O espetáculo de menos de uma hora As Conchambranças de Quaderna é uma brincadeira teatral, e tudo bem de não precisar ser levada a sério. Um pouco de leveza nessa retomada de apresentações presenciais faz bem. Pois é isso o que entregam o texto do escritor pernambucano Ariano Suassuna e também a primeira montagem da obra na capital paulista sob direção de Fernando Neves.
Assim que o espectador chegar ao Teatro Sergio Cardoso, verá no palco a concepção cenográfica do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, filho de Ariano. O imaginário sertanejo salta aos olhos, abrindo o palco para os imbróglios que serão vividos pelo personagem Quaderna (Jorge de Paula). É ele a cabeça pensante que tramará os conchavos, uma corruptela da palavra “conchambranças”, sempre tentando levar vantagem das armadilhas que cria pelo caminho.
É encenado apenas O Caso do Coletor Assassinado, o primeiro ato da peça, composta por três histórias. Suassuna, nessa obra, brinca com algumas das instituições tipicamente presentes nos interiores brasileiros. Quaderna é um matuto que se vale de um escândalo político que envolve seu padrinho Dom Pedro Sebastião (Guryva Portela), um representante da oligarquia local, coronel que mata e manda matar. O escritor pernambucano, uma referência para o teatro popular nordestino e criador do Movimento Armorial (que ousou criar uma arte erudita a partir da cultura popular do Nordeste), trabalha com inúmeras metáforas, alegorias e arquétipos para construir personagens saborosos e divertidos.
As Conchambranças de Quaderna foi escrito em 1987, depois de um hiato na produção teatral de Ariano Suassuna. Teve até hoje apenas três montagens: em Recife (1987 e 2004), Rio de Janeiro (2011) e esta agora. Nesta montagem de circo-teatro, o protagonista ressurge como rei e palhaço. Pedro Dinis Ferreira Quaderna surgiu como protagonista de A Pedra do Reino, de 1971, um “romance-memorial-poema-folhetim”, como definiu o poeta Carlos Drummond de Andrade.