amanhã em floripa para debater jornalismo cultural.
alguns apontamentos sobre o tema:

1. não há quase mais reportagem no setor nos jornais, e as revistas semanais limitam-se a escovar a agenda;

2. há pouco interesse em reportagens no setor, porque elas podem incomodar muito instituições (secretarias, fundações, museus e TVs) que funcionam como verdadeiras “aposentadorias” partidárias;

3. qualquer candidato presidencial pode dizer um monte de asneiras sobre o tema que dificilmente encontrará repórter na sala para questioná-lo;

4. anos depois do twitter, mais de uma década depois da chegada dos grandes portais, meia década de blogs, e ainda há muito jornalista de “cultura” que acha que tem acesso exclusivo aos produtos da cultura anglosaxã, muita cabeça pré-colonial que acha que “descobriu” a banda tal, e “bombou” a banda sicrana, e “destroçou” a banda xis. ignorem o bobão;

5. há muita jequice ainda no tratamento à cultura, reverência à “alta cultura”, à música orquestral, ao pintor consagrado, e tratamento de excentricidade à cultura popular, pop e jovem, ao grafite; geralmente, é comportamento de jornalista paraquedista, não é da área, nunca ouviu falar em basquiat, em banksy, em the streets, em patativa do assaré;

6. cuidado: tem muito fulano que vive de bajular o oligopólio (e suas instâncias de patrulhamento intelectual) que lhe paga altos salários, e age como se fosse um defensor da liberdade ampla, geral e irrestrita de opinião e de escolha; não se iluda, esse cara só pensa no próprio bolso;

7. desconfie de quem fala muito em hunter thompson e nunca ouviu falar em lúcio rangel;

8. se você está na plateia de um debate sobre jornalismo cultural e o cara na sua frente é grisalho, parece cansado e enxerga com dificuldade, não tenha dúvidas: é esse o homem a ser passado para trás.

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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

6 COMENTÁRIOS

  1. Bem sacadas suas observações, Jotabê!

    Vivemos a época do crítico bonzinho – aquele que procura ver valor e sentido em tudo, em qualquer coisa, e que se tornou incapaz de desenvolver um olhar crítico e de identificar as muitas contradições que permeiam qualquer produção cultural. Endossa qualquer coisa que é jogada no mercado, especialmente aquilo que dá audiência ou vende mais.

    Outro problema sério: a maior parte dos "novos críticos" ou "jornalistas culturais" sabem pouco – em alguns casos, nada – da historicidade do tema que estão abordando. São imediatistas por excelência. Trabalham com informações obtidas em sites de credibilidade questionável, incorrendo numa avalanche de informações equivocadas. Por isso, dificilmente conseguem elaborar um texto mais aprofundado e de qualidade razoável.

    Replicam uma espécie de "síndrome do antropologismo bobo". Tudo é preconceito. O simples fato de um sujeito não gostar de pagode romântico é o suficiente para taxá-lo de preconceituoso. Agora a nova onda é "viva o popular", e mesmo em casos que bandas (de forró, axé music, etc.)são empreendimentos de empresários, que determinam o repertório e mantêm os artistas apenas como funcionários assalariados, tudo é visto e apresentado como se fosse algo natural e de inestimável valor para a cultura brasileira. E ai daquele que fazer qualquer tipo de crítica: taxam-lhe isntantâneamente de preconceituoso. É proibido criticar. Afinal de contas, tudo é legal, é bacana!!

    Fernando Vianna

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