Os novos dos veteranos BNegão e Negra Li

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Dois artistas brasileiros de rap com anos de estrada estão lançando novos trabalhos agora, em direções diametralmente opostas. São eles o carioca BNegão, ex-integrante fundador do Planet Hemp de Marcelo D2,e a paulistana Negra Li, egressa da família musical RZO e atriz-cantora do filme Antônia (2006), de Tata Amaral.

Seis anos após seu CD independente de estreia, BNegão e seu grupo Seletores de Frequência renovam a fé no formato faça-você-mesmo com Sintoniza Lá, editado pelo selo Coqueiro Verde, de Erasmo Carlos, mas disponível para download livre e gratuito por iniciativa dos autores.

BNegão volta a seu rap puxado no punk rock, mas de ouvidos acesos para a música de baile, o charme, o funk carioca. De levada mais roqueira, há, por exemplo, a instrumental “Subconsciente”, ou o funk-rock “O Mundo (Panela de Pressão)”.

De contato com o funk carioca (e com o power grupo Turbo Trio, com que BNegão lançou o sensacional Baile Bass, em 2007), há amostras como o pancadão “Bass do Tambô”, primo do kuduro angolano, “Proceder/Caminhar”, de contato com a “agricultura celeste” d’A Tábua de Esmeralda (1974) de Jorge Ben, e “Essa É pra Tocar no Baile”, uma citação revista e atualizada a “Essa É pra Tocar no Rádio” (1975), de Gilberto Gil.

Negra Li, por sua vez, radicaliza na direção contrária, de filiação à indústria tradicional extra-rapper. Tudo de Novo, seu terceiro CD pela multinacional Universal Music, tem produção assinada pelo ultracomercial homem de gravadoras Rick Bonadio, que orienta uma guinada da artista por um rumo há muito cobiçado por ela, de cantora de rhythm’n’blues, pop e MPB influenciada pelas maneiras musicais de Marisa Monte e Vanessa da Mata.

Desta vez, Negra Li consolida o distanciamento do hip-hop e se aproxima, ao menos conceitualmente, do mundo roqueiro anos 1980 de Bonadio. O álbum inclui três baladas de Sérgio Britto (dos Titãs), uma de Edgard Scandurra (ex-Ira!) e a belíssima “Fotografia”, parceria de Leoni (ex-Kid Abelha e Heróis da Resistência) com Leo Jaime. Há ainda “Posso Morrer de Amor”, assinada pelo soul-pagodeiro Leandro Lehart (ex-Art Popular).

No balanço final, não saem predominantes nem o rock dos Titãs e do Ira!, nem o pop de Leo Jaime e Leoni, nem o pagode suingado de Lehart. Tudo de Novo é a cara soft, sexy e suave de Negra Li, uma intérprete correta de música pop inclinada à diluição MPB. Seja por desejo da artista, do produtor ou da gravadora, a mensagem enviada pelo que resta do mercado “mainstream” é inequívoca: para o rap, não há lugar nas velhas estruturas.

Ainda no campo dos veteranos, acaba de ser lançado Caminho Estreito, de Fernandinho Beat Box, mestre da percussão “eletrônica” produzida pela própria boca e rapper com duas décadas de estrada com o genial grupo  Z’África Brasil, pioneiro da fusão-reencontro entre o rap paulista/norte-americano e o repente, o baião, o xote, o xaxado e demais sonoridades do Nordeste de onde seus integrantes descendem.

Na aventura solo, Fernandinho (que também tocou na banda de Marcelo D2 e fez parceria com Cássia Eller) constrói interseção inteligente com a música sertaneja paulista, introduzindo a faixa “Bons Tempos” com uma locução dos programas das madrugadas-quase-manhãs rurais do radialista e sanfoneiro Zé Bettio.

Sem ir além da citação nas possibilidades de fusão, o artista avisa: no rap de hoje, não há cabimento em cultivar fobia contra o pop sertanejo.

As fusões de black music planetária prosseguem em “Samba de Boca”, no samba-rock de violão e cuíca “Minha Mademoiselle”, co-escrita e interpretada por Seu Jorge, no pagode-beatbox “Ê Moleque” e no sampler bossa nova de “Água de Beber” (de Tom Jobim) em “Desilusão”.

O rap apontado para o positivo também aparece de modo marcante na obra de Fernandinho, em faixas como “Vendendo Saúde e Fé” e “A Conquista”. Rap coalhado de brasilidade é sua fórmula – Beat Box é daqueles que, como o jovem Projota e o velho tropicalista Gil, preferem desfrutar e celebrar o melhor lugar que existe no mundo: o aqui-e-agora.

 

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