De Cajari pra passarela

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Homenageado da Turma do Quinto ano que vem, Josias Sobrinho durante a live de lançamento do disco coletivo "Vinil & Poesia", idealizado pela dj Vanessa Serra. Foto: Adriana Benvinda
Homenageado da Turma do Quinto ano que vem, Josias Sobrinho durante a live de lançamento do disco coletivo "Vinil & Poesia", idealizado pela dj Vanessa Serra. Foto: Adriana Benvinda

Turma do Quinto homenageará os 50 anos de carreira de Josias Sobrinho no carnaval de 2022

Em meio à conclusão do mestrado em Cultura e Sociedade na Universidade Federal do Maranhão (Ufma), o ex-diretor do Teatro Arthur Azevedo Celso Brandão assumiu o posto de diretor de carnaval da Turma do Quinto e sua primeira tacada foi certeira, bola na caçapa, ao anunciar o enredo para o carnaval de 2022: a escola de samba azul e branco da Madre Deus homenageará o cantor e compositor Josias Sobrinho, que celebra 50 anos de carreira ano que vem.

Celso revela que a escolha do tema se deu naturalmente: assim que confirmou a informação da efeméride, sugeriu a homenagem à diretoria do Quinto e a ideia foi acatada por unanimidade. “Josias é de um talento extraordinário, um compositor de fina estampa, com uma capacidade de encontrar harmonias, letras e melodias perfeitas. Além do mais traz em suas obras as histórias e memórias do Maranhão de forma muito marcante. Ele se dedica a cuidar da música do Maranhão, não só como compositor, mas também ajudando a produzir e divulgar outros trabalhos de outros autores do nosso estado; é um querido, de uma trajetória valorosa da nossa cultura musical, então está mais que na hora da agradecê-lo por tudo o que ele representa. E não vejo no Brasil homenagem mais simbólica e potente do que ser enredo de escola de samba, sobretudo da Turma do Quinto, que inclusive é sua escola de coração”, afirma.

Josias comentou a homenagem na passarela: “São duas grandes referencias para mim, meu trabalho, minha vida. Completar 50 anos de imersão musical e receber da Turma do Quinto um carnaval de presente, são coisas que nenhum cartão de credito pode pagar”, diz, animado.

2022 será o primeiro carnaval após a pandemia de covid-19. “Esses dois anos sem um terreiro ardendo em luas e matracas, um ano sem a alegria indispensável de fofões e pungadas só confirmaram como nos orgulham essas verdades. A cultura que nossos antecessores nos doaram nos faz muita falta. Precisamos disso para viver”, continua o homenageado, comentando a falta que fazem os períodos junino e carnavalesco, suspensos em formato presencial pela crise sanitária, indefinidamente prorrogada pelo neofascismo tupiniquim do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

A obra de Josias Sobrinho é diversa e fala por si. Autor de toadas, choros, tangos, valsas, boleros, baladas e, entre outros gêneros, sambas, praia na qual destaca-se o clássico “Terra de Noel”, cuja gravação de Flávia Bittencourt foi tema de novela global e cujos versos hoje estampam camisas aqui e alhures.

Josias Sobrinho é um dos “compositores do Maranhão” – como grafado na capa do antológico “Bandeira de aço” (Discos Marcus Pereira, 1978), de Papete – mais gravados Brasil afora. O citado elepê foi o primeiro a registrar sua obra, iniciada anos antes, com seu ingresso no então Departamento de Música do Laboratório de Expressões Artísticas do Maranhão, o Laborarte. “De Cajari pra capital”, “Engenho de flores” (que viria a dar título a seu primeiro elepê, lançado em 1987), “Dente de ouro” (título de seu cd de 2005) e “Catirina” foram registradas por Papete ao lado de obras de Cesar Teixeira (que já integrou a ala de compositores da Turma do Quinto), Ronaldo Mota e Sérgio Habibe. Entre outros nomes que gravaram a obra de Josias, destacam-se Diana Pequeno, Leci Brandão, Ceumar, Cláudio Lima, Lena Machado, Rita Benneditto, Zeca Baleiro e Xuxa.

Ele comenta sua relação com o samba (já foi visto trajando uma camisa com a efígie de Jamelão, o mais famoso intérprete da Mangueira carioca), destacando nomes que lhe chamam a atenção: “O samba é berço de minha vontade criadora. É a cartilha de abc de minha escola musical. Em casa, criança crescida entre Tramaúba [povoado onde nasceu], Penalva e Cajari, o batuque sambista desses locais era a trilha sonora de noites em claro, ao lado de outras levadas rítmicas, como o bumba meu boi, o divino, o São Gonçalo, a macumba, e claro o que ouvia em casa durante o dia, pelo rádio ou na radiola sempre ligada tocando Ataulfo Alves, Noel Rosa, Lupicínio Rodrigues, Moreira da Silva, Nelson Gonçalves, Pixinguinha, Noca do Acordeon, Luiz Gonzaga, Marinês e Sua Gente e muitos outros”.

Sobre a escolha do samba-enredo que a Turma do Quinto levará à passarela, Celso Brandão afirmou: “estamos discutindo isso [o concurso] e divulgaremos o quanto antes. Temos a missão de revolucionar o carnaval e entregar tudo com muita antecedência. Com tranquilidade teremos uma produção de alta qualidade”, finaliza.

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