A comédia dos sonhos

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Maud enfrenta o protesto dos carolas. Frame. Reprodução. Califórnia Filmes
Maud enfrenta o protesto dos carolas. Frame. Reprodução. Califórnia Filmes

O ótimo “Notre Dame” [comédia, França, 2019, 90 minutos], que circulou o país no Festival Varilux de Cinema Francês (e segue em cartaz em diversas salas brasileiras), acompanha a vida louca vida de Maud Crayon (interpretada pela própria diretora Valérie Donzelli), arquiteta que, de forma inusitada, vence um concurso da Prefeitura de Paris para a requalificação de uma área em frente à famosa catedral.

O filme da cineasta francesa é uma bonita declaração de amor à capital de seu país, que viu o monumento histórico patrimônio da humanidade que intitula sua película ser consumido por um incêndio em 2019, com melhor sorte que, por exemplo, o Museu Nacional do Rio de Janeiro.

Em meio a prazos, fúria de carolas e um processo judicial, a protagonista se vê às voltas com dois amores do passado e uma inesperada gravidez, sua terceira. Não é comédia romântica, entretanto, apenas para fazer rir, levando a reflexões sobre arquitetura, espaço urbano (e suas consequentes questões sociais, como moradores de rua), conservadorismo (religiosos opinando sobre arte e arquitetura sem entender de coisa ou outra), terrorismo (de que vez por outra a capital francesa é palco e destaque no noticiário internacional), violência e machismo – a personagem chega a duvidar de sua capacidade de tocar adiante o projeto vencedor enquanto, diante da inércia sobre decisões que precisam ser tomadas, continua se desdobrando para dar conta do trabalho, dos filhos e de um ex-marido folgado (Martial, interpretado por Thomas Scimeca). “Por que as mulheres precisam fazer tudo?”, pergunta-lhe, a certa altura, a filha, saindo da infância.

O filme não se contenta com o cinema, em si. Belas e sutis homenagens ao teatro e à própria sétima arte, particularmente de nomes Charlie Chaplin, Jacques Tati, Stan Laurel e Oliver Hardy e Steven Spielberg (notadamente o de “ET: o extraterrestre”) e a primorosa música de Philippe Jacko são elementos fundamentais na construção da atmosfera onírica que permeia toda a história.

Um dos pontos turísticos mais famosos do mundo, a Catedral de Notre-Dame já era internacional e atemporalmente famosa por Quasímodo, o personagem corcunda que tocava os sinos da igreja no romance de Victor Hugo, e também pelo incêndio que consumiu parte da construção histórica de mais de 850 anos. “Notre Dame”, o filme, também merece sê-lo.

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Veja o trailer:

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