“Agamenon 12H”, a maratona teatral

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Um dos 12 atores da peça "Agamenon 12H", em cartaz no Sesc Paulista
Um dos 12 atores da peça "Agamenon 12H", em cartaz no Sesc Paulista - Foto Carlos Canhameiro

A peça Agamenon 12H está ali, no térreo do Sesc da Paulista, disponível para quem estiver disponível a assistir a uma diferente experiência teatral. De quarta-feira a sábado, das 10 às 22 horas, 12 atores se revezam de forma aleatória para apresentar o mesmo espetáculo, que tem cerca de uma hora de duração. Basta chegar, sentar, ficar o tempo que quiser e sair.

O inusitado projeto parte do texto Agamenon – Voltei do Supermercado e Dei Uma Surra no Meu Filho (2004), do argentino Rodrigo García. O nome já dá o mote completo da peça, mas não entrega as nuances. São os atores, Amanda Lyra, Cauê Gouveia, Chico Lima, Danielli Mendes, Eduardo Bordinhon, Janaina Leite, Jorge Neto, José Jardim, Nilcéia Vicente, Mariana Senne, Mercedez Vulcão e Veronica Valenttino, que vão fazer com que cada performance seja bastante diferente uma da outra. Eles introduzem camadas interpretativas sob o repugnante personagem que objetifica até mesmo a família, já que ele próprio se tornou um objeto sem se dar conta.

Pode-se culpar o consumo desenfreado, as relações trabalhistas desiguais que criam cidadãos de primeira, segunda e classe alguma. Mas é difícil não ver algum grau de psicopatia em alguém que decide bater em um filho depois de uma banal ida ao supermercado. Os atores procuram estabelecer alguma simpatia, alguma comicidade, um mínimo de empatia diante do personagem. No solo, o pai de família (“cidadão do bem”?) é um vendedor de uma lojinha de produtos chineses, portanto permeado de objetos tão inúteis quanto desejados. A carga informativa e de estímulos a que é submetido o espectador, que pode ver o cenário desde a rua em frente à unidade do Sesc, provoca uma reflexão sobre o quanto a sociedade normaliza o consumo.

Sob direção de Carlos Canhameiro, que traduziu o texto com Chico Lima, Agamenon 12H é um convite à reflexão de como as famílias já dentro de suas casas representam a disfuncionalidade da sociedade que gira em torno do consumo. Dramaturgo, encenador e cenógrafo, Rodrigo García produz um teatro rebelde, político, mas com pitadas de humor. Talvez seja um bom caminho para tentar compreender como a sociedade industrializada transforma a vida de cada um de nós em uma tragédia consumista desenfreada.

Agamenon 12H. De Rodrigo García. No Sesc Paulista, de quarta-feira a sábado, das 10 às 22 horas. Até 27 de agosto. Grátis.
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