A cena é mais comum do que se imagina, com a diferença de que, neste caso, acrescenta-se o muro que divide Estados Unidos e México, cuja tentativa de travessia já matou mais gente que o próprio muro de Berlim.
Uma mãe, sozinha com seus dois filhos pequenos, migra do segundo para o primeiro em busca de garantir o próprio sustento e o dos filhos, após o pai deles ter “desaparecido pela lâmpada” – metáfora para o uso de crack, com lâmpadas fazendo as vezes de cachimbo, que, apesar de poética, não romantiza o consumo de drogas.
Jovem, bonita e apenas aparentemente frágil, Lúcia (Martha Reyes Arias) e os filhos Max (Maximiliano Nájar Márquez) e Léo (Leonardo Nájar Márquez) chegam aos Estados Unidos vendo as coisas por prismas diferentes: enquanto ela quer superar o passado sofrido, eles sonham com a Disneylândia. Alugam uma quitinete numa pequena vila de propriedade de um casal de chineses.
Em meio a essa babel, enquanto a mãe sai para trabalhar, não demora para os meninos desobedecerem o decálogo que ela grava numa fita cassete, para que eles possam ouvir e reouvir até aprender as regras. Entre divertir-se no espaço limitado da casa, as tentações da rua acabam se revelando maiores e a curiosidade dos garotos não evita que eles se metam em encrencas.
É um filme delicado sobre imigração, infância, relações familiares, trabalho precarizado, maternidade, ausência paterna, saudade: no velho gravador os meninos ouvem a voz do avô. Abordado pela ótica de duas crianças, o filme de Samuel Kishi Leopo traz à tona uma questão contemporânea, pelo viés do afeto.
As aventuras dos moleques, no espaço diminuto da moradia, ganham ares de animação, quando eles tornam-se super-heróis. “Vocês são lobos e lobos não choram”, ensina-lhes a mãe, uma das senhas para a imaginação fértil dos filhos. É preciso estar atento e forte.
Serviço: Los Lobos. Drama. México. 2021. Estreia dia 23 de setembro nas salas de cinema.
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