Alguns elementos que chamam atenção na entrevista de ontem da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, ao entrevistador Jô Soares, em seu programa das madrugadas da Rede Globo:
* “É pra ver se você me corrompe logo de cara?”, pergunta o entrevistador, diante do presente que lhe traz a ministra (um CD em que a agente política se apresenta como cantora e compositora). O início é quente, rude. A entrevista promete.
* “A próxima vez eu venho pra cantar, mas hoje, não, a próxima. Quando eu deixar de ser ministra…”, ela diz em seguida, explicitando que não tinha tido ainda a ocasião de se divulgar como artista no programa-vitrine global. “Adoraria”, ele reage, dissimulando convite que não parece ter feito antes de a artista virar ministra. O clima continua quente.
* Bem no início, Jô levanta, com propriedade, a hipótese de fundo machista por trás dos ataques à ministra (ou ao modo como são operados, ou ao grau de ferocidade com que são movidos, ou sabe-se lá). No resto do tempo, afirma repetidas e insistentes vezes que Ana de Hollanda é uma “moça bonita”.
* Mesmo gozando do privilégio de entrevistar ministra frequentemente inacessível à imprensa, Jô lança farpas públicas à relação de bastidor entre as duas figuras-instituição, ministra da Cultura & entrevistador da maior emissora de TV do Brasil. Ele reclama de ter tentado entrevistá-la antes, sem sucesso: “Não tive acesso.” Deixa nas entrelinhas que algo mudou, para que o acesso de repente surgisse. Tempo quente, mas o último da entrevista toda.
* De resto, a entrevista seguiu por quase 40 minutos absolutamente gelada, sem atrito, sem pressão, sem confronto. Assuntos quentes e delicados só foram citados de modo editorializado por Jô – ou seja, para defender alguém que, aos olhos do defensor, parece parecer indefesa.
* “Essa moça precisa ser defendida de qualquer ataque que possa vir, porque ela merece”, disse o Jô, colocando a esdrúxula afirmação com prescrição futura na boca de outro personagem. Que muitos dos ataques à atual titular do MinC antecederam a posse (e, portanto, ao trabalho da cantora como ministra), é fato. Mas contrapor a esse abuso uma também abusiva blindagem futura, por quê?
* Nenhuma, absolutamente nenhuma referência às pautas mais explosivas do MinC 2011, direitos autorais por exemplo. Absolutamente nenhuma menção ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), inimigo íntimo histórico da Rede Globo, contra o qual o jornal do conglomerado vem (vinha?) movendo intensa campanha de denúncias.
* Referências ao ego agigantado dos músicos, sim. Referências à flexibilização e/ou endurecimento da proteção aos direitos autorais dos egoicos músicos (aí incluída a ministra), nenhuma.
* “Os ricos também têm direito à defesa”, cita Jô, para observar que “a ‘famosa’ Maria Bethânia também tem direito à lei”. “Rico” = “famoso”?
* Quantas expressões eloquentes da ministra diante dos sucessivos discursos defensivos de fala pastosa (especialmente pastosa) do apresentador.
* A fala pastosa do apresentador, somada à temperatura gélida da entrevista, faz lembrar algo que, nos jargões de bastidor do jornalismo, costuma ser conhecido pela alcunha de “OP”. O significado da sigla é controverso, mas remete diretamente a “ordem do patrão”? Estaria o apresentador falando por voz própria, ou estaria ele cumprindo uma “OP”?
* FAROFAFÁ gostaria de saber: quanto orgulho e confiança lhe inspira a atual ministra da Cultura deste Brasil? Coloca seu pertence-opinião nesta farofinha, na caixa de comentários que mora aqui à direita, por favor?
não tive coragem de ver o video. a chocha da Ana mais o fofo do Jô reunidos é demais pra mim. ainda mais depois que fiquei sabendo que o Jô foi extremamente agressivo (e homofóbico) com a Maria Berenice Dias dias antes (segunda?). Ana não me inspira nada (e teve uma sorte da porra com Palocci e afins).
OP, nas redações onde trabalhei, era “reco” (de “recomendada”).
Achei especialmente bizarro qnd ele falou algo do tipo “Ana, vc vai ficar com a gente no 2o. bloco, pq não é sempre que tenho a chance de entrevistar uma ministra tão linda” Pô, ela estava lá como uma agente do governo! Cadê o profissionalismo (dele e dela)???
Quem é a Maria Berenice, Dafne? (perdão pela ignorância…)
“Reco” é eufemismo dos eufemismos, né, Marcos? Que quando patrão “reco”menda, ai de tu se disser que vai não, quer não, pode não…
Fernanda, 101% machista o Jô, né?, também achei geral. Pegar Ana de Hollanda pela beleza, inclusive, é um jeito bem sonso e insidioso de colocar em dúvida outras qualidades dela.
Aliás, não é com essas segundas intenções que em geral homens insistem em demarcar a belezura e a gostosura das mulheres? E quantas caem na lábia, historicamente?…
também não conhecia a Maria Berenice Dias até o começo da semana, mas parece que é uma pessoa importante no ramo, conhecida. segundo a wikipédia, “Maria Berenice Dias é advogada especializada em Direito de Famílias, Sucessões e Direito Homoafetivo, é desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é Presidenta da Comissão Especial da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB e Vice-Presidenta do IBDFAM”. tá no twitter como @mberenicedias e pelo que ouvi falar o Jô foi bem escroto com ela, quando o assunto foi homofobia; o video tá aqui http://youtu.be/qEaYcSaSj7Q mas não tenho coragem…
Olá Pedro!
Antes quero dar parabéns pelo site, já devidamente nos favoritos.
Vi a ministra falar pela primeira vez nesta entrevista e ela me causou uma péssima impressão. Desarticulada, desatualizada e aparentemente incapaz de gerir o Minc. Torço para que caia logo.
Um abraço