Quando o caminhão entrou na Bahia, o Patriota pensou: “Será que estão comemorando a eleição no Pelourinho com a Daniela? Ah, mas isso eu não vou aguentar de jeito nenhum! Não fico ali nem um segundo”. Foi nesse momento que o caminhoneiro perguntou de novo, pela 13ª vez, se ele queria que parasse ali para que descesse. Mais uma vez, o Patriota do Caminhão foi peremptório: “Não!”. Afinal, pensou o agarrado, “aqui ainda tá perto de Caruaru, que foi onde me aboletei no para-brisa. Só rodamos 500 km, a resistência pede sacrifício”.
O Patriota tentava desvencilhar, com a língua, uma borboleta morta que ficara enroscada numa das suas narinas. Uma rolinha tinha se abrigado em suas nádegas, surpreendida pela velocidade indecente do caminhão numa curva do quilômetro 140 da BR-232.
A essa altura, manifestantes golpistas em todo o País, irmanados do desejo de manter no poder seu governo derrotado, já divulgavam uma nova ordem de ação nas rodovias: “Ninguém larga o caminhão de ninguém!”.
Na internet, as imagens do Patriota no caminhão passando ganhavam trilhas sonoras de todo tipo: Ride, da Lana del Rey; Not gonna get us, t.A.T.u.; Fly on the Wall, Miley Cyrus; Fast in my car, Paramore. Esqueceram o mais simbólico de todos: Chão de Giz, de Zé Ramalho:
Agora pego
Um caminhão
Na lona
Vou a nocaute outra vez
Prá sempre fui acorrentado
No seu calcanhar
Meus vinte anos de boy
That’s over, baby!
(Freud explica)
17 horas depois que o agarrado agarrou o caminhão, os bolões começaram a surgir, assim como as análises técnicas:
“Quem você acha que vai dar entrevista primeiro? O motorista ou o patriota?”.
“Em turnê pelo Brasil, bolsonarista agarrado em caminhão deve passar pelo Espírito Santo nesta sexta! Confira o roteiro”.
“Tenho amigos que conhecem o bolsonarista do caminhão! Vocês não sabem a melhor parte: quando ele chegou em casa, a mulher botou ele pra fora!”.
“O homem agarrado ao capô do caminhão é como um Cristo às avessas, não crucificado com pregos, mas incapaz de se desvencilhar do peso de sua alucinação”.
“Tenho que admitir que tive simpatia pelo bolsonarista do caminhão porque tem uma certa beleza poética numa pessoa que coloca o próprio corpo em jogo pra levar a cabo uma ideia idiota, uma coisa que fica ali entre o rapaz do Into the Wild e o Padre Baloeiro”, escreveu Ricardo no Twitter.
Nesse instante das repercussões, com fome, o Patriota do Caminhão passou a mastigar uma mariposa que grudou no limpador de para-brisa. Há um momento no vídeo com narração do Galvão Bueno que dá quase para ver ele mastigando.
O fabricante dos bonecos Fofão, que eram até agora os mais populares para serem colocados em parachoques de caminhão, estão preocupados: já estão explodindo os pedidos de caminhoneiros reservando bonecos Patriota de Caminhão.