A ruína do tempo em David Lynch

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Cena do filme "Veludo Azul", de David Lynch

O estilo dos filmes de Lynch é amplamente moldado pela sua relação singular com o tempo, e pelo fato de não ser fiel à precisão histórica no que se refere aos períodos estilísticos. Em seu mundo, a América é como um rio que fui sempre adiante carregando bagatelas de uma década para outra, onde se mesclam e confundem as linhas divisórias que inventamos para marcar o tempo. Veludo Azul transcorre em um período indeterminado em que o tempo ruiu em si mesmo. No Slow Club, onde Dorothy Vallens se apresenta, ela canta em um microfone antigo, da década de 1920, e sua casa no Deep River Apartments parece o set art déco dos anos 1930 em A Ceia dos Acusados. Mas há uma televisão dos anos 1950 com uma antena em V. Arlene’s, o restaurante de Lumberton onde Jeffrey e Sandy conspiram, também evoca a década de 1950, mas a orelha furada de Jeffrey e as roupas de Sandy são claramente dos anos 1980. Sandy – ostensivamente uma adolescente dos anos 1980 – tem um cartaz de Montgomery Clift na parede do quarto, e pelas ruas de Lumberton trafegam carros americanos clássicos. O estilo visual de Lynch é despreocupado em certos aspectos e, no entanto, cada fotograma está carregado de intenção e significado.

KRISTINE MCKENNA, em Espaço para Sonhar (Editora BestSeller, 2019)

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