Manto Tupinambá só terá visitação em 2026

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O Museu Nacional do Rio de Janeiro informou, por meio do seu diretor, Alexandre Kellner, que o Manto Tupinambá, repatriado da Dinamarca para o Brasil no último dia 8 de julho, só será liberado para visitação em 2026. “Até lá, ele ficará em proteção e só será aberto em momentos especiais do povo Tupinambá, respeitando a cultura e os rituais dos povos indígenas”, afirmou Kellner. A nota do Museu Nacional foi divulgada pelo Ministério da Cultura. Kellner alega razões técnicas e ambientais para a cautela em relação ao artefato. “O Manto estava sob condições ambientais muito diferentes das nossas. Então, essa foi a primeira solicitação, que ele viesse bem do ponto de vista técnico”.

Segundo o diretor, a doação foi comunicada, primeiramente, às lideranças indígenas do povo Tupinambá. Era fundamental, segundo sua versão, que a chegada do item fosse celebrada de acordo com os desejos deles. “Recebemos, inclusive, uma mensagem muito carinhosa por parte de uma das pessoas do povo Tupinambá. O manto só vai chegar para valer depois que os indígenas puderem fazer os seus rituais”, afirmou. Mas o CITO (Conselho Indígena do Povo Tupinambá de Olivença), organismo baseado em Olivença, Bahia, município que congrega a maior parte dos Tupinambá no Brasil, 23 comunidades, manifestou outra versão em documento público. Eles alimentavam a expectativa de recebê-lo em um cerimonial, já que é considerado um ancestral vivo. Requerimento daquela etnia, divulgado no último dia 17, acusou o Museu Nacional de interditar o acesso dos indígenas ao seu artefato. Mais de 50 pessoas da comunidade assinaram o documento.

O Manto ficou mais de 350 anos em Copenhague. Seu retorno foi decorrência de manifestações dos Tupinambá após o artefato ter sido exibido em São Paulo, no ano 2000, durante a mostra Brasil +500. Foi uma indígena que o viu primeiro, Amotara, mãe da primeira cacique do Povo Tupinambá, Jamopoty, e a comunidade passou a reivindicar sua volta, tendo artistas e intelectuais como Glicéria Tupinambá e Jaider Esbell à frente do processo, mas o Museu Nacional parece ignorar essa reconexão. “A possibilidade de o manto ser levado ao museu surgiu em 2022, quando o embaixador do Brasil estava na Dinamarca e perguntou se teríamos interesse em receber o manto Tupinambá. A partir desse momento, começamos a trabalhar juntamente com a embaixada brasileira na Dinamarca para que pudéssemos chegar ao dia de hoje”, afirmou Alexander Kellner. 

Diversos outros objetos que remontam a história dos povos originários no Brasil estão voltando junto com o Manto Tupinambá. Após duas décadas no Museu de História Natural de Lille (MHN), na França, 585 artefatos indígenas estão de volta ao Brasil. O conjunto de objetos, que representa mais de 40 povos diferentes, é formado por itens etnográficos que demonstram a variedade de manifestações culturais dessas populações. Entre eles, encontram-se diversos adornos Kayapó e Enawenê-Nawê, considerados raros ou inexistentes nas coleções brasileiras. Também há objetos Araweté, como chocalhos, arcos e raros brincos emplumados produzidos a partir das penas do anambé azul e da arara vermelha. A ação foi resultado de negociação entre o museu francês e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério Público Federal (MPF).

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