A ministra da Cultura, Margareth Menezes, exonerou hoje em portaria publicada no Diário Oficial da União o diretor do Museu da República, no Rio de Janeiro, Mario de Souza Chagas. A exoneração é retroativa, efetivando o desligamento de Chagas desde o dia 17 de julho, o que amplia a névoa em torno do caso.
Ao chamar a si a responsabilidade da exoneração, que já era conhecida desde a quarta-feira passada, a ministra assume também o ônus que isso acarreta. Mario Chagas mantinha uma gestão compartilhada, no museu, para dar conta da divulgação, manutenção e abrigamento da coleção afro Nosso Sagrado. Isso levou à ampliação das decisões, com a museologia considerando também a dimensão sagrada da coleção. O museu passou a ouvir Mãe Meninazinha de Oxum, o Ilê Omolu Oxum e outras lideranças religiosas para abarcar o compartilhamento de experiências possibilitadas pelo acervo. Essa iniciativa recebeu o prestigioso Prêmio Rodrigo de Melo Franco, do Iphan, do próprio governo que agora pune o museu.
“É importante que esta exoneração não seja tratada com a normalidade que historicamente produziu autoritarismos e exclusão”, diz manifesto do núcleo de gestão compartilhada da coleção. Os ativistas pedem que Mario Chagas seja readmitido imediatamente, e fizeram uma manifestação com dezenas de pessoas no final de semana no Rio de Janeiro (veja vídeo abaixo). Foi iniciada a campanha, na internet (change.org), que já conta com mais de 3 mil assinaturas, intitulada “Mario Chagas Fica”, que pede a reversão da demissão do professor e poeta Mario Chagas, da Unirio, uma das universidades federais do Rio. O grupo de Gestão Compartilhada do museu divulgou uma carta de repúdio à demissão, assim como servidores do Instituto Brasileiro de Museus postaram mensagens a respeito.
Fernanda Santana Rabello de Castro, presidente do Instituto Brasileiro de Museus, ao qual o Museu da República é subordinado, tornou pública nota alegando que o diretor exonerado estava em desalinho com as diretrizes do instituto. É no mínimo irônico que um ministério de orientação afro seja justamente aquele que vá desautorizar tal experiência. A ministra Margareth Menezes é militante dos blocos afro da Bahia, liderança da cultura negra baiana e brasileira, e os ativistas estranharam a atitude. “O governo Lula, o MinC, a ministra Margareth Menezes e a direção do Ibram devem uma explicação às pessoas e à sociedade sobre o que está acontecendo, com o devido respeito e a transparência necessária”, afirmaram os manifestantes. Fontes da museologia federal afirmam que a decisão de demitir Chagas partiu da secretaria executiva do Ministério da Cultura, e Margareth não teria informações precisas sobre o que está por trás de tudo. Em meio ao clima de sublevação na área de museus, os questionamentos dos ativistas vão persistir sem respostas porque a ministra da Cultura saiu de férias logo após assinar a exoneração, e a presidente do Instituto Brasileiro de Museus, Fernanda de Castro, também entrou em férias.