se a primeira canção do disco do bruce é sobre um pete que quase parece ser o seeger, encontro um paralelo fortuito em “carried to dust”, o álbum mais recente do grupo estadunidense calexico. chama-se “victor jara’s hands” o folk de abertura do disco do calexico.
victor jara mal chega a ser mencionado na balada em inglês-e-espanhol que leva seu nome, e mesmo suas mãos são mencionadas assim rapidamente, ligeiramente.
mas foi um cantor e compositor chileno, o victor jara. e suas mãos são protagonistas de uma história pavorosa.
cantor de protesto, jara foi colhido pelo implante da ditadura de augusto pinochet – derrubadora de salvador allende – no chile. foi um dos aprisionados no estádio chile convertido em campo de concentração pelo terrorismo de “estado” naquele 1973. explica um texto em português de portugal, no site wikipedia.com:
“Há alguma controvérsia quanto às torturas que teria sofrido durante os dias de cárcere antes de seu assassinato a tiros, no dia 16 de setembro do mesmo ano. O certo é que Jara teve suas mãos cortadas como parte do ‘castigo’ dos militares a seu trabalho de conscientização social aos setores mais desfavorecidos do povo chileno”.
a mãe de jara, amanda, que também havia sido cantora, tinha sangue indígena. era descendente dos mapuches ou araucanos (na foto abaixo, lloncon, um líder mapuche de 1890), originários de terras hoje chilenas e argentinas (dá-lhe “cultura” de virtualpédia…).
a primeira vez que fui prestar atenção no nome “victor jara” foi há pouco tempo, numa entrevista, quando o ouvi ser pronunciado pela boca de sérgio ricardo – eu então nem sequer sabia como se escrevia “jara”.
ah, mas o calexico.
olha só que rica definição o site allmusic.com produz sobre esse pessoal do arizona:
“Calexico, a Tucson collective of musicians focused around Joey Burns and John Convertino, forged an eclectic identity through their exploration of Southwestern culture. Composer Ennio Morricone’s spaghetti Westerns as well as Portuguese fado, Afro-Peruvian music, and ’50s and ’60s jazz, country, and surf music all factored into Calexico’s music”.
(o que é “música afro-peruviana”?)
conta-se ali também que uma música do calexico, a maravilhosa “crystal frontier”, já foi utilizada como tema para acordar astronautas em missão no espaço. tal qual beth carvalho com “coisinha do pai” – mas menos samba, mais mariachi.
são eles aqui, os dois calexicos, segurando o siri (ou caranguejo?):
por falar nisso, não há aí uma certa atmosfera de johnny cash na capa de “bitter tears (ballads of the american indian)”?
o disco indígena de johnny cash saiu em 1964, o mesmo ano em que começou uma ditadura militar cá no brasil.
mas, ah, o calexico.
aí ouço a faixa 7 do disco deles, “inspiración”, uma voz feminina canta deslumbrantemente em castelhano. vou ver o nome da voz, é amparo sanchez. não deve ser minha parente, hahaha, mas vai saber se não houve troca de fluidos entre os índios daqui, dali e d’acolá…
sei lá eu se estou pirando (ou se as coisas estão melhorando), mas achei tão estranhamente brasileiro esse “carried to dust” do calexico. tão trans-amazonicamente bonito, eu quero dizer.
(alô, eduardo!, alô, adriana!, alô, laís!)
e já reparou que, por trás daquela ruiveza judia, bob dylan tem um jeitão indígena também? pois a rita lee, falsa-ruiva, não é filha de filho de índio pelee-vermelha? diz que é.
it’s life itself…