Os integrantes da Banda de Pau e Corda e do Quinteto Violado
Os integrantes da Banda de Pau e Corda e do Quinteto Violado

Gravado no início de 2020, o álbum Na Estrada – Ao Vivo mistura, após cinco décadas de história, as musicalidades dos dois maiores expoentes da renovação da música tradicional pernambucana no início dos anos 1970: a Banda de Pau e Corda e Quinteto Violado. Sem medo de modernizar a tradição nem de tradicionalizar a modernidade, o Quinteto Violado apareceu em 1970, próximo tanto de Geraldo Vandré como de Gilberto Gil. O primeiro LP, homônimo, saiu em 1972, puxado por uma versão épica e abrasiva da “Asa Branca” de Luiz Gonzaga, e fez história no mesmo ano participando ativamente do projeto  coletivo Música Popular do Nordeste, de Marcus Pereira. A Banda de Pau e Corda debutou dois anos depois, estreou em disco com Vivência, de 1973 e se fez notar por duas canções cândidas incluídas em novelas da Globo, “Flor d’Água” (1978) e “O Trem Tá Feio” (1979).

Entre os dois adventos, a partir de 1971, aconteceu o movimento armorial de Ariano Suassuna, que culminou no estilizado e rebuscado Quinteto Armorial, que só chegaria ao LP em 1974, também pela Discos Marcus Pereira. Mais leves, Quinteto Violado e Banda de Pau e Corda tensionavam com o purismo de Suassuna, com muita delicadeza. Hoje já transformados eles próprios em tradição, os dois grupos reunidos dividem-se entre repertório autoral de ambos, em “Lampião”, “Só de Brincadeira” (1973), “Mestre Mundo”, “Esperança” e “Têmpera” (1974), da Pau e Corda, e “Mundão”, “Sete Meninas” (1975) e “Palavra Acesa” (1977), do Violado. Têm lugar também clássicos nordestinos que já frequentaram o repertório apaixonado do Violado: a “Asa Branca” de Gonzagão, o “Lamento Sertanejo” de Gil e Dominguinhos (gravado pelo quinteto em 1973), a folclórica “Sete Meninas” (adaptada em 1975) e “O Plantador” de Vandré (regravado em 1997). A emocionante faixa final de Na Estrada reúne a raiz da raiz da conterrânea Banda de Pífanos de Caruaru, somando a pura tradição de “A Briga do Cachorro com a Onça” a versão tropicalista de “Pipoca Moderna”, com letra concretista de Caetano Veloso.

Mas o ano de 2021 não foi só de releituras para os dois conjuntos, a esta altura desfalcados pela morte de alguns de seus integrantes. Em maio, o Quinteto Violado comemorou cinco décadas de estrada com o single “Tempo”, mais um épico nordestino, desta vez autodirigido: “Os meninos olhavam além/ os rapazes chegavam assim/ carregando instrumentos na mão/ baixo, flauta, viola e violão/ era apenas os cinco rapazes/ e os meninos brincavam ali/ e gritaram bem alto pro mundo ouvir/ lá vêm os violados”.

E a Banda de Pau e Corda, que havia voltado a gravar em 2019, depois de uma interrupção de 27 anos, lançou em abril deste 2021 o álbum Missão do Cantador, de composições inéditas e bem calibradas, além da passagem de bastão para os discípulos Zeca Baleiro Chico César, que participam respectivamente de “Tudo num Balaio Só” e “Fogo de Braseiro”. Por entre canções de seca, aboios, baiões e toadas, a vocação da banda para o frevo pernambucano brilha em “Estrela Cadente” (com sanfona de Mestre Gennaro), que parece falar do histórico encontro, com uma pergunta: “Quem conduz/ quem conduz/ esses cometas com caudas azuis?”.

"Na Estrada - Ao Vivo" (2021), de Banda de Pau e Corda & Quinteto Violado

Na Estrada – Ao VivoBanda de Pau e Corda & Quinteto Violado. Biscoito Fino.

"Missão do Cantador" (2021), da Banda de Pau e Corda

Missão do CantadorBanda de Pau e Corda. Biscoito Fino.

Tempo. Single do Quinteto Violado. Atração.

 

 

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