Cena de
Cena de "A Pior Pessoa do Mundo" - Foto: Divulgação

A pior pessoa do mundo (2021) estreou nos cinemas brasileiros em 24 de março de 2022. O longa norueguês, com direção de Joachim Trier, foi indicado a premiações como o Festival de Cannes e o Oscar e levou os prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz do Bafta. Com uma estrutura mais usual de um livro, no início a narradora nos avisa que iremos acompanhar a história de Julie ao longo de um prólogo, 12 capítulos e 1 epílogo. Nesta introdução, acompanhamos as mudanças de escolhas profissionais e horizontes para a vida de Julie: ela está cursando medicina, mas então descobre que provavelmente sua vocação está na psicologia. Só que essa decisão não se mantém e ela abre mão da trajetória acadêmica para ser fotógrafa, conciliando a nova escolha com um emprego de meio período em uma livraria. 

Em pouco menos de 15 minutos de prólogo, é possível captar as constantes mudanças da vida da protagonista e a busca por uma identidade e propósito na fase adulta. A partir do primeiro capítulo, é preciso desacelerar e olhar com mais calma para Julie. Neste ponto, ela tem quase 30 anos e está em um relacionamento com Aksel (Anders Danielsen Lie), um autor de quadrinhos de 45 anos no auge de sua carreira. A diferença de idade do casal começa a trazer novos confrontos para Julie, principalmente quando as cobranças pela maternidade e certezas, que ela ainda não encontrou, chegam por meio do relacionamento.

Em sua ânsia constante de encontrar um propósito e seu lugar no mundo, Julie se vê contagiada pelo encontro inesperado com Eivind (Herbert Nordrum). E este é o ponto de partida para nos aprofundarmos nos detalhes das personagens que permeiam a trama e circundam as vivências de Julie.

O que encontramos não é a premissa mais original, a exploração do fim da juventude e as crises da adultez como fio narrativo. A originalidade da narrativa ficou a cargo da execução do roteiro transmitindo a delicadeza que há nas efemeridades e também pela atuação de Renate Reinsve no papel de Julie. A trama também dá destaque para questões de gênero vividas por mulheres nessa faixa etária, principalmente quando levanta o debate sobre a maternidade, as relações afetivas e perspectivas que ela tem. Uma cena interessante em que isso fica visível é quando Julie apresenta como cada mulher de sua família materna estava quando tinha 30 anos.  

Ao retratar pontos de incertezas como algo intrínseco da vida adulta, o cineasta Joachim Trier nos leva a questionar e refletir os valores, as soluções e respostas prontas que adotamos na vida adulta. Durante as duas horas de filme nos é feito o convite para adentrar  na jornada com Julie, entendendo que as relações com os pais, as expectativas de familiares e amigos, as escolhas profissionais e o propósito que queremos para a vida nem sempre estarão no mesmo compasso ou mesmo se teremos entendimento desse processo.

O grande acerto do filme, talvez, seja evocar o sentimento comum e facilmente relacionável que é se sentir a pior pessoa do mundo em momentos de impasse da vida. Assim como na cena em que Julie corre pela cidade apresentada com um efeito de ‘pause’, um dos pontos altos do filme no quesito direção de arte, o filme nos convida a viver e se conectar com as nossas escolhas e trajetórias, seja em momentos que julgamos grandiosos ou mesmo nos pequenos detalhes da rotina.

* Resenha produzida para o Centro de Estudos Latino Americanos sobre Cultura e Comunicação da Universidade de São Paulo (Celacc-USP)

A pior pessoa do mundo. De Joachim Trier. Noruega-França-Suécia-Dinamarca, 2021, 128 mins.

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