O monólogo O Sonho de um Homem Ridículo, baseado no conto do escritor russo Fiódor Dostoiévski (1877), está em cartaz no Espaço Parlapatões até 21 de julho. É uma ótima oportunidade para mergulhar no universo fantástico do autor, um dos maiores pensadores da Humanidade. O solo de Leo Horta, da mineira Cia Lúdica dos Atores, procura conciliar a fidelidade à obra original com pitadas de inventividade. Explica-se: não é tão fácil quanto parece interpretar um homem sonhando no palco.
Dostoiévski concebeu esse conto para discutir a condição humana. E ele o faz por meio de um homem que desde a infância já se considerava “ridículo” até o momento em que decide dar um fim a si mesmo. Esse personagem acaba por adormecer no sofá, quando irá sonhar com um outro mundo possível. Por se tratar de um monólogo, uma cena inicial no conto original não se faz presente, embora ela fosse muito relevante. O homem encontra uma menina numa noite chuvosa de São Petersburgo que o faz refletir sobre sua obsessão por tirar a vida.
Em vez do socorro à meina perdida, que lhe pedia ajuda, o homem ridículo sonha que apanha uma arma e aponta direto para o coração. Dali, a história se passará no sonho, o que Leo Horta e o diretor Alexandre Kavanji entregam de forma lírica, com as várias movimentações do personagem no palco. A linguagem corporal ajudará a guiar a plateia para um planeta de seres felizes. O autor russo concebe a vida pós-morte como um lugar em que não havia pecados, sem dor ou lágrimas, mas só até a chegada do homem ridículo.
Ainda no conto russo, levado de forma quase fidedigna em O Sonho de um Homem Ridículo, os homens são tomados pela individualidade, mas logo encontram soluções que hoje são produtos em falta na Humanidade: fraternidade, união, o amor ao próximo e justiça. Em seu sonho, o protagonista sente culpado por ter maculado o planeta feliz, mas decide que não quer mais se suicidar, sendo taxado de “louco”.
Pela complexidade, Doistoiévski, que era jornalista e tido como um grande “psicólogo”, entregou uma obra de muita vivacidade e inúmeros pontos de contato com a realidade. Cabe essa dica final para adentrar no espírito da peça encenada pela Cia Lúdica dos Atores. Muitas transformações pessoais ocorrem por meio da interação entre sonho e realidade.