40 anos depois Robinson Borba volta ao disco

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"Cauda da Galáxia" - capa/ reprodução
"Cauda da Galáxia" - capa/ reprodução

Os menos atentos a fichas técnicas de discos podem não lembrar, mas Robinson Borba produziu Clara Crocodilo, o hoje cultuado álbum de estreia de Arrigo Barnabé. O resto é história.

Em 1984 era a vez de o próprio Borba estrear no mercado fonográfico: Rabo de Peixe e Peter Pan… K! – disponíveis nas plataformas de streaming – eram ao mesmo tempo uma coisa só e coisas diferentes, como ele se/nos lembra em entrevista exclusiva ao FAROFAFÁ. Do trabalho, “Mente, Mente” foi regravada por Ney Matogrosso em 1986.

40 anos depois, o músico e engenheiro acaba de lançar Cauda da Galáxia, seu segundo álbum solo, com produção de Ricardo Prado e Tatá Aeroplano, em que registra composições que estavam na gaveta.

Descobertas as afinidades entre Borba e seus produtores – e os músicos que se somaram às gravações – Cauda da Galáxia foi gravado no estúdio Canto da Coruja, em Piracaia. As bases foram gravadas ao vivo, o que garante unidade a um álbum que passeia por diversas fases do artista e diferentes gêneros musicais ao longo de suas nove faixas.

Cauda da Galáxia é um lançamento independente com distribuição da Tratore, disponível em streaming e vinil.

O cantor, compositor e engenheiro Robinson Borba - foto: divulgação
O cantor, compositor e engenheiro Robinson Borba – foto: divulgação

ENTREVISTA: ROBINSON BORBA

ZEMA RIBEIRO: Antes de a gente entrar em Cauda da Galáxia, é inevitável a gente voltar ao Clara Crocodilo. Você produziu o álbum e, como produtor, acompanhou mais de 200 shows de Arrigo Barnabé. Eu queria começar por tuas lembranças desse período e quais as maiores dificuldades em produzir um álbum hoje tão cultuado.
ROBINSON BORBA: Realmente o Clara Crocodilo foi um desafio, não só para mim, quanto para o Arrigo também. O Arrigo nunca tinha gravado assim um disco, um álbum, tinha feito gravações com as músicas do festival da TV Cultura que ele tinha participado e gravou em estúdio com a banda que tinha participado do festival da TV Cultura, em 1979. Em 1980 a gente produziu Clara Crocodilo. Pensando nas dificuldades, bom, a grande dificuldade foi que nem eu nem o Arrigo tínhamos entrado em estúdio para gravar um disco, um álbum inteiro, com as músicas do Arrigo, e a gente foi, procuramos, houve uma oferta do nosso estúdio, eu não lembro mais como é que foi, que era o estúdio do pessoal aqui da Pompeia, da Avenida Perdizes, o pessoal colocou à disposição o estúdio que a gente iria pagar para gravar as músicas que o Arrigo tinha para o Clara Crocodilo. As músicas eram as músicas que o Arrigo já tinha composto, já tinha umas ideias esboçadas, aí houve uma preparação antes de entrar em estúdio, que foi fazer algumas apresentações ao vivo em alguns lugares aqui em São Paulo. Começamos com a apresentação da banda Sabor de Veneno no auditório Caramelo da FAU [Faculdade de Arquitetura e Urbanismo], onde o Arrigo tinha estudado, já tinha alguns amigos e se propuseram a produzir um show. Então foi assim, desse caminho de apresentações ao vivo que nós partimos pro estúdio. Mas nós nunca tínhamos gravado em estúdio as músicas, nem eu como produtor, nem o Arrigo como músico, como arranjador e com a banda, tínhamos essa experiência. Alguns dos músicos já tinham experiência de gravar em estúdio, mas a maioria, não. E nós fomos pro estúdio da Teresa Sousa e Walter Santos, que era o Nosso Estúdio, chamado Nosso Estúdio, esse estúdio é bem conhecido porque foi lá que o Hermeto Pascoal gravou, a Rita Lee (1947-2023) tinha gravado nesse estúdio também, e a Teresa Sousa trouxe a ideia de gravar ao vivo, como se [fosse uma] apresentação, como tinha feito a Rita Lee com o disco dela inicial, acho que é o primeiro disco dela depois que saiu dos Mutantes. Só que com essa ideia nós partimos para a gravação do Clara Crocodilo. E foi uma experiência meio frustrante, gravar ao vivo era impossível, as músicas, aqueles arranjos eram bem complicados, muito elaborados, os músicos tinham pouca experiência e as músicas para gravar ao vivo era muito difícil, em estúdio, porque estúdio tem aquela presença do estúdio, você tem uma responsabilidade maior, os técnicos, o Marcus Vinicius também, que era um técnico conhecido, já tinha gravado com Caetano [Veloso] e tal, e o pessoal falou: “olha, gravar ao vivo não dá, vamos ter que gravar como se faz tradicionalmente, faz gravação da base, arranjo de baixo, bateria, guitarra, e aí coloca”, porque tinha os metais, eram parte importante, os teclados, tudo isso era parte do Clara Crocodilo e tudo muito elaborado, algumas coisas escritas, outras com os músicos que tinham feito ao vivo em shows. Então foi isso, foi um grande desafio, nossa dificuldade, eu como produtor, foi colocar todas aquelas ideias, atonais, dodecafônicas, com os músicos inexperientes, e a gente fez com muito sangue, suor e lágrimas [risos], mas saiu uma coisa bem interessante. Aliás, um resultado que até hoje eu me admiro: como é que a gente conseguiu fazer aquilo tudo com a pouca experiência que nós tínhamos?

ZR: 40 anos separam Cauda da Galáxia de Rabo de Peixe e Peter Pan…K!, teus primeiros álbuns, ambos lançados em 1984. Por que a demora?
RB: Realmente, o Rabo de Peixe e o Peter Pan…K!, que foi o primeiro disco, de 1984, eu parti de uma coisa, já estava mais ou menos, trabalhei muito com músicos, eu tinha em casa um estúdio, um home studio, e eles fizeram comigo os arranjos, eu trazia umas ideias, especialmente pro Peter Pan… K!, que é o Peter Pan… K! [enfatiza o K], que era uma ideia de uma ópera rock teen, foi para isso que nós ensaiamos. Eu tinha em casa um estúdio, um quartinho que tinha sido de despejo, chamado quarto de empregada, que era minúsculo, e eu dei uma isolada e fui lá, me reunia com os músicos contratados para fazer essa pesquisa, fazer o trabalho de arranjo das músicas, que eu trazia mais ou menos mastigadas já as ideias das músicas. Então o Peter Pan… K! foi feito assim e o lado do vinil era o Rabo de Peixe. A ideia assim, foi fazer um disco, seria como eram aqueles discos antigos, de histórias infantis, dum lado A Gata Borralheira, do outro lado Peter Pan ou Gato de Botas, então seria um disco com duas ideias diferentes, uma ideia Rabo de Peixe, que eram músicas que no disco estariam sendo gravadas independentemente, com músicos diferentes, eu já tinha tido um contato com os músicos no Clara Crocodilo, como Tavinho Fialho (1960-1993), Duda Neves, Bozo Barretti, os músicos, Bocato, os metais, e eu fiz essa gravação, com eu cantando as músicas e mais a Carla Gulu e a Cristina Borba, minha esposa, que fizeram os backing vocals, então foi assim um trabalho voltado para dois discos diferentes. Rabo de Peixe, músicas que eu já tinha feito em Londrina, Curitiba, nos anos 1970, e que eu resgatei para fazer esse lado do disco, que eu chamo assim um lado pé vermelho, me referindo a Londrina, Curitiba, e Peter Pan…K! eu fiz mais inspirado com a minha experiência aqui como produtor do Clara Crocodilo, com aqueles vocais, mas aqui contando uma história contínua, que era uma versão da história do James Barrie (1860-1937), que é Peter Pan e Wendy, e eu fiz uma versão mais assim rock, pop, com influências do punk rock, do metal. Então foi isso. A demora foi dinheiro simplesmente. O dinheiro já não estava mais, eu não tinha mais a tranquilidade que eu tive para produzir o Rabo de Peixe e o Peter Pan… K! com meus recursos que estavam minguados, enquanto que o Clara Crocodilo eu ainda tinha o suficiente para produzir independente, foi uma produção meio cooperativada, mas todos os músicos receberam, os estúdios, foram todos pagos com meus recursos. E no caso de Rabo de Peixe e Peter Pan… K! foram discos gravados com dinheiro meu mesmo, próprio, e algumas coisas. Demorou para sair 40 anos, porque eu tive que trabalhar esse tempo todo para conseguir recursos para fazer a gravação de novas músicas, que agora com o Cauda da Galáxia concretiza-se.

Robinson Borba, Ricardo Prado, Tatá Aeroplano e o cachorro Reggae - foto: divulgação
Robinson Borba, Ricardo Prado, Tatá Aeroplano e o cachorro Reggae – foto: divulgação

ZR: Ricardo Prado e Tatá Aeroplano são, com você, os produtores do novo álbum. O Tatá usa uma metáfora muito interessante para sua própria produção, que é a do pequeno produtor, uma coisa artesanal, em contraponto ao agronegócio da música. Você também se considera esse pequeno produtor, esse agricultor familiar da música?
RB: [risos] Interessante essa comparação com o agronegócio da música. É o empreendedorismo cultural, uma coisa já muito usual nos países desenvolvidos, que existe empreendedorismo na arte, na cultura, e é interessante mesmo, porque você pode comparar mesmo com esse lance do pequeno produtor, o cara que cultiva um pouquinho da sua terra para produzir alimentos para sua própria família ou para vender. Pode ser uma comparação interessante. E Ricardo Prado e Tatá foram meus parceiros na produção, cada um com uma especificidade maior, o Prado com seu estúdio lá em Piracaia, e o Tatá quase meu vizinho aqui na Pompeia, a gente conversava muito sobre como fazer um novo disco, fiz uma oficina inclusive com o Tatá, que eu achei sensacional, apesar de ter a minha experiência como produtor, os tempos eram outros, a da produção independente na época que também existia a Lira Paulistana, que concentrava algumas pessoas. No caso do Clara Crocodilo era uma produção independente minha, assim, com o Arrigo, fazendo a produção, o Arrigo também era um empreendedor do lado de juntar os músicos e trabalhar com ele essa parceria.

ZR: Eu quero te ouvir sobre estes encontros: como você conheceu o Ricardo e o Tatá e como estabeleceram essa relação de trabalho?
RB: O Ricardo Prado eu conheci já há algum tempo. Antes do Cauda da Galáxia eu comecei a produzir outro trabalho, que ainda é um trabalho inédito. Um amigo meu, que também é de Londrina, falou: “olha, tem um estúdio lá em Piracaia que é muito legal, numa área rural, eu acho que você vai gostar”. Como eu estava nessa vibe de fazer uma coisa mais de inspiração rural, que eu chamo de rock caipira, eu comecei a produzir lá no estúdio de Piracaia um novo trabalho, que ainda é inédito, com umas músicas mais para esse lado caipira, meio sertanejo, um neo-caipira, uma coisa assim. Foi daí que eu ouvi falar do Prado, e fui lá conhecer o estúdio dele e a gente produziu lá mesmo, com esse amigo meu, Emílio Mizão, e foi assim que eu fiz uma relação mais próxima com o Prado. E o Tatá eu participei de uma oficina que ele fez sobre produção de música independente, divulgação, eu achei o Tatá sensacional, as ideias dele batiam muito com as minhas e eu conversei com ele: “olha, estou com umas músicas, outras músicas, não essas caipiras, mas outras músicas que eu estou a fim de produzir e você, acho que é a pessoa mais indicada para me ajudar nesse trabalho, nessa empreitada musical”. E eu conversei com o Tatá e ele também falou do Prado: “olha, a gente podia fazer”, eu falei também que já conhecia o Prado, “ah, legal, então vamos conversar com ele, vamos ver o que dá para fazer”. Aí ele já trouxe o Prado e a gente começou a conversar sobre as músicas e foi gozado porque nessa época também, logo no começo, quando a gente começou a ver com o Prado a produção, tive uns problemas de saúde, tive que me ausentar um pouco, mas eu gravava as músicas no estúdio caseiro e mandava pro Prado e pro Tatá e eles começaram a desenvolver com os músicos que o Tatá tinha sugerido e o Prado também, que eram o Guilherme Kastrup na bateria e percussão e o Estevan Sinkovitz nas guitarras e violões, e assim que a gente se encontrou e começamos a conversar como é que seriam essas gravações.

ZR: Você está escoltado por Ricardo Prado (baixo, samplers e teclados), Guilherme Kastrup (bateria e percussão), Estevan Sinkovitz (guitarra e violões) e Guilherme Guizado (trompetes), além dos vocais de Malu Maria, Cris Borba, Bruna Lucchesi, Tatá Aeroplano e Guilhermoso Wild, todos nomes de destaque na cena contemporânea, que tocam com meio mundo de gente. O que tem chamado tua atenção entre os mais jovens?
RB: Eu acho que todos procuram uma identidade, ninguém está a fim de copiar nada, trazem novas ideias e isso foi muito importante para mim, porque os músicos da base, que fizeram também os arranjos coletivos, Ricardo Prado, Guilherme Kastrup, Estevan Sinkovitz, depois também o Guilherme Guizado, que eu convidei para fazer uns trompetes, e as vocalistas, os vocalistas, que foram a Malu Maria, que eu tinha conhecido aqui na Pompeia, do Teatrinho do Quarto Mundo, ela que dirige esse teatro lá na Pompeia, na Vila Romana, a Cris Borba que é minha esposa também, já tinha participado das gravações do Rabo de Peixe, a Bruna Lucchesi, que eu vi num show, achei incrível, estava fazendo umas músicas do Paulo Leminski (1944-1989), o Tatá, que eu já tinha visto vários shows e participado da oficina de produção, e Guilhermoso Wild, que eu vi um show, achei muito legal a performance dele, meio teatral, ele é um ator, é músico, cantor, tem umas músicas interessantes, são da cena contemporânea da música popular aqui pelo nosso bairro. E eles tocam com bastante gente, se apresentam muito, especialmente o Tatá, tem uma diversidade de trabalhos, com vários músicos, compositores da região. O que me chama atenção é a vontade, a necessidade de independência criativa. Isso aí é que eu me identifiquei, eu achei legal, achei que isso é um fator muito positivo nesse momento da cultura, da música popular brasileira. É a grande característica que todos compartilham, acho que esse é o principal elemento que faz esse amálgama da produção independente, hoje para mim, isso é o importante.

ZR: Eu gostei bastante da capa de Cauda da Galáxia. Vamos falar um pouco dela: de quem é? Como foi a concepção?
RB: Isso é interessante você notar, a capa de Cauda da Galáxia é um trabalho da Flora Rebollo, é um trabalho que ela já tinha, o que me chamou a atenção, ela é amiga da minha filha, companheira de escola, e a minha filha, Rita Vidal, disse: “olha, você precisa falar com a Flora, ela tem um trabalho interessante”. Eu já conhecia a Flora, ela circulava, a Rita estudou com ela no Colégio Equipe e eu fui atrás de uma exposição que ela criou, eu achei muito interessante, me atraiu muito o nome, que era Ansiedade Cósmica, a exposição da Flora. Um trabalho sensacional [enfatiza escandindo as sílabas] da Flora como artista plástica. Ela tem um trabalho assim realmente muito importante. E se você perceber, essa capa da Cauda da Galáxia é uma pintura, é uma obra dela. Quando eu fui falar com ela, falei: “olha, Flora, eu achei interessante o seu trabalho”. Ansiedade Cósmica é uma exposição com inclusive pinturas, quadros assim grandes, de dois metros por dois, um trabalho assim realmente muito bom. E eu falei: “gostaria de ter um desses trabalhos ilustrando meu disco, estou fazendo um álbum”. Ela gostou da ideia. Falou: “olha, eu tenho algumas lá no meu ateliê que eu poderia disponibilizar para você, você pode escolher, o que você gostar, tiver identidade com a música que você está fazendo, que está nesse disco, nesse álbum”. Então a concepção foi dela [risos], já existia, ela já tinha feito o quadro. Eu fui ver o que ela me colocou, disponibilizou, e eu escolhi essa, que faz parte. Mas ela tem um trabalho sensacional, Flora Rebollo acho que vai acontecer como artista, é um talento muito bom, realmente impressionante o trabalho dela, de arte. Se você notar o detalhe da capa você vai perceber que é uma pintura mesmo, você percebe as pinceladas, que tem a ver com galáxia, Ansiedade Cósmica, esse caminho da galáxia, que é uma busca, e ali você está assistindo uma concepção, quase como se estivesse assistindo o nascimento do universo, a galáxia como um proto-universo. Então é isso aí, é muito bonita a obra dela e eu achei que tem tudo a ver com a música, com o trabalho, com a proposta desse meu trabalho.

ZR: A composição das faixas do álbum é inteiramente solitária. Elas já estavam na gaveta ao longo deste hiato de 40 anos ou teve coisa preparada já pensando no disco, depois da ideia de gravá-lo e lançá-lo?
RB: As composições praticamente todas já existiam, já eram um trabalho que eu tinha feito nos anos 1980, 90, e estavam assim já praticamente compostas. As músicas [lista na sequência em que aparecem no disco] “Cauda da Galáxia”, “Café Com Menta”, “Riacho”, “Marta Asterisco”, “Última Vez”, “Bruxa Roxa”, “Manhã de Sol”, “Pobre Garota” e “Thortox”, todas já eram compostas, não foram feitas especialmente para o álbum, e foram feitas nos anos 1980 e 90. Praticamente todas nessas duas décadas. Eu estava sempre aqui em São Paulo, viajando, dei aula em Curitiba, trabalhei em Londrina, e eu estava assim nessas viagens, tinha umas ideias, anotava, ia pensando em gravar, uma hora eu vou ter que resolver essa parada e gravar. Então já estavam na gaveta, como você falou, mas eu não estava pensando no disco ainda, estava só pensando na música. Quando eu resolvi gravar, eu enviei para o Prado e o Tatá as músicas e o Prado desenvolveu os arranjos, foram arranjos desenvolvidos pelo Prado, o Kastrup e o Estevan, e o Guilherme Guizado que depois entrou com os trompetes em quatro músicas. E os vocais foram criados agora, praticamente durante a gravação, a gente foi fazendo, criando esses vocais.

ZR: O álbum chegou às plataformas de streaming e sai também em vinil. Você tem preferência por formato/suporte na hora de ouvir música?
RB: Olha, eu ouço, estou sempre ouvindo música, especialmente quando eu falo assim, as músicas dos álbuns que eu tenho, eu gostava muito de ouvir as músicas do T-Rex, David Bowie (1947-2016), Rolling Stones, Beatles, Caetano, Gilberto Gil e por aí vai, fora as que eu produzi, Clara Crocodilo, que eu estou sempre ouvindo, eu produzi um compacto também com a Tetê Espíndola, Londrina (1981), e estou sempre ouvindo no vinil. E no streaming também, estou sempre ouvindo, especialmente, assim, eu também ouço, Tatá, por exemplo, que o Tatá tem vinil, ouço no vinil e ouço no streaming. Saiu no streaming, eu estou ouvindo, depois, se der, eu vou ouvir no vinil, porque o vinil tem uma qualidade de reprodução melhor. Só que para ouvir no vinil você tem que ter um bom toca-discos, umas boas caixas, nos dois, streaming ou vinil, você tem que ter caixas de som boas. A vantagem do streaming é que você ouve em headphone, então no headphone a qualidade fica mais fácil de perceber. Mas o vinil tem uma sedução pelo formato, uma nostalgia, que é uma coisa do modo de produção e do formato que você colocou, disponibilizou. Na internet eu acho que tudo perde um pouco o valor disso, vai ouvir, não tem a qualidade assim que tem o vinil em termos de resposta de graves e agudos com melhor qualidade.

ZR: Ainda sobre o hiato, este período ao qual você se dedicou quase completamente à engenharia e menos à música: com o lançamento de Cauda da Galáxia você pensa em uma retomada da carreira artística, no sentido de encarar estrada e shows?
RB: Realmente estradas e shows, a grande dificuldade, eu sou um songwriter, como diz o Bob Dylan, por exemplo, é um songwriter, você para pegar uma estrada, com uma banda, para colocar, viajar e conseguir fazer a retribuição profissional dos músicos, é um dinheiro bom, você tem que ter um fundo de caixa para você poder fazer isso, sem incentivos, leis de incentivo, essas coisas, é muito difícil fazer, pegar uma estrada, fazer shows. É uma delícia quando você tem condições, suporte financeiro, umas coisas que você vai precisar. Os músicos não podem dividir, ah, e mesmo eu preciso, mesmo que eu tenha interesse em divulgar minhas músicas. Viajar, botar o pé na estrada com uma banda, não é para os fracos, tem que ser muito poderoso. A gente sempre dá vontade, pensa, está tentando. Eu tenho feito algumas em Londrina, que é minha cidade, então lá eu tenho, às vezes, um lugar para ficar, se for levar os músicos, dá para negociar, fazer algumas coisas com alguns amigos, parentes, mas a minha intenção, agora, no momento, é registrar essas minhas obras. Como eu ainda tenho músicas inéditas, tem meus trabalhos, como aquele que eu falei que comecei a fazer lá no estúdio em Piracaia, com o Ricardo Prado, mais voltados à música caipira, sertaneja, não sei como é que se poderia chamar, country, né? Eu tenho essa vontade de fazer um trabalho autoral, continuar fazendo um trabalho autoral com outras músicas, com mais músicas. Agora, no momento, esse é o meu investimento na minha obra, fazer essa coisa, eu tentei caprichar ao máximo na produção do álbum, como você disse, ficou bonita a capa, o interior, está tudo, até um detalhe, minha filha falou: “pai, você tem um trabalho também”, eu gostava de desenhar, fazer uns desenhos, mas bem, não é a Flora Rebollo, são coisas minhas, de brincadeira, eu fazia caricatura do Arrigo, fazia minha, a gente fazia, estava sempre brincando com essas coisas. Eu acho que a música, para mim, funciona assim: eu tenho um trabalho de música, de compositor, para mim é a poesia que vem, eu sou um poeta, e gostava muito de acompanhar a poesia concreta, Augusto de Campos, Décio Pignatari (1927-2012), Sousândrade (1833-1902), e todo esse pessoal, Augusto dos Anjos (1884-1914), tudo isso para mim é informação, de poeta. E transformar isso em música é consequência da poesia. Então, para mim, eu sou um songwriter, estou sempre escrevendo. E por o pé na estrada, com meu violão, tudo bem, e também não é fácil, você pegar, você tem que estudar, ficar tocando, fazendo. E com a banda é muito difícil, uma banda, por menor que seja, músicos acompanhando, você tem uma responsabilidade, precisa botar o pessoal na estrada sabendo que isso vai ter todo um custo que alguém tem que assumir, então é muito difícil eu pensar em fazer show com a banda se não tiver um patrocínio, um apoio, uma lei de incentivo. A gente está trabalhando nisso também, mas não é uma coisa muito fácil, tem milhares de pessoas, de grupos, de músicos, com trabalhos excelentes, no país inteiro, o país é um país musical, tem muita coisa boa, então a gente espera que uma hora dê para fazer, pegar e botar o pé na estrada, mas por enquanto a gente tem esse Cauda da Galáxia, que ficou muito legal o disco, um vinilzão, bonito, pensado para deixar essas músicas no luxo, no capricho.

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Ouça Cauda da Galáxia:

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