HQ chuta o balde do nazifascismo à brasileira

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Entre 2016 e 2020, o quadrinista paulistano João Pinheiro desenhou a implosão das estruturas democráticas, sociais, econômicas, judiciais e morais do Brasil em tempo real, vivendo o desmoronamento. Suas armas: uma enciclopédica informação visual que vai de Bobby London a John Romita Jr., de Flavio Colin a Ota (1954-2021) e R.F. Lucchetti, de pôsteres do ativismo feminista negro dos anos 1970 a Walt Disney, Robert Crumb, Marcatti e Marvel Comics.

Assim, é pouco provável que vá existir, ao menos até o momento, uma HQ mais furiosa, explícita, punk e politizada contra o nazifascismo à brasileira que se instalou no País do que Depois que o Brasil acabou, que a Editora Veneta colocou nas livrarias nessa semana de Natal. Trata-se do famoso “dar nomes aos bois”, um hábito da plena democracia que tinha sido encoberto pelo famoso discurso complacente do “evitemos a polarização”. João Pinheiro tem a clara intenção de atribuir responsabilidades pelo abismo no qual o País se meteu, mostrando as iniciais logo de cara, na ilustração do verso da capa do álbum.

Em 15 histórias, João Pinheiro emerge dos quadrinhos como se fosse um Gregório de Matos (1636-1696) do século 21, fustigando, importunando e pulverizando os protagonistas da história recente do País com o testemunho de suas contribuições ao caos e à covardia. Seus personagens, como os de José Agrippino de Paula, são emprestados da realidade: Mano Brown, Preta Ferreira, Jair Bolsonaro, Sérgio Moro, revista VEJA, Carlos Marighella, delegado Sergio Paranhos Fleury, Kim Kataguiri, o ator Maurício do Valle no papel de Antonio das Mortes, entre outros. Ele não poupa nem a esquerda contemplativa das notas de repúdio e do crowdfunding.

Com o efeito de uma canção dos Garotos Podres ou Ratos de Porão, o álbum de João Pinheiro deve remexer tanto nas consciências anestesiadas quanto nos esgotos instrumentalizados, e causar fortes reações. É um marco das HQs políticas.

DEPOIS QUE O BRASIL ACABOU, de João Pinheiro. Veneta Editora. Introdução de Marcello Quintanilha e Rogério de Campos. 112 páginas, 50 reais

 

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