Criolo, na 1ª edição do Coala Festival, em São Paulo - Fotos Paulla Muraki
Criolo, na 1ª edição do Coala Festival, em São Paulo – Fotos Paulla Muraki

O nascimento de um festival de música merece aplausos antes mesmo de os shows acontecerem. Quanto mais palcos artísticos no país, melhor. E em se tratando de um evento que se propõe a dar espaço para jovens bandas indies a iniciativa ganha uma relevância maior. A primeira edição do Coala Festival, realizado no sábado (15) em São Paulo, cumpriu o que prometia.

Criolo, principal atração do festival, e Tom Zé foram generosos em fechar e intermediar os shows das bandas 5 a Seco, Charlie e os Marretas, O Terno e Trupe Chá de Boldo. Sem eles, dificilmente a plateia teria se deslocado até o Memorial da América Latina. E foram milhares de jovens de 20 e poucos anos, muitos deles tendo um primeiro contato com os grupos da cena independente brasileira.

Os organizadores Guilherme Marconi e Gabriel Andrade, ambos de 23 anos, afirmaram que a estratégia adotada era usar a força de atração de Tom Zé e Criolo para que um público maior também conhecesse os “novatos”. As bandas indies, embora já estejam na estrada há algum tempo, estão lançando seus primeiros ou segundos discos, e costumam tocar em palcos para não mais que 2 mil pessoas. No Coala Festival, o público deve ter sido de três a cinco vezes maior – não havia a PM ali para chutar um número.

Tom Zé
Tom Zé, na apresentação no meio da tarde
Tom Zé fez o que sempre se espera dele. Cativou o público alternativo com suas músicas criativas, as letras inteligentes e um bom humor temperado com seu sotaque baiano. Mesmo ao falar de coisas sérias conseguia extrair risadas e aplausos da plateia. Atacou de “Menina Amanhã de Manhã (O Sonho Voltou)”, uma canção-protesto do álbum “Se o caso é chorar” (1972), logo depois de explicar porque entrou vestido de preto e amarrado em cordas. Queria lembrar os 50 anos do golpe militar: “Naquela época, a felicidade tinha de ser obrigatória, compulsória, no Brasil.”

Não menos performático foi Criolo, que cantou seus maiores sucessos, a maioria deles acompanhados pela plateia, e proferiu seus discursos igualitários. Há três anos, o esqueleto do hype se formou em torno do rapper da periferia paulista. Já não existe mais “o cara certo, no lugar certo, na hora certa”. Criolo é rei para os jovens burgueses que foram ao Coala Festival. Muitos até pararam a (insuportável) conversa com os amigos para apreciar o show, o que não aconteceu nas outras apresentações.

Banda O Terno
Banda O Terno, que se apresentou depois de Tom Zé
O que se viu nos demais shows foram os filhos de Tom Zé, todos reverenciando o mestre tropicalista. Nenhum dos grupos tinha um repertório coalhado de hits. Nem mesmo um só. Mas exibiram competência em entreter quem estava a fim de diversão. Tocavam uma miscelânea de gêneros, incluindo rock, MPB, rap, reggae e até funk. Difícil prever se Trupe Chá de Boldo, 5 a Seco, O Terno e Charlie e os Marretas um dia vão alcançar o sucesso de Criolo. Talvez não almejem isso, nem vivam em função disso.

Acostumados a assistir megaeventos em que os chamados “line-ups” abundam de cantores e grupos internacionais, entrecortados por bandas ou músicos nacionais que servem apenas para preencher o espaço, os jovens podem contar com o Coala Festival como um novo espaço de valorização da cena independente do país. Até os DJs capricharam nas suas participações, tocando de Tim Maia, Noriel Vilela, Sidney Magal a Originais do Samba.

Palco do Coala Festival - Foto Eduardo Nunomura
Palco do Coala Festival – Foto Eduardo Nunomura
Havia no ar um agradável sentimento de brasilidade. Havia ainda intervenções de artes plásticas, da fotografia e da literatura no espaço do evento. Havia patrocinador (Budweiser) e apoiadores (Trident, 89 Rock, Rolling Stone e Fundação Memorial) de olho no antenado público jovem. E, por fim, havia um público capaz de se orgulhar de tirar fotos ao lado dos garis de uma empresa terceirizada contratada para manter o Memorial limpo. Uma clara demonstração de que as boas causas sempre serão defendidas.

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