Depois de 470 anos, Rio abriga uma nova Confederação dos Tamoios

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"O último Tamoio", tela de Rodolfo Amoedo, de 1883

Um encontro inédito de mulheres indígenas, anciãs, lideranças Tupinambá, representantes dos povos Baniwa, Pataxó, Potiguara e outros grupos étnicos está evocando, durante todo o mês de agosto, no Rio de Janeiro, a revolta histórica dos povos originários contra os colonizadores do século XVI denominada Confederação dos Tamoios. Entre 1554 e 1567, a Confederação dos Tamoios foi uma rebelião dos povos indígenas liderada pelos caciques Tupinambá Aimberê e Cunhambebe que se insurgiu contra a escravidão e os maus tratos inflingidos pelos colonizadores portugueses. Dessa vez, as lideranças são mulheres e o levante está centrado na formação de um conselho e de rodas de reflexão, com a presença das seguintes autoridades: Cacique Jamopoty Maria Valdelice (BA), Cacique Catarina Tupi Guarani (SP), Mestre Mayá Maria Muniz (BA), Cacica Kawany Lurdes (MG), Fernanda Kaingáng (RS, do Museu Nacional dos Povos Indígenas), Neuza Kunhã Takuá (RJ), Milena Raquel Tupinambá (PA), Neide Tupinambá (MA), Japira Pataxó (BA) e Kalin Morgana (RJ).

O ápice do encontro será na quarta-feira, dia 21, quando as lideranças mencionadas acima se reunirão na Quinta da Boa Vista, sob mediação de Renata Tupinambá, Nana Orlandi e Lucas Canavarro, a partir das 10 horas, no restaurado Conselho Tamuya – o nome provém do vocábulo antigo tamyîa, de onde se origina Tamoio, que significa antepassado. O epicentro de tudo é a recepção ritual ao lendário Manto Tupinambá, repatriado do Museu Nacional da Dinamarca, e que será reapresentado no Museu Nacional do Rio de Janeiro após quase quatro séculos ao povo Tupinambá para sua recepção especial. O Conselho Tamuya pretende examinar a memória da Confederação dos Tamoios em uma perspectiva feminina – a rebelião se deu a partir de uma coligação entre diferentes povos nativos ocorrida no início da invasão colonial brasileira, no século XVI.

Ao longo do encontro Guanabara Pyranga, que começou ontem, são oferecidas diversas atividades como ações artísticas e poéticas, oficinas, caminhadas, rodas de conversa, contações de histórias, manifestações multilinguagens de arte, educação, abordagens de luta ambiental, luta por direitos originários e apresentações musicais. As atividades são totalmente gratuitas e acontecem no Centro de Artes da UFF, em Niterói, na Quinta da Boa Vista e na Fundição Progresso, na Lapa. Guanabara, em tupi-guarani, significa “seio de onde brota o rio-mar”. Pyranga significa “vermelho”. O Manto Tupinambá é feito de penas do pássaro guará, que são vermelhas.

O evento foi aberto nesta sexta, dia 16 de agosto, com uma caminhada em Itaipu, Niterói, pelos Sambaquis de Duna Grande e Pequena (tido como o mais antigo sítio arqueológico e cemitério ancestral indígena, no litoral brasileiro). Para a cacique Valdelice Tupinambá, a mensagem que o encontro traz é de força e união: “Penso que a história sempre volta. Estamos vivendo, neste momento, a importância de nos unirmos, de nos reunirmos para pensar estratégias. Este momento do manto também fala sobre isso. A importância de unir o povo, de unir os Tupinambá por todo o Brasil. Não podemos lutar sozinhos, precisamos nos unir para nos fortalecer e não apagar a história viva dos nossos mais velhos. Essa é a lição mais importante: Força e União”.

O projeto é uma colaboração entre a Originárias Produções e o Mi Mawai, contemplado pelo edital de chamada emergencial da Lei Paulo Gustavo, na linha Diversidades em Diálogo, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e conta com o apoio do Instituto Goethe.

PROGRAMAÇÃO:


Hoje, 17 de agosto, das 10 horas às 22 horas
Centro de Artes UFF – Niterói/RJ


● 10H: Contação de histórias / Local: jardim / com Lucia Tucuju
● 11H: Motyrõ (roda de conversa): Guanabara Seio da Vida — luta ambiental, direito à terra e conhecimentos tradicionais são interligados numa conversa sobre as águas da baía, as narrativas originárias que a situam como a origem da vida e da humanidade, e a importância da preservação e renovação desse ecossistema.
Mediação de Nana Orlandi e convidados Carlos Tukano, Eliane Potiguara, Renata Tupinambá e Thiago Caiçara
● 13H: Cine Guanabara Pyranga (sessão Música–Resistência – curtas e videoclipes)
Música é Arma de Luta (25’)
O Brasil precisa ser exorcizado (10′)
Marujos Pataxó – A Força dos Encantados (5′)
Seleção clipes Ni Ishanai ~ Floresta Futuro (15′)
Gean Ramos Pankararu – Cartão Postal (5′)
Fykya Pankararu – Tribunal dos Bichos (6′)
Kandu Puri – M’liton (3′)

Wescritor – Tupinambá da Baixada Santista (6′)
Androide sem Par – Colonya (4′)
● 14H: Performance / Oficina com Rona Neves – Cobra Canoa Pyranga
● 15H: Cine Guanabara Pyranga (sessão Corpo–Território)
Tupinambá de Olivença (42’) – documentário sobre o processo de luta e mobilização do povo Tupinambá do sul da Bahia, dirigido por Tomás Amaral
Recado do Bendegó (11’), de Gustavo Caboco
● 16H: Motyrõ (roda de conversa): O Levante Dos Mantos — a partir da restituição ao Brasil do manto Tupinambá, que acaba de ser restituído do Museu Nacional de Copenhague, na Dinamarca, o evento abrirá um diálogo em torno da cultura dos
mantos para povos originários de Abya Yala e outras partes do mundo, e a emergência global de devolução desses entes a seus territórios de origem.
Mediação de Lucas Canavarro e convidados: Cacique Jamopoty Maria Valdelice (BA), Francy Baniwa e Crenivaldo Veloso, pesquisadores do Museu Nacional.
● 18H: Cine Guanabara Pyranga (sessão Arte–Vida–Ritual)
Quando o manto fala, o que o manto diz (60′), de Glicéria Tupinambá e Alexandre Mortagua
● A partir de 19H: Música – Shows de Idjahure (RJ), Gean Ramos Pankararu (Jatobá – PB), Juão Nyn (SP)

21 de agosto, quarta-feira
Quinta da Boa Vista – Rio De Janeiro/RJ
Mediação: Renata Tupinambá, Nana Orlandi e Lucas Canavarro
● 10h às 16h: Conselho Tamuya — Esse encontro trará a memória da Confederação dos Tamoios em uma perspectiva feminina, coligação entre diferentes povos
ocorrida no início da invasão colonial brasileira, para que, a partir dela, seja possível pensar a teia de alianças que constitui o tecido da luta por justiça social, ambiental e territorial hoje.
Participantes: Cacique Jamopoty Maria Valdelice (BA), Cacique Catarina Tupi Guarani (SP), Mestre Mayá Maria Muniz (BA), Cacica Kawany Lurdes (MG), Fernanda Kaingáng (RS/ Museu Nacional dos Povos Indígenas), Neuza KunhãTakuá (RJ), Milena Raquel Tupinambá (PA), Neide Tupinambá (MA), Japira Pataxó (BA) e Kalin Morgana (RJ)

23/08/2024, Lapa/ Glória, Rio De Janeiro
● 10H às 12H – Concentração às 9H nos Arcos da Lapa, com a participação de Rafael Freitas (autor do livro O Rio antes do Rio), Mestre Mayá Muniz, Japira Pataxó (BA) e Abi Poty


24/08/2024, das 12H às 3H
Fundição Progresso – Lapa Rio De Janeiro/Rj
● 12H: Oficina de Carimbó com Luakan Anambé / Espaço: Sala de Dança

● 12H: Oficina de Encadernação Cooperativa com As Carolinas de Jacutinga /
Coopcarmo / Espaço: Canto das Flores
● 12H: Instalações: Emília Estrada, Rona Neves, Painel Tamoyo (nossos avós e avôs), Mapas das aldeias da Guanabara, Rádio Guanabara Pyranga
● 13H30: Contação de histórias com Dauá Puri / Espaço: #estudeofunk
● 15H: Palestra-performance com Paola Barreto / Espaço: Canto das Flores
● 15H20: Música com Dofono d’Omolu / Espaço: #estudeofunk
● 16H: Motyrõ – Conselho dos Tamoios e a Guanabara Pyranga / Mediação:
Renata Tupinambá e convidados Orlando Calheiros, Rafael Freitas da Silva,
Urutau Guajajara, Mestre Mayá Muniz e Dofono d’Omolu /Espaço estudeofunk.

● 20H: Performance: Zahy Tentehar (no #estudeofunk)
● a partir das 22H: Música: Shows e apresentações de Bayla Yala, Wescritor e Kandu Puri, #estudeofunk

*Programação sujeita a atualizações.


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