Sem pressa e com consistência, AQNO deixa o casulo

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Desaglomerô. Frame. Reprodução
Desaglomerô. Frame. Reprodução
O Retorno de Saturno. Capa. Reprodução. Foto: Ítalo Campos. Arte: Renan Lambert. Reprodução
O Retorno de Saturno. Capa. Reprodução. Foto: Ítalo Campos. Arte: Renan Lambert. Reprodução

“O retorno de Saturno”, álbum de estreia de AQNO, é um atestado de coragem. São 11 faixas – 10 delas inéditas, compostas na última década – costurando sua própria história, em que cabem reflexões, autobiografia, contestações, brega paraense, reggae maranhense, forrock, balada e soul, entre outros elementos.

“Esse é um álbum que fala como eu me resolvi em várias questões na última década. É sobre respeitar os nossos processos, nosso tempo para resolver conflitos internos, mesmo que seja lento. É sobre respeitar o processo de amadurecimento e aproveitar os aprendizados dessa longa jornada que está só começando. Saturno leva cerca de 30 anos para dar uma volta inteira ao redor do sol e a cigarra vive aproximadamente 17 anos embaixo da terra, se alimentando da seiva das árvores, até emergir, romper a carapaça e soltar seu canto reprodutivo. E esse sou eu: AQNO, um homem gay, que aos 33 anos, sendo seis deles com HIV, reconfiguro meu modus operandi afetivo, me resolvi em processos lentos, subterrâneos, solitários e agora me sinto pronto para romper e soltar meu canto”, reflete o artista no material de divulgação distribuído aos meios de comunicação.

Tocantinense de nascimento, AQNO vive em Marabá, no Pará, há 17 anos, e morou sete meses em São Luís, durante os quais mergulhou num intenso processo na produção musical, com Sandoval Filho, que assina a do disco, em que AQNO é acompanhado por Derkian Monteiro (trombone), Sarah Byancci (saxofone), Thalysson Nicolas (trompete) e Dark Brandão (percussão), além do próprio Sandoval Filho (guitarra, baixo, teclado, bateria, acordeom, bandolim e violão).

O breggae “Desaglomerô”, primeiro single do disco (veja o clipe, acima), pergunta, responde e convida, abordando  temas como a pandemia de covid-19, o governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro e a alegria típica do brasileiro e suas recentes  e constantes tentativas de cerceamento: “me diz o que é que tem tirado o teu sono?/ o vírus, biroliro, o país tá tão bisonho/ a culpa não é nossa, eu sei/ tamo tentando ficar bem/ eu fiz essa canção, meu bem/ pra tu dançar curtindo aquele teu fininho/ tu daí, eu daqui/ quando é que isso vai passar?/ pra gente se grudar bem sem-vergonha/ dançar um reggaezinho sem-vergonha/ e suar, e suar, e suar”, diz a letra.

“Eu não sou pra casar”, uma deliciosa cumbia, questiona a ditadura heteronormativa que comumente violenta, em maior ou menor medida, qualquer um/a que não se adeque a seu padrão.

Realizado com recursos da Lei de Emergência Cultural Aldir Blanc, via Secretaria de Estado da Cultura do Pará, “O retorno de Saturno” é bonito, delicado, honesto, envolvente, corajoso e contribui para o empoderamento da comunidade LGBTQIA+ e de pessoas convivendo com o HIV, para além de qualquer didatismo ou panfletarismo.

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Ouça “O retorno de Saturno”:

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