As três vidas de Samson Flexor

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Vista da exposição de Samson Flexor no Museu de Arte Moderna, em São Paulo; a mostra vai até 26 de junho e custa 25 reais a entrada

Um Cristo dissolvido em estalactites, um balé matissiano no espaço, um Carnaval modernista de salão brasiliense, sombras que lembram um teste de Rorschach, uma mulher nua aquarelada calçando as meias, um pavilhão de ladrilhos concretistas com visões cinéticas. Com efeitos que vão do contemplativo ao aterrorizante, a diversidade de imagens e de abordagens artísticas da centena de obras expostas na retrospectiva de Samson Flexor no Museu de Arte Moderna de São Paulo poderia servir como subsídio para uma gigantesca aula de História da Arte, tamanho o leque de gestos que o artista da Moldávia espalhou durante sua trajetória.

O pintor, muralista, desenhista e educador moldavo Samson Flexor nasceu em Soroca, Bessarábia, em 1907. Em 1922, foi estudar na Académie Royale des Beaux-Arts de Bruxelas, na Bélgica, e fez o curso de História da Arte na Sorbonne, em Paris. Em 1927, já tinha reconhecimento crítico na Europa, emparelhando-se com o cubismo e a abstração geométrica típicas do período.

Flexor chegou ao Brasil no final da década de 1940, fugindo da Segunda Guerra Mundial. O pintor realizou sua primeira exposição em São Paulo em 1946, e a partir daí foi assimilado pelo contexto artístico brasileiro e ocupa papel central na consolidação do abstracionismo no Brasil. Em 1949, participou da exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), Do Figurativismo ao Abstracionismo, o mesmo museu que hoje organiza essa sua retrospectiva, que tem curadoria de Kiki Mazzuchelli.

A história pessoal de Samson Flexor é feita de tomadas violentas. Em 1944, os russos invadiram a Bessarábia, sua terra natal, e a incorporaram à União Soviética. No exílio brasileiro, ele viveria o golpe de 1964 e depois se descobriria desenganado pelos médicos por conta de uma doença terminal. Essa gangorra de acontecimentos está mapeada pela exposição do MAM em forma de linguagem artística. É impressionante o vaivém da figura no centro das proposições de Flexor, assim como o progressivo nevoeiro existencial que muda seu gesto artístico, que vai da pesquisa rigorosa ao desespero do espasmo em poucos anos.

As figuras graníticas, monolitos escuros que ele produz no final da década de 1960, assim como a série Bípedes (exposta na IX Bienal de São Paulo, em 1967), são gritos da consciência em desespero; algumas vezes, essa desfiguração progressiva conduz a um ambiente que lembra um frigorífico de animais, com os torsos pintados como carcaças limpas penduradas em linhas de montagem. A fase modernista é, por sua vez, alegre e inserida numa expectativa de um Brasil luminoso, de congraçamento e espírito democrático. De uma ponta a outra, experimentamos a dor e a decepção do artista com sua terra de exílio, que não cumpriu o que prometeu a Flexor.

As obras do artista Samson Flexor, que morreu em São Paulo no dia 31 de julho de 1972 em decorrência de um edema pulmonar, integram importantes coleções particulares e estão em acervos como do Museu de Arte Contemporêna da Universidade de São Paulo (MAC/USP), do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP) e da Pinacoteca do Estado de São Paulo.

 

Samson Flexor: além do moderno. Curadoria: Kiki Mazzuchelli, Até 26 de junho de 2022. Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo, no Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3). Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30). Telefone: (11) 5085-1300. Ingresso: R$25,00. Gratuidade aos domingos. Agendamento prévio necessário. Ingressos disponibilizados online em www.mam.org.br/ingresso

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