Atores Celso Frateschi e Rodolfo Valenti intérpretes de
Atores Celso Frateschi e Rodolfo Valenti intérpretes de "Pawana" - Foto: Lígia Jardim/Divulgação

Um texto sofisticado, necessário e reflexivo dão sustentação à peça Pawana, montagem em cartaz no Ágora Teatro. O ator Celso Frateschi interpreta Charles Melville Scammon, um experiente capitão do navio Léonore, que tem como missão caçar baleias-cinzentas na costa da Califórnia, mas se arrepende da tragédia que causará. Rodolfo Valenti é o jovem marinheiro John, da cidade de Nantucket, que rememora a sua vida, também em tom melancólico.

A peça é baseada em um conto de J.M.G. Le Clézio, escritor francês, que se baseou em uma lenda “verdadeira” para mostrar a insanidade humana frente às questões ambientais. Num diálogo, subliminar, com Moby Dick, clássico de Herman Melville, com quem dialoga na chave “homem versus natureza”, Le Clézio questiona “Como alguém pode matar o que ama?”. Ao contrário do capitão Ahab, que vê na grande baleia o monstro de si mesmo, Charles Melville Scammon, o capitão da Pawana, parece pedir perdão pelo crime que cometeu.

O episódio ocorreu em 1856, quando a costa da Califórnia sofria o processo de colonização. Era lá, em uma laguna desconhecida, que se sabia que baleias-cinzentas se refugiavam para parir seus filhos, enquanto as mais velhas voltavam para morrer. O capitão de Pawana, secundado pelo marinheiro John, relembram o que julgavam ser uma aventura, mas se tornou uma carnificina se precedentes – um verdadeiro extermínio da natureza. O que era um segredo das baleias virou o local da matança indiscriminada dos animais.

Frateschi e Valenti não contracenam, e apenas na última passagem eles estão juntos no pequeno palco do Ágora Teatro. São, na prática, dois monólogos contíguos. Ambos estão embarcados no navio Léonore, e durante a viagem rumo ao santuário baleeiro, eles relembram como foi a caçada sangrenta. O dramaturgismo sobre o texto de grande força narrativa de Le Clézio coube ao jornalista Welington Andrade, crítico teatral da revista Cult. A tradução é de Leonardo Froés e a direção, de José Roberto Jardim.

A peça Pawana marca a reabertura do Ágora Teatro, que permaneceu fechado por quatro anos. Primeiro por conta da pandemia de Covid-19 e depois por conta das obras do Metrô, que interditaram a rua e fecharam temporariamente uma das salas.

Pawana. Direção de José Roberto Jardim. No Ágora Teatro, sextas-feiras e segundas (às 20 horas); sábados (21h) e domingos (19h), até 11 de dezembro. Ingressos a 40 reais.

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