Documentário “Ventos que Sopram Maranhão”, do cineasta Neto Borges, traça rico panorama da produção musical do estado, através de jam sessions conduzidas por Zeca Baleiro. Filme estreia hoje (17) no In-Edit Brasil, que acontece até o dia 26 de junho.
A riqueza e a diversidade da música popular brasileira produzida no Maranhão são o mote do documentário “Ventos que Sopram Maranhão”, dirigido por Neto Borges e ancorado por Zeca Baleiro, que conduz a narrativa através de inspiradas jam sessions, em diversas paisagens da ilha de São Luís, capital do estado.
O filme de Borges estreia hoje (17), ao meio-dia, e fica em cartaz até o próximo dia 26, na 13ª. edição do festival In-Edit Brasil, que este ano volta a acontecer em formato on-line, em razão do prolongamento indefinido da pandemia de covid-19. O acesso aos filmes do catálogo da mostra é grautito, com limite de visualizações por sessão.
“Ventos que Sopram Maranhão” foi gravado em duas semanas, em maio de 2019, e finalizado agora, a tempo de estar presente no In-Edit. Em seus 77 minutos apresenta um vasto panorama de mais de 50 anos da produção musical no estado, passeando por gêneros e gerações, sem se prender a uma cronologia linear ou qualquer tipo de hierarquia.
O filme não pretende, no entanto, esgotar o assunto, e nisto reside um acerto. Há ausências, por questões de logística ou agenda, mas estão lá, desde João do Vale, considerado o maranhense do século XX, a turma que fundou o Laboratório de Expressões Artísticas (Laborarte) e, de certo modo, colaborou para a assimilação dos ritmos da cultura popular na formação da identidade do maranhense e/o que, em parte, culminaria na gravação, por Papete (1947-2016), do antológico lp “Bandeira de aço” (1978), lançado pela gravadora Discos Marcus Pereira e considerado um divisor de águas na música popular produzida no Maranhão.
Chico Maranhão, o primeiro maranhense a ser registrado por Marcus Pereira, a geração pós-“Bandeira de aço”, até a novíssima geração, de nomes como Tiago Máci, Núbia e CasaLoca. Bumba meu boi, tambor de crioula, reggae, rock, samba, choro, hip-hop: nada escapa ao olhar atento e sensível de Neto Borges e à prosa de Zeca Baleiro, anfitrião que deixa os convidados à vontade. A recíproca é verdadeira.
Por e-mail, eles conversaram com exclusividade com Farofafá.
ENTREVISTA: NETO BORGES
ZEMA RIBEIRO – Além de ser maranhense, que outras relações você tem com a música popular produzida em sua terra? O que te levou a escolher essa produção como tema de seu mais recente documentário?
NETO BORGES – Sou do Sul do Maranhão, de Carolina. Fui para São Luís com 14 anos estudar na Escola Agrícola. Fui interno, e nos finais de semana ia para a cidade. A música, de uma maneira geral, entra em mim em Carolina, uma cidade que acolhia bem o rock e a MPB, mas ao mesmo tempo, fui conhecendo a música de São Luís. No último ano da escola agrícola, já com meus 17 anos, rolou uma festa para os internos e quem apareceu para tocar foi simplesmente o Rabo de Vaca, um presente dos deuses para alguém do sul do Maranhão e que ainda não tinha tanta intimidade com a música de São Luís. No filme trago uma fala do Betto Pereira sobre o Rabo de Vaca. Nos anos 80 eu cursei história na UFMA e tinha um gosto especial pela boemia, pela música e pela cultura popular. Eu beirava os bares de São Luís em uma das fases mais produtivas da música da Ilha. Costumava dizer que o bar era minha igreja, coisas desse tipo. Tenho na memória, ainda bem jovem, de estar no balcão do Bar do Pierre, na Rua do Egito, e o Sérgio Habibe vir pegar uma cerveja com a mão engessada. Sempre adorei os balcões dos bares, gostava de observar e escutar música, tinha que ter música ao vivo e muita poesia. Vi Josias Sobrinho muitas vezes no Arraial do Renascença. Eu tive o prazer de revê-los tocando para o filme, nas cenas filmadas no Laborarte. Ainda na época da universidade conheci o evento que o Chico Maranhão promovia com seu tambor em sua casa, trombei com Betto Pereira e Zezé Alves em vários bares da cidade, enfim, e muitos outros. O certo é que minha formação musical aconteceu mesmo em São Luís.
ZR – Zeca Baleiro é um artista muito generoso e sempre trabalhou como um embaixador da cultura do Maranhão, Brasil e mundo afora. Sua escolha para ancorar o documentário foi natural? Vocês já se conheciam? Como se deu essa parceria?
NB – Sabemos que o Zeca Baleiro é generoso, mas isso é um “plus a mais”. Conheci o Zeca nos anos 80 tocando nos bares, gostei do jeito e da pegada pessoal da composição. A música dele se identificava com o que eu já ouvia em Carolina. Depois o vi bastante nos festivais. Um certo dia, um amigo em comum, Norberto Noleto, me levou até a casa dele. A gente estava lá olhando o Zeca tirando vários vinis e apresentando seu baú de influências musicais. Lembro que ele já era organizado. A sua música já tinha entrado na minha cabeça antes dessa visita, assim como a de Josias Sobrinho, Sérgio Habibe e Cesar Teixeira. Mas foi o Zeca quem me impulsionou para uma aventura. Nos finais dos anos 80 encarei sozinho uma louca produção e o convidei para tocar em Carolina, ele topou. Desembarcaram em um Fiat Uno azul: Zeca, Solange Bayma, o guitarrista Maninho e sua esposa. Dois dias de shows com boate e praça lotada, acho que foi a partir daí que rolou uma proximidade. Logo depois ele foi para São Paulo e eu fui para França. Anos depois nos reencontramos no show “Vô imbolá”, que eu soube em cima hora, em Portugal. Voltando para o Brasil fui morar em Brasília e nos víamos bastante em shows, camarins e saídas pós shows. Em 2004 fizemos gravações em São Luís com alguns personagens da cultura local: Mestre Felipe, Dona Teté, Zelinda Lima e José Chagas. Em 2009, eu o convidei para participar do filme “Sob o signo da poesia”, cantando a música “Brasília”, de Sérgio Sampaio. Em muitos desses encontros falávamos sobre fazer um documentário sobre a música de São Luis, eu queria um estilo mais “Buena Vista Social Club” e Zeca estava mais para uma série, pois já conhecia a vastidão musical atual de São Luís. Essa nova geração eu só fui conhecer quando realizamos a pesquisa para o filme e durante as filmagens do “Ventos que Sopram Maranhão”.
ZR – Uma coisa que eu achei bastante interessante no roteiro foi a abordagem não linear das gerações e a não hierarquização dos gêneros musicais. Eu queria que você comentasse um pouco essa construção e dissesse o quanto disso estava originalmente previsto e o quanto foi improviso, com o roteiro se ajustando durante o processo de filmagem e montagem.
NB – Então, essa pergunta dá um livro, pois são muitas anotações e ensaios durante a montagem. Uma das maestrias do documentário é a narrativa que se constrói durante a montagem. Chegamos com um norte prévio, e pegamos todos os pontos cardeais até encontrarmos harmonia entre eles. No caso de “Ventos Que Sopram Maranhão”, não foi diferente. Passei algumas semanas começando o filme com imagens de arquivo do IIIº Festival de MPB da TV Record (1967), com a música “Gabriela” do Chico Maranhão interpretada pelo MPB-4. Mostrei para o Zeca e ele achou ótimo, segui em frente, mas depois acabou caindo, pois precisava, de cara, no começo do filme, estar com o Zeca, o piloto da nave mãe que é o filme, e aqui não tem nada a ver com amizade, e sim com a estrutura narrativa. Tem muita coisa que acontece na gravação sem estar previsto no roteiro. Como o encontro do Zeca com Rosa Maria, na Praia do Araçagi. Eu queria muito gravar ali, pois tinha feito um filme chamado “Cuidar nos terreiros” nesse mesmo bar. Espontaneamente, enquanto Zeca se preparava para a cena, a Rosa canta bem baixinho uma música de encantaria. A harmonia no set permitia improvisos, na hora conversei com o Zeca e ele topou que ela participasse com um trechinho no final da música “A Serpente”. Esse é só um exemplo, mas significativo, pois na primeira cena já apresentamos o que permeia tenuemente todo o filme, a música de raiz em São Luís, o bumba meu boi, o tambor de crioula e o tambor de mina, inspiração para muitos compositores de São Luís.
ZR – O filme foi gravado em duas semanas, em maio de 2019, e finalizado agora, a tempo de estrear na 13ª. edição do In-Edit Brasil. De que modo a pandemia interferiu no prosseguimento dos trabalhos? E qual a expectativa sobre a participação no festival, que acontece de modo online?
NB – A realidade da pandemia, que já acontece há mais de ano, afetou a dinâmica da pós-produção do “Ventos que Sopram Maranhão”, sobretudo devido ao impedimento de encontros presenciais e viagens para finalização, que foram realizadas em São Paulo. Tínhamos também a pós-produção do “Ventos que Sopram Pará”, que assino como coprodutor. Ambos farão parte da progamação do Canal Curta!. O Pará saiu na frente, foi filmado antes. Soma-se a tudo isso, a quantidade de horas de material bruto, a pesquisa feita na pós para trazer personagens que não foram filmados, as liberações das músicas e a busca por uma iconografia substancial. O lado bom é que o filme resultou numa estrutura bem madura, fruto de todo um trabalho de equipe. Sou muito grato pela dedicação do Zeca Baleiro, Renato Barbieri [produtor], Juliana Hadad [pesquisa e produção local – São Luís], Micaela Neiva [pesquisa e coordenação de produção], e Mylena Mandolesi [produção executiva] nessa fase [o time de pesquisadores se completa com Celso Borges e Samme Sraya, além de Zeca Baleiro e do próprio Neto Borges]. Eles participaram ativamente da construção do filme. Sou grato também pela colaboração dos músicos e aos fotógrafos que cederam seus acervos fotográficos, aqui registro em especial o Murilo Santos, Paulo Socha, Jorrimar de Souza, [Dreyfus] Azoubel, Beto Matuck, Marcio Vasconcellos, Paula Cinquetti, e ao Mavam [Museu da Memória Audiovisual do Maranhão] entre outros. A expectativa de participação no Festival é super positiva. Nesses últimos tempos o público se apropriou das redes sociais e das ferramentas oferecidas pela internet. O streaming já estava presente na cultura dos cinéfilos mesmo antes da pandemia. Creio que teremos um bom público.
ZR – O filme tem um recorte bastante abrangente da produção da música popular brasileira no Maranhão. O documentário tem essa pretensão de colaborar para a difusão desse cancioneiro, tornando-o mais conhecido como deve e merece? Ou esse é um fardo muito pesado para se carregar?
NB – Diria “desejo” no lugar da “pretensão”. Me sinto bastante feliz em poder realizar esse filme depois de anos de amorosidade com a música de São Luís. Na França eu fiz mestrado em Cinema Antropológico e Documentário e durante o curso sempre desejei fazer um filme sobre esse tema. Seria um fardo não ter realizado esse desejo, de mostrar o quão especial e único é o universo musical da Ilha. O processo de feitura de um documentário é sempre doloroso na hora das escolhas do material bruto, das possibilidades de narrativas e das escolhas das falas. Quando fazemos um recorte de um tema amplo como o da música maranhense, sempre ficamos sensíveis quanto à falta de personagens e gêneros musicais que não conseguimos incluir no filme.
ZR – Há algum nome que você gostaria que estivesse no filme e não conseguiu? Por quê?
NB – Primeiramente peço desculpas a Ronald Pinheiro, que teve um show filmado, mas tivemos problemas técnicos e decidimos não utilizar o material captado. Cesar Teixeira foi agendado, mas não pôde comparecer por motivos pessoais. Também sentimos falta de Antonio Vieira, Macarrão [o compositor Raimundo Makarra, ambos já falecidos], Norberto Noleto, Djalma Chaves, Beto Ehong, entre outros. Lopes Bogéa [compositor também já falecido] conseguimos trazer com a música “Balançou no congá”, interpretada por Nonato e Seu Conjunto, além da música “A gente e o mar”, interpretada por Rita Benneditto no final do filme. A necessidade de filmar em 15 dias e fazer uma agenda compatível não permitiu o encontro com outros grandes artistas como Giordano Mochel, Ubiratan Sousa e Alcione.
ENTREVISTA: ZECA BALEIRO
ZR – Desde o início de sua carreira você sempre atuou como uma espécie de embaixador da cultura maranhense Brasil e mundo afora. Sua escolha para âncora do documentário “Ventos que Sopram Maranhão” foi, a meu ver, natural. Com que sentimento você recebeu o convite e como foi o processo de gravação do filme?
ZECA BALEIRO – Rapaz, eu refuto esse título de embaixador cultural, porque coisas assim, mesmo à nossa revelia, podem ter um uso político, no pior sentido do termo, entende? Não quero ser embaixador de nada [risos]. Prefiro o argumento da paixão. Sou apaixonado pela música e pela cultura popular do Maranhão, tenho uma relação afetiva, visceral com a matéria do filme. Então, quando Neto me convidou, me pareceu irrecusável, mesmo estando ocupado com outros projetos à época. Mas logo bloqueei a agenda e embarquei na aventura. Foi muito prazeroso e “educador” o processo todo. É sempre bom ter as próprias ideias e opiniões confrontadas com as de outras pessoas, ouvir outros pontos de vista, outras narrativas, e isso aconteceu de forma harmoniosa e producente durante as gravações do filme.
ZR – O filme acaba abordando a produção de música popular por maranhenses ao longo dos últimos 50 anos através de jam sessions e entrevistas conduzidas por você. É curioso notar a tua própria presença nessa citada produção, já que, entre tantos artistas que comparecem ao documentário, você é parceiro, já gravou com ou forneceu repertório para a maioria absoluta, o que atesta o cargo de embaixador que te atribuí na pergunta anterior. Qual a sensação?
ZB – Rapaz, quero me demitir desse cargo [risos]. Eu sempre tive uma relação amistosa com os artistas do Maranhão, mesmo aqueles com os quais não tenho grande afinidade estética. Isso é uma postura de vida, não profissional. Afora as investidas furiosas de grupos tradicionalistas sobre o meu trabalho no início da carreira em São Luís – vide aquele Seminário da Amazônia na UFMA em 1990, em que quebrei meu violão e fiz um discurso violento –, não tive maiores confrontos. Então, isso fez com que eu me sentisse à vontade para entrevistar ou interagir com qualquer entrevistado. Eu sei que muita gente me considera menos maranhense por ter buscado o exílio, mas… como é isso? Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Alcione são menos maranhenses que você, que eu? Como se mede isso? A sensação que eu tive fazendo o filme foi de reencontro e de “pertencimento”.
ZR – Além de artistas e seus repertórios, o filme também coleciona belas paisagens de São Luís e um itinerário afetivo de locais onde se faz música, costumeiramente ou não. De algum modo isso te deixou mais à vontade, a te sentir mais em casa?
ZB – Eu me sentiria em casa de qualquer forma, mesmo que o filme fosse gravado na nova rica Península [risos]. O itinerário musical e boêmio que trilhei quando jovem não existe mais. Mas, sim, lugares como Chico Discos, Bar do Jair e Bar do Léo (que não entrou no filme por questão de logística) têm aquele sabor mítico da boemia ludovicense, e fico sempre à vontade nesses ambientes.
ZR – Uma coisa interessante na construção do roteiro é a não linearidade nem a hierarquização: não há juízos de valor sobre que artista, canção ou disco tem mais importância, nem se começa com os antigos para terminar com os mais novos. Além da época e das tecnologias, que diferenças e aproximações você aponta entre velha guarda do Laborarte e a jovem guarda da CasaLoca?
ZB – Sim, não há hierarquização nem cronologia linear. A única “rendição” a isso foi começar o filme com Chico Maranhão, espécie de patrono/pioneiro da música moderna do estado. Isso foi consenso entre mim e Neto Borges. O resto foi no fluxo, mirando o ritmo do filme, sempre com uma perspectiva cinematográfica, pois o cara é apaixonado por e formado no cinema. As diferenças de gerações, e da abordagem de cada geração, ficam bem evidenciadas no filme. As aproximações são inerentes, pois tanto o pessoal do Laborate como o da CasaLoca viveram/vivem no mesmo território geopolítico, por assim dizer. Mesmo que os tempos mudem, os anos passem, há coisas que não mudam na estrutura. O filme tem lacunas naturalmente. Se durasse cinco horas, ainda teria. Nossa música é vasta e diversa como se vê em poucos estados brasileiros. Mas sinto que temos um belo filme e um importante documento em mãos, até onde sei, inédito.
ZR – É impossível mensurar a trajetória de um filme, sobretudo antes de ele iniciar sua carreira em festivais, mas que contribuição você acredita que o documentário de Neto Borges dá para difundir a música popular brasileira produzida no Maranhão, tornando-a mais conhecida, como merece?
ZB – Acho que o filme lança uma luz bonita e poderosa sobre a música produzida no Maranhão, ainda pouco conhecida em território nacional. A cultura popular do Maranhão vem sendo descoberta gradativamente por jovens interessados, estudiosos e pesquisadores nos quatro cantos do país. Há hoje grupos de cacuriá e tambor de crioula em Curitiba, Rio, São Paulo, Brasília, ou seja, há alcance e interesse grandes que não havia antes. Isso deve acontecer com nossa música também. É que o processo é lento mesmo, demora. Também colabora o fato de a música maranhense ser muito abrangente, multifacetada. Ela não chega em bloco a outros recantos do país, como aconteceu com a música do Recife e de Belém em momentos recentes da História.
ZR – Toda lista é excludente. Alguma ausência sentida no filme? Se sim, por quê?
ZB – Ah, sim, algumas. Giordano Mochel, Ubiratan Sousa, Cesar Teixeira, Ronaldo Mota, [Zé Pereira] Godão, Riba de Palmares e as gerações novas de sambistas… Cesar e Ronaldo não dão depoimentos, mas suas músicas estão lá. Rita Benneditto idem, ela encerra o filme, mas não dá depoimento. As faltas se deram ou por questões logísticas ou porque a direção precisava “espremer” os assuntos, afinal a abordagem que Neto queria era a da diversidade. Uma exceção foi o caso do Ronald Pinheiro. Chegamos a gravar um show dele na Feirinha da Praça Benedito Leite, do qual participei, mas tivemos problemas no som, não deu pra usar. Outra coisa a se considerar: o enfoque do filme era a criação “autoral” restrita à canção, não contempla os instrumentistas, por exemplo. Os que lá estão, estão acompanhando compositores e intérpretes.
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Veja o trailer:
https://vimeo.com/564242716