“Khletxaká”: cantar a força do encontro

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"Khletxaká" - capa/ reprodução
"Khletxaká" - capa/ reprodução

No mais recente aniversário da invasão portuguesa, 22 de abril, chegou às plataformas digitais “Khletxaká” (lê-se klétiaká), que significa “cantar” em yaathe, língua materna e pilar da identidade do Povo Fulni-Ô — o álbum marca o encontro dos cantadores desta etnia com os mestres e mestras de cultura popular agrupados no coletivo Ponto BR, consagrado pelos álbuns “Na eira” e “Trancelim”.

A sonoridade de “Khletxaká” é permeada por elementos afro-indígenas, costurados por ritmos da cultura popular como coco, ciranda, maracatu e tambor de mina. Entre os integrantes do Ponto BR estão o pernambucano Mestre Walter França (voz, alfaia, cabaça, ganzá, matraca), do Maracatu Raízes de África do Recife, e a maranhense Mestra Zezé de Iemanjá (voz, ferro e cabaça, matraca), da Casa Fanti Ashanti.

O grupo se completa com Mestre Ribinha de Maracanã (voz, maracá e ganzá), Eder “O” Rocha (bateria), Henrique Menezes (voz, batá, pandeirão, maracá, cabaça, caixa do divino, ganzá, tamborim, ritinta), Thomas Rohrer (rabeca, saxofone soprano e ranckett) e Renata Amaral (voz, contrabaixo, direção artística e musical; ela assina ainda a direção geral, com Tâmara Jacinto).

As vozes e maracás do Povo Fulni-Ô são de Txacumaiá Fulni-Ô (Aritana Veríssimo, produção artística), Tyase Fulni-Ô (Yoran Verissimo), Thulni Fowá Fulni-Ô (Lenildo Marques), Fitxyá Fulni-Ô (Francisco Ribeiro), Sawê Fulni-Ô (Lenildo de Matos), Lefesaka Fulni-Ô (Leone Lúcio de Sá), Fowá Fulni-Ô (Jaelson Veríssimo) e Taxiá Fulni-Ô (Ramon Quintas).

Gravado no Estúdio 185, “Khletxaká” é uma realização de Acervo Maracá e Onã Cultural, com produção executiva de Aline Fernandes e Tâmara Jacinto e produção musical, mixagem e masterização de André Magalhães. O design gráfico e capa são de Andréa Pedro.

A ponte Pernambuco-Maranhão (estados de origem da quase totalidade dos integrantes do Ponto BR) é ampliada em “Khletxaká”: o povo Fulni-Ô é um grupo indígena que habita próximo ao rio Ipanema, em Águas Belas/PE, e também no Santuário dos Pajés, no Distrito Federal; conforme o último censo do IBGE, são cerca de oito mil indígenas pertencentes ao povo Fulni-Ô, que, apesar de ter conseguido manter viva parte de sua cultura milenar (incluindo sua língua materna), ainda não possui território demarcado.

“Esse trabalho é um marco, significa um elo muito potente entre os povos. Quando a gente canta para a ancestralidade, a gente está mexendo com essa força positiva que cuida de todo ser humano”, afirma a mestra Zezé Menezes (Zezé de Iemanjá).

“Conseguimos fazer um encontro onde podemos cantar a nossa língua, junto aos mestres, que enaltecem seus ancestrais. Fazer elo, promover unificação, isso é importante, o mundo, o Brasil precisa disso”, completou Aritana Veríssimo.

Suas falas sintetizam o que ouvimos no álbum: “Khletxaká” é festivo, dançante, agradável a ouvidos, mentes e corações mais curiosos, este sim o descobrimento que o Brasil (ainda) precisa: (se) reconhecer (n)a música de talentos que não têm sobre si todos os holofotes possíveis, necessários e merecidos, mas cuja mensagem é de afirmação da vida, entre as relações com a natureza, de alteridade (desde o encontro dos grupos, tão bem representado na capa do álbum) e o sagrado e simbólico, traduzidos no amor à arte, especialmente à música e à cultura popular.

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Ouça “Khletxaká”:

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