“Descontrole Público”, a gamificação do teatro

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Cena da peça "Descontrole Público"
Cena da peça interativa "Descontrole Público" - Foto: Victor Otsuka

A peça Descontrole Público, do diretor Pedro Granato, propõe algo mais do que um teatro interativo. Na trama, atores divididos em seis salas são comandados por voz pelos espectadores, ao vivo, de forma improvisada e sem regra alguma, a não ser a de não fazer mal a ninguém. O resultado é a gamificação do teatro (estratégias emprestadas aos games), avançando sobre um terreno até agora inexplorado e ainda a ser decifrado como linguagem teatral.

O pano de fundo de Descontrole Público é o fim de um longo isolamento, quando um grupo de jovens decide se reunir em um espaço alugado. O que se imagina que acontecerá nessa situação deve pairar na cabeça de milhões de brasileiros que ainda não negam que o coronavírus mata. Os atores, em cena, parecem à vontade para atuar nesse tão aguardado encontro.

A plateia começa numa sala de Zoom, onde de pronto todos são divididos em outras subsalas com personagens-chave, como Arlequina, Kill Bill, Stitch e outros três. No total, 20 atores se dividem entre esses grupos e as cenas passam a ocorrer a partir de fragmentos de dramaturgia sugeridos: numa sala presenciamos uma situação de assédio sexual; noutra, amigas finalmente podem recuperar o tempo perdido. Daí em diante, a dramaturgia é controlada pelos espectadores. Todas as cenas de Descontrole Público ocorrem simultaneamente e durante 30 minutos, mas os núcleos interagem em locais diferentes dentro do espaço alugado.

Cena de "Descontrole Público", do Núcleo Pequeno Ato
Cena de “Descontrole Público”, do Núcleo Pequeno Ato – Foto: Victor Otsuka

Os diálogos, inclusive, são produzidos pela plateia, aos moldes do teatro verbatim, o que gera alguns ruídos. Os atores que não estão com o “ponto” (o fone de ouvido que conecta com a plateia) interagem a partir das falas da “protagonista”. Esta é a inovação desta peça, já que questões pessoais da sociedade afloram naturalmente dentro das cenas. Há quem grite “Fora, Bolsonaro”. Outros estão sedentos por justiça e deixam claro que o fim de um isolamento ou de uma pandemia não é um “liberou geral”. Jovens, do mundo todo, passaram meses reprimidos, confinados em suas casas, e há muita sede de viver.

Essa é a segunda incursão no teatro interativo do Núcleo Pequeno Ato, que em 2020 já havia apresentado o espetáculo Caso Cabaré Privê, vencedor do prêmio APCA. A peça permitia que a plateia tomasse algumas decisões, mas num nível mais simplificado. Em Descontrole Público, o espetáculo colaborativo, com a dramaturgia sendo construída ao vivo pelos atores e pela plateia, abre-se espaço para testar novas estéticas cênicas. Os atores do Pequeno Ato se envolveram em pesquisas para a peça durante dez meses, com ensaios remotos.

Descontrole Público. Do Núcleo Pequeno Ato. Até 5 de setembro, sextas-feiras e sábados, às 21 e 23 horas, e domingos às 19 e 21 horas. Ingressos no Sympla.

 

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