Em tempos de negação do valor da ciência, de retorno a ideias empíricas, indemonstráveis, mistificadoras, não poderia ser mais oportuna a abertura da exposição Leonardo da Vinci – 500 anos de um gênio, no novo espaço MIS Experience, em São Paulo, neste sábado. Leonardo da Vinci foi o poeta da imaginação, um dos primeiros homens públicos a acreditar totalmente na capacidade do cálculo e da ciência, da experimentação e da abertura de fronteiras.
A mostra que se abre em São Paulo materializa em réplicas e estudos os projetos de Leonardo. Ele imaginou a bicicleta, o helicóptero, o submarino, o escafandro, o tanque de guerra. Visualizou máquinas portáteis de combate, protótipos de metralhadoras e canhões, pontes e a pintura de estados de espíritos femininos (o mais famoso deles, obviamente, a Mona Lisa). Tudo isso é esmiúçado com senso didático na gigantesca exposição imersiva que já vendeu, antecipadamente, 15 mil ingressos para a visitação. As peças de madeira, em tamanho compatível com os projetos e plantas desenhados por Da Vinci, maravilham logo na entrada.
As réplicas e o percurso da exposição foram abrigados num gigantesco galpão de 2 mil metros quadrados e 10 metros de altura que pertencia ao setor de marcenaria da TV Cultura. Reformado, refrigerado e dotado de equipamentos de projeção, luz e animação gráfica, o novo MIS Experience passa a fazer parte da gestão do Museu da Imagem e do Som. Tem capacidade de receber cerca de 1 mil pessoas por hora, e o investimento foi de R$ 8,5 milhões.
A exposição tem três grandes seções, concentrando 18 áreas temáticas. Quase todas as peças podem ser manuseadas e tocadas pelos visitantes, que serão acompanhados por 30 monitores a cada hora de visita (e mais 20 educadores para acompanhar escolas e visitas agendadas). O novo espaço expositivo já negocia com mais duas exposições de porte semelhante para suceder a de Da Vinci, que ficará quatro meses no Brasil (é produzida por uma empresa australiana com supervisão do Museu Da Vinci da Itália).
Leonardo da Vinci (1452-1519) era pintor e escultor na mesma medida que era engenheiro e cientista (geólogo, astrônomo, cartógrafo, entre outras atividades). Nascido em Anciano, perto da cidade toscana de Vinci, era filho ilegítimo de um notário, Ser Piero, e da camponesa Caterina. Adolescente, se tornou aprendiz de um mestre renascentista, Andrea de Cioni, conhecido como Verrocchio. Impressionou o mestre quando mostrou a ele sua pintura O Batismo de Cristo, que retrata um jovem anjo segurando as vestes de Jesus. Passava a superar o guru.
A mostra também inclui um exame detalhado da Gioconda, a famosa pintura Mona Lisa, hoje pertencente ao acervo do Museu do Louvre de Paris. O estudo foi realizado por Pascal Cotte, engenheiro, fotógrafo e pesquisador, e detém-se em detalhes do uso da cor, dos elementos de cena, da construção do personagem e também no mistério da sua identidade. Qual teria sido a Lisa que inspirou Da Vinci? Ao final do percurso, um quadro do cartunista Mauricio de Sousa, a Mônica Lisa, embaralha ainda mais essa questão.