hoje pela manhã fui a uma sessão paras jornalistas do filme “a festa da menina morta”, estreia do ator paulista matheus nachtergaele como cineasta.

sem entrar em maiores detalhes, achei maravilhoso, acachapante, o filme – e se passa inteiro na amazônia, em meio a um sem-número de personagens com feições indígenas, o que é um tiro no coração do alvo deste tempo.

durante a sessão, não pude parar um instante de pensar em lars von trier. me pareceu um lars à brasileira, à amazônica, o matheus – e não estou aqui falando de cópia, muito pelo contrário, que “a festa da menina morta” é repleto de peculiaridades e idiossincrasias.

(não sei se falei isto aqui algum dia, mas lars von trier é meu ídolo maior desde pelo menos “dançando no escuro”. não vejo a hora de ver “anticristo”.)

relações estranhas se teceram em meu coco, porque a amazônia de nachtergaele tem um pé grande no manguebit (co-roteirista, com matheus, é o recifense hilton lacerda, que tenho a alegria de conhecer assim meio de longe). lembrei de novo que, como comentei lá no congresso de jornalismo cultural, quando chico science morreu escrevi no obituário da “folha” um punhado de lugares-comuns jornalísticos e de baboseiras estúpidas, em especial a afirmação de que a morte do chico abortava o manguebit.

pois o manguebit está mais vivo do que nunca, frutificando filmes (“a festa da menina morta”), movimentos (tecnobrega), políticas públicas (preciso citar?), 12 anos depois da morte de chico science.

e relações esquisitas se teceram em meu coco, porque na “carta capital” especial de 15 anos que está nas bancas escrevi, entre outros, um texto grande sobre chico science e outro, pitoco, sobre lars von trier. vai aqui esse segundo, que começa em bush e termina em obama:

Lars Von Trier
Com Dogville, o dinamarquês desferiu golpe cinematográfico feroz na hegemonia norte-americana

NO CINEMA, o golpe mais feroz à hegemonia norte-americana foi desferido em capítulos por um dinamarquês, o diretor Lars Von Trier. O anárquico manifesto Dogma 95 deu início à série de provocações, mas ficou mais circunscrito aos círculos cinéfilos. Em 2000, a proposta ganhou grandiloquência hollywoodiana em Dançando no Escuro, um musical épico estrelado pela cantora islandesa Björk. Sua personagem cantava alegre e feliz, não pelos motivos tradicionais dos musicais, mas como modo atarantado de reagir a uma sucessão insuportável de tragédias pessoais. Em Dogville (2003), a anti-heroína ganhava a feição hollywoodiana (branca de olhos azuis) de Nicole Kidman e mergulhava numa crise banhada em violência, cuja responsabilidade não conseguia (ou não queria) perceber. Se parece profético, em 2005 viria Manderlay, em que a mesma anti-heroína se via frente a frente com o próprio racismo.

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Editor de FAROFAFÁ, jornalista e crítico musical desde 1995, autor de "Tropicalismo - Decadência Bonita do Samba" (Boitempo, 2000) e "Como Dois e Dois São Cinco - Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa)" (Boitempo, 2004)

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