Mundo Livre S/A pede ajuda para vítimas das enchentes em Pernambuco

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Foto de Jotabê Medeiros

Durante apresentação na Virada Cultural 2022, em São Paulo, o músico pernambucano Fred Zero Quatro contou que seu grupo quase não conseguiu embarcar para o show que sua banda Mundo Livre S/A fez nesta manhã de domingo, 29, no Butantã, Zona Norte de São Paulo. “Noite inteira sem dormir. Na hora de ir para o aeroporto, o Recife todo ficou debaixo d’água”, contou Zero Quatro, que pediu solidariedade para o povo pernambucano. Ele disse que por pouco o grupo todo não deixou de embarcar, por conta da situação no Recife – até agora, as chuvas já deixaram mais de 80 mortos no Estado, além de centenas de desabrigados e desaparecidos.

Ao chegar ontem a São Paulo, Fred ainda participou de um debate no Colégio Cervantes, para estudantes, com a participação do maestro Júlio Medaglia. Ele disse que viu até shoppings centers debaixo d’água, lembrou a grande enchente de 1975, a maior da História, e disse que até hoje o Estado sofre com o mesmo problema.

O Mundo Livre S/A, uma das mais importantes do movimento mangue bit (ou mangue beat), lançou em janeiro seu décimo disco, Walking Dead Folia (selo Estelita), que contém uma crítica contundente ao regime bolsonarista e sua atitudes negacionistas, racistas, homofóbicas e contra o interesse o público. Apesar da contundência das novas canções, bem recebidas pelo público, como Fake Milho (“Foda-se o algoritmo”), o público vibrou mesmo com os clássicos da banda, como Meu Esquema.

Antes de tocar A Bola do jogo (do seu primeiro disco, Samba Esquema Noise, de 1994), Zero Quatro saudou a conterrânea Lia de Itamaracá e pediu para “abrir a roda” porque o que vinha era uma ciranda. “Quem conhece Lia, sabe quem é a rainha de quê? Da ciranda!”. O público improvisou uma imensa roda de mãos dadas e dançou como num carnaval recifense. “Até o cachorrinho tá na roda”, brincou o vocalista. Zero Quatro também agradeceu a Jorge Benjor, que cedeu para seu grupo gravar a canção Mexe Mexe, e falou da influência que o disco A Tábua de Esmeralda (1974) tem em sua carreira. Apesar do conteúdo político do seu disco, o show não foi pontuado por declarações políticas, embora o clássico coro de “Fora Bolsonaro” seja sempre o encerramento de todos os shows. Ao final de tudo, Zero Quatro voltou ao palco e disse: “Ah, e antes que eu me esqueça: Bolsonaro é o caralho!”.

O Butantã, com três palcos em uma rota quase em linha reta, é um dos bairros que abrigaram a Virada Cultural mais descentralizada. O Mundo Livre S/A se apresentou na Casa de Cultura Butantã, onde também tocariam os grupos Plutão Já Foi Planeta, Maglore e Ave Sangria. Em outros palcos, se apresentaram Chico César, Geraldo Azevedo, Cordel do Fogo Encantado, Céu, Patife Band, Far From Alaska, Pitty e Mombojó, entre outros.

A descentralização da Virada Cultural é uma velha reinvindicação da população, mas o que houve este ano parece mais que isso: parece que o poder público desistiu de vez do Centro da cidade, assolado por hordas de famintos e pedintes gerados pela política econômica de Paulo Guedes e Jair Bolsonaro. Colocando-a em espaços mais controlados, como a Praça das Artes, a prefeitura amortece os possíveis conflitos (que ajuda a provocar, com a violência na Cracolândia, por exemplo), mas também não enfrenta os problemas reais e nem ajuda a revalorizar a cidade verdadeira.

CENAS DA GRANDE RODA DE CIRANDA DO MUNDO LIVRE S/A

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