota de carrões em nome de Jesus.com, fica ainda mais fácil acabar com a valentia… com a valentia… com a valentia.

Ratos são espertos, mas não consta que sejam assim tão valentes.

Enquanto isso, nós que somos intuitivos e não temos fontes no ~palácio~ não paramos de ruminar um segundo, mesmo com o bucho vazio de qualquer tipo de queijo. Haveria outro enredo por trás da narrativa em tempo de novelão de (falta de) pensamento único?

Não é muita coisa pra um bichinho se assanhar, mas até o mais tolo dos tolos sabe que Eduardo Cunha não é um homem temente a Deus, mas antes a ponta de um iceberg. Que há muitos interesses por trás dele. Muitas federações de industriais. Muitos bancos. Muitas emissoras de TV e muitos jornais. Muitos bonecos ~inflávios~. Muitos outros homens, dos que saíram da toca para a luz atraídos pela flautista de Hamelin (Michel Temer, Aécio NevesFernando Henrique Cardoso, Paulinho da Força etc. etc. etc.) e dos que ainda permanecem entocados na tocaia (José Serra & seus planos mirabolantes de entregar o Brasil e a Petrobras para os estadunidenses).

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Fosse verdade ou bravata, Dilma os ameaçava já durante a campanha reeleitoral: “Eu não varrerei corrupção para debaixo do tapete”. Reeleita, a treta da Petrobras prosseguiu e foi crescendo… crescendo… nos absorvendo… O lado petista da treta virou vilão protagonista onipresente no Jornal Nacional, no Jornal do Vampiro e até das telenovelas cada dia menos atraentes da Rede Globo.

Ratazanas que só costumam aparecer nos telejornais globais no papel de mocinhas casadoiras puseram pressão cada vez maior sobre Dilma – não sabemos se atiçados por ela, mas em espiral para cima até que a presidentA desse a senha das “ameaças” e “pressões”. Nós assistimos a tudo catatônicos, feito espectadores passivos de um soporífero novelão mexicano.

Mas e se, numa tentativa de outra narrativa possível, arriscássemos a adivinhar o enredo por trás das intrigas jogadas feito quirera para nos distrair? E se supuséssemos que uma oposição premida por algum grau efetivo de combate à corrupção (ou no mínimo à mamata) estivesse reiteradamente elevando a aposta na tentativa desesperada de impedir o prosseguimento da forquilha ao redor de seus pescoços?

Neste final de outubro de 2015, quase um ano inteiro de agonia, em que momento estamos?

Enforcado na própria corda comprida (da marca Jesus.com), Cunha um dia promete abrir o impeachment, no outro promete desistir do impeachment. Garroteado, o PIG (“moralistas sem moral”) um dia acusa acordo fétido entre Cunha e PT, no dia seguinte acusa Dilma de não entrar em acordo com São Cunha.

As apostas se elevaram a ponto de parecer não haver retorno. Para cumprir as ameaças, concretizar as pressões, atirar-se aos próprios caprichos e salvar as próprias camurças, a população de roedores oposicionistas desta vez terá de jogar aos jacarés não “apenas” uma presidentA sensata e equilibrada, mas a população de todo um país – um país que hoje é mundialmente respeitado e admirado, às vésperas de uma Olimpíada verdamarela.

A queda-de-braço vai custando caro a gregos e BRASILEIRAS e troianos. Entre pesos mortos e feridas mal curadas, Dilma Vana, que em 1973 sobreviveu às torturas da ditadura civil-militar e em 2015 é acossada à direita e à esquerda por supostamente não possuir pulso de governo, vai dando um olé descomunal num plantel de ratazanas hoje contorcidas numa orgia de gorgonzola com cicuta.

Se “coração valente” era ou não um slogan marqueteiro vazio, só o tempo dirá. Mas os indícios estão aí para ser captados por corações inteligentes.

 

 

 

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7 COMENTÁRIOS

  1. Não entendi. Quer dizer que a imprensa que noticia as falcatruas dos políticos é imprensa golpista. Quer dizer que o bom mesmo é ter uma imprensa controlada como ocorre em Cuba e na Coreia do Norte e agora na Venezuela?

  2. PEDRO ALEXANDRE SANCHES, GOSTO DAS SUAS MATERIAS , VOCE E INTELIGENTE , E EDUCADO E E GENTIL.
    SUGIRO QUE DE AULA DE EDUCACAO DOMESTICA AO ” PROESSOR E MESTRE ” EDUARDO NUNOMURA.
    ACREDITO QUE VOCE NAO TEM DIPLOMA DA USP.

    • Alô, Ito. Também estou bloqueando seus comentários, em total concordância com o Eduardo. Você não demonstra qualquer noção de limite, tenta encher a caixa de comentários de xingamentos, bravatas, acusações e destempero. Não somos obrigados a compactuar com suas práticas, muito menos a compartilhar a falta de civilidade alheia.

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