Filmagens de "Futuro Futuro", filme de Davi Pretto, no último andar do mais alto edifício do centro de Porto Alegre, em 3 de maio

Edifício Santa Cruz é o prédio mais alto do centro de Porto Alegre. Construído na década de 1950, tem 34 andares e seu subsolo tem 14 metros de profundidade. No dia 3 de maio, quando as águas do Rio Guaíba começaram a subir com as chuvas, a equipe e o elenco do filme de longa-metragem Futuro Futuro filmavam no alto do Santa Cruz, na cobertura, quando assistiram atônitos o avanço do rio no set, após duas semanas e meia de trabalho. Logo em seguida, houve a suspensão emergencial da filmagem, e os produtores não têm previsão de quando voltarão a filmar.

“Do alto do prédio, era possível ver grande parte da cidade, e isso ajudou a produção a monitorar os avanços da água nas proximidades, da mesma forma que monitorávamos os anúncios do governo na internet”, conta o diretor da produção, o gaúcho Davi Pretto. Pretto estreou como diretor de longas em Castanha (2014), mistura de documentário e ficção que conta a história do ator João Carlos Castanha. O filme foi premiado na mostra Novos Rumos do Festival do Rio e exibido nos festivais de Berlim, Las Palmas, Edimburgo, Paulínia e Buenos Aires. Em 2016, Pretto dirigiu Rifle (2016), destaque do Festival de Brasília 2016 (ele é também o produtor da mostra de cinema Sessão Plataforma, realizada desde 2013 em Porto Alegre).

“É um filme de ficção especulativa existencialista”, explica o diretor Pretto. O site IMDB o classifica como ficção científica, uma distopia sobre o fim do mundo, mas a realidade está andando tão velozmente que a nem parece uma projeção ficcional. “Se passa num futuro próximo em Porto Alegre, quando um homem sem memória fica obcecado com estranhas lembranças de seu passado depois que usa um peculiar dispositivo em um curso para desempregados afetados pela Inteligência Artificial e pela recente divisão da cidade”.

“Quando o governo anunciou que o comércio devia fechar no centro e os moradores deixarem o bairro, a última diária do filme foi cancelada e alguns atores, que viviam no Rio e em São Paulo, foram para o aeroporto. Mas o aeroporto também estava fechado. Tiveram que arrumar carros para sair da cidade”, lembrou Pretto. No elenco, estão os atores e atrizes Clara Choveaux, Higor Campagnaro, José Carlos Castanha, Zé Maria e Carlota Joaquina.

“A rua de acesso à locação estava seca quando todos fomos embora. Nos dias seguintes nós estivemos, como todo mundo, aterrorizados com o avanço das águas na cidade e o horror que assolou todo o Rio Grande do Sul”, conta o cineasta. “Muitos familiares, amigos e colegas vieram ser afetados pela enchente. Com isso, obviamente, as diárias restantes do filme foram canceladas. Como havia quatro pessoas do elenco e equipe que eram de outros estados, a única forma deles voltarem para suas casas era de carro ou ônibus até Curitiba ou São Paulo, pois o aeroporto de Porto Alegre foi alagado e segue nessa situação”.

O impacto da inundação no Rio Grande do Sul nas estruturas da cultura está sendo acompanhado por equipes conjuntas das secretarias de Cultura do Estado e dos municípios, Ministério da Cultura, Iphan, Unesco e outras entidades. O Rio Grande do Sul abriga 10% do total de museus do País, além de centenas de editoras, casas de cultura, sebos e livrarias.

O ator João Carlos Castanha durante filmagens de “Futura Futura”

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