No festival Paraíso do Rock, no Paraná, a banda uruguaia Molina y Los Cósmicos faz um rasante com seu folk da fronteira e mostra por que devemos olhar com atenção um pouco além do Chuí
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Num dos festivais mais insólitos e bacanas do País, o Paraíso do Rock (que mobiliza durante duas noites a pequena Paraíso do Norte, no Paraná), nos próximos dias 10 e 11 de julho, subirá ao palco um dos grupos latino-americanos que merecem ser vistos: Molina y Los Cósmicos, que vem da também pequena Castillos, no Uruguai (fica a 75 km do Chuí, no Rio Grande do Sul).
O líder da banda é Nicolás Molina, velho conhecido das plateias de Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Porto Alegre (estrelou o festival El Mapa de Todos) e passou uma vez brevemente pelo Aeroporto de Guarulhos, mas nunca desceu em São Paulo – o que é uma vergonha, a banda dele é de longe uma das melhores coisas fronteiriças que temos. “Molina y Los Cósmicos fizeram com que Seattle e Los Angeles soubessem da existência de Castillos”, escreveu um diário de Montevidéu. E agora, Nova York também saberá: eles desembarcam no dia 14 de junho na megalópole para show no Rockwood Music Hall (196 Allen Street).
Abrigados num dos países que se converteram hoje na vanguarda comportamental do mundo, o rock e o pop uruguaios vivem um momento especial, mas também vivem a iminência de encarar o futuro sob outras bases (assim como a política tem que se reinventar após a aposentadoria de Pepe Mujica).
“Acho que o Uruguai é muito melhor hoje do que quando estávamos com as políticas pós-ditadura e de direita, mas acho que ainda temos que lutar muito por igualdade social, contra os transgênicos e as multinacionais – que não deixam nada de bom aqui. Eu gostaria de ver o Uruguai mais integrado com os países irmãos”, disse Nicolás Molina, em entrevista a El Pajaro Que Come Piedra. Uma música inteligente, bem-informada, um sujeito que não reivindica nada com excessiva petulância. Eis o que desembarca com Molina y Los Cósmicos.
Jotabê Medeiros – Creio que o artista uruguaio mais popular no mundo hoje seja Jorge Drexler, que viveu no Rio e se diz influenciado por Caetano e Chico Buarque. Você tem alguma influência brasileira?
Nicolás Molina – Bom, eu gosto muito deles, de Caetano e Chico Buarque, mas também de Tom Zé, Zé Ramalho, Alceu Valença, Rodrigo Amarante…. Da minha geração, gosto muito da banda Tagore, do Recife. Acho que é uma revelação para o Brasil.
JM – E dos Estados Unidos? Prefere Devendra, Dylan ou Beck?
NM – Gosto muito dos três com os quais você me comparou, suponho que se note (a influência). Mas gosto também de The Growlers, Damien Jurado, Calexico, Los Lobos, Willoughby, Eels. São muitos.
JM – Sua música ‘Gallos de Kentucky’ lembra flamenco, mas também sugere a sonoridade das canções de protesto.
NM – Sim, ‘Gallos’ é uma canção de protesto, principalmente de protesto contra os transgênicos, mas disfarçada sobre a trilha de um western spaghetti.
JM – E ‘Landing Park’ também lembra um pouco as trilhas de Ennio Morricone.
NM – ‘Landing Park’ é a única cover do álbum, a canção é de Gus Seyffert, ex-Black Keys e que atualmente toca com Beck. Ele não a tem gravada em disco, deixou para que nós a estreássemos. Sou muito agradecido a ele por isso. É verdade que tem o ar do deserto, talvez venha daí essa associação que você vê com Ennio Morricone.
JM – Você alterna vocais com uma garota, e sua experiência coletiva lembra os Flaming Lips. Qual é sua ambição estética?
NM – Eu realmente não tenho uma meta estética, gosto do som atual da banda mas quero melhorar. Acho que as canções é que mandam e, no momento, eu gosto de cantar e compartilhar as canções com uma voz feminina, Emma Ralph. Acho que isso seguramente é influência das muitas experiências de duos que eu aprecio. E eu gosto de trabalhar em coletivo.
JM – Sendo artista de uma zona fronteiriça entre Brasil e Uruguai, acha que há hoje mais coisas que nos aproximam ou nos separam?
NM – Acho que Brasil e Uruguai têm que estar mais próximos. Somos irmãos, temos passado pelas mesmas dificuldades históricas, acho que cada dia temos que estar mais juntos. É claro que há mais coisas que nos unem, por sorte.
JM – Você viveu na Espanha. Gostava de Manu Chao, Macaco e Buika?
NM – A música de Manu Chao eu já conhecia antes de viver na Espanha. Aqui, no início de 2000, ela bateu muito forte, eu gosto de sua posição social, sua maneira de integrar-se com as pessoas e músicos é admirável. Macaco e Buika eu não tenho escutado muito, mas gostaria de recomendar alguns muito bons artistas espanhóis: Lorena Alvarez, Lucas 15, Nacho Vegas, McEnroe, Nacho Umbert, Senior e El Cor Brutal.
JM – Você viu a Copa do Mundo? O que achou da mordida de Suárez? Como vê o futebol hoje por aqui?
NM – São coisas do futebol, sempre aconteceram. No campo, essas coisas sempre aconteceram, mas agora existem 15 mil câmeras de filmagens. Muitos jogadores fizeram coisas piores no passado e não foram penalizados nem em 1% do que Suárez foi. Claro que acho que não devia ter mordido, porém a pena da Fifa foi exagerada. Gosto do futebol, gosto de ver o Uruguai em um mundial, mas quando não estamos lá, eu vou de Brasil. O Brasil é minha opção.
PARAÍSO DO ROCK – 10 e 11 de julho, em Paraíso do Norte (a uma hora de carro de Maringá, Paraná). Principais atrações: Molina y Los Cósmicos, Tenente Cascavel, Cavernoso Viñon, Maciel Salú, The Mullet Monster Maffia, Autoramas, Sollado Brazilian Groove e Elemento Principal. Informações: (44) 9909-1744. Toda a renda é revertida para instituições educacionais da cidade.
* Publicado originalmente em El Pájaro que Come Piedra