Margareth exonera “exterminador de livros” da Palmares

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Marco Frenette, exonerado hoje por Margareth de Menezes, ao lado do ex-presidente Sérgio Camargo (centro) e do atual interino, Marco Antonio Evangelista

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, exonerou hoje Marco Aurélio Franco do cargo de Coordenador Geral do Centro de Informação e Referência da Cultura Negra da Fundação Cultural Palmares. Franco, que usa o codinome de Marco Frenette, fora assessor de Roberto Alvim, ex-Secretário Especial de Cultura de Jair Bolsonaro demitido em janeiro 2020 após fazer um discurso emulando o propagandista nazista Joseph Goebbels – o vídeo do discurso foi produzido por Frenette, que também foi demitido. Sérgio Camargo o recontratou.

Na Fundação Palmares, Marco Frenette foi incumbido de fazer um expurgo de livros do acervo da fundação que o seu antigo chefe, Sérgio Camargo, considerava “imorais”, classificados por ele como “comunistas, de perversão da infância, bandidagem, guerrilha e bizzarias” (sic). No primeiro levantamento que fizeram na biblioteca da fundação, Frenette e Camargo separaram clássicos como obras do Marquês de Sade (1740-1814), que passou a maior parte da vida sob perseguição política durante a Revolução Francesa, e diversos outros de sociologia de Karl Marx (como O Capital), do surrealista Benjamin Péret (Amor Sublime) e do filósofo e historiador literário György Lukács. Havia também obras de Eric Hobsbawm, Caio Prado Jr., Celso Furtado, Karl Marx e Max Weber.

A ideia inicial de Camargo e Frenette era se livrar das obras. Após decisão liminar da Justiça proibindo destruição ou doação, Camargo decidiu guardar os títulos (cerca de 5,5 mil volumes) em “caixas lacradas” numa sala “segura e livre de umidade” para confinar o que considerava livros comunistas e subversivos – a sala ficou fechada e, na porta, o ex-presidente e seu acólito mandaram colocar um cartaz com um desenho de foice e martelo e a inscrição Acervo da Vergonha. A ação replicava as operações nazistas de perseguição ao que Hitler denominava de “arte degenerada”.

Após estourar o escândalo do discurso de escopo nazista de Roberto Alvim, foi resgatada na internet uma foto de Marco Frenette empunhando uma espada com a Cruz de Ferro usada amplamente como símbolo do Terceiro Reich na Alemanha, mas ele logo apagou a imagem, assim como outra imagem que o mostrava dirigindo Alvim no fatídico vídeo que levou à sua demissão. Frenette chegou a ocupar a presidência da Fundação Palmares nas férias de Sergio Camargo (ainda se apresenta, no Twitter, como “Coordenador geral do CNIRC e presidente substituto da Fundação Palmares”).

Em dezembro, durante a intentona golpista que culminou nos atos de 8 de janeiro, Frenette postou fotos no Quartel General do Exército, dizendo-se ao lado dos golpistas “contra a praga vermelha”, e há uma citação de declaração sua que corre as redes sociais: “Não há nenhum registro na história de que comunistas foram vencidos por meio de diálogos, reclamações, ameaças e bravatas. O comunismo sempre foi vencido e erradicado por meio das armas, porque o poder das armas é o único poder que os criminosos temem.”

A Fundação Cultural Palmares vive uma estranha situação. Mesmo após a indicação de João Jorge Rodrigues, do Olodum, para comandar a instituição, quem segue na presidência interina é um nomeado de Sérgio Camargo, Marco Antonio Evangelista, que o ex-presidente considerava homem de sua confiança. Um mês após o início do governo, João Jorge ainda não assumiu.

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