Xenofobia e o modelo de desenvolvimento equivocado dos megaprojetos são os grandes temas debatidos em As Bestas, a partir de uma bem tecida trama que acompanha uma constante briga entre vizinhos.
Não é, no entanto, uma simples briga e não exagerará quem se lembrar de crimes de ódio mais ou menos recentes, motivados pela indisposição da extrema-direita fascista (redundância intencional) em conviver com a divergência.
As interpretações firmes e comoventes de Denis Ménochet (Antoine) e Marina Foïs (Olga), um casal francês de pequenos agricultores que vive no interior da Galícia e resiste à implantação, no local, de usinas de energia eólica e passam a ser alvo do desprezo e, depois, da perseguição dos vizinhos, numa trama de violência e medo que acabará contaminando toda aldeia – fina ironia, é Anta o sobrenome dos irmãos antagonistas (interpretados por Luis Zahera e Diego Anido).
O diretor Rodrigo Sorogoyen assina o roteiro com Isabel Peña. As Bestas conquistou nove prêmios Goya, a mais importante premiação cinematográfica espanhola, além do César de melhor filme estrangeiro. A tensão crescente entre os personagens e a inoperância (ou conivência) das autoridades policiais alimenta as suspeitas dos locais sobre qualquer estrangeiro em uma aldeia quase fantasmagórica, em que os homens gastam seus dias bebendo e jogando em uma taverna, reclamando de suas próprias condições de miseráveis – e acreditando que o projeto que os estrangeiros se negam a aceitar seria a solução de seus problemas.
Os problemas financeiros redundam em problemas com a própria identidade, em uma convivência difícil e permanentemente tensa. Em meio a tudo isso, um cachorro, conflitos entre mãe e filha e uma esperançosa e surpreendente mensagem de sororidade.
Serviço: “As Bestas” (drama/suspense, França/Espanha, 2022, 137 minutos, classificação indicativa: 14 anos), de Rodrigo Sorogoyen. Estreia hoje (25) nos cinemas brasileiros.
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Adoro ler sobre cinema,mas tenho preguiça de ver filmes,tenho cá minhas dúvidas se cinema é arte mesmo.