O juiz Vigdor Teitel, da 11ª Vara Federal do Rio de Janeiro, examinou ontem e indeferiu o pedido de tutela de urgência da ação pedida pelo Ministério Público Federal (MPF) contra a diretoria colegiada da Ancine (Alex Braga, Edilásio Barra e Vinicius Clay) e seu procurador-chefe (Fabricio Tanure). O juiz considerou que a intervenção pode causar dano ou risco ao resultado do processo, e não pode ser concedida “quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”.
Teitel também observou que o prazo de 90 dias para que sejam cumpridos todos os processos administrativos paralisados na agência, dado pelo MPF, não parece razoável porque há diferentes níveis de análise e muitos dos 782 projetos do passivo encontram-se em fases distintas de deliberação, requerendo um escalonamento. O MPF pediu a constituição de uma força-tarefa para, no prazo de 6 meses, dar cabo do passivo audiovisual.
O juiz não analisou ainda a ação principal contra a direção da Ancine, por improbidade administrativa. Ele pediu novos documentos para decidir, notou a falta de alguns ofícios e deu 15 dias para o MPF adequar a denúncia aos seus pedidos. Chama a atenção não apenas a rapidez da decisão, mas alguns dos comentários do magistrado. “Diante desse cenário, numa primeira aproximação da matéria, não vislumbro recusa ou retardo injustificado”. Em menos de 24 horas, o juiz conseguiu desqualificar evidências de dois anos e dezenas de testemunhas, documentos e ações contraditórias juntados ao processo.
Reintegração
Também ontem, o desembargador Sergio Schwaitzer, do 2º Tribunal Regional Federal, autorizou a reintegração ao cargo do ex-superintendente de Registro da agência, Magno Maranhão. Maranhão, um dos antigos homens fortes do ex-presidente Christian de Castro, era pólo integrante de outra ação desde 2019, o que resultou no seu afastamento da Ancine. Mas, em setembro, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2), do Rio de Janeiro, concedera habeas corpus ao servidor, trancando a ação penal contra ele que corria na Justiça. A decisão neutralizou a sentença que o suspendeu das funções públicas e afastou do cargo em 30 de agosto, proferida pela juíza Adriana Alves dos Santos Cruz, da 5ª Vara Federal Criminal, e que atendeu a denúncia do Ministério Público Federal (de denunciação caluniosa, quebra de sigilo funcional e prevaricação).
O desembargador não viu risco de interferência de Maranhão na apuração de presumíveis irregularidades, segundo a sentença. O ex-superintendente, entretanto, ressurgiu em nova denúncia do MPF ontem. Após autorização judicial, o Ministério Público obteve evidências da ação de concessão de privilégios e cobrança de comissões ilegais, entre 2017 e 2019, por um grupo liderado por Christian de Castro e Ricardo Martins. Essa atividade, segundo o ministério, resultou em uma “possível escalada criminosa voltada ao acesso e comando da agência reguladora, tudo com a finalidade de obter ganho ilícito que ora está sob apuração”.
O site do MPF tem uma cópia da petição. O MPF não pediu o afastamento preventivo da diretoria. Na tutela de urgência o MPF pediu que a Justiça obrigue a Ancine a trabalhar, concluindo em 90 dias os processos de 2016 a 2018. Só isso já é uma tremenda desmoralização. Não teria sentido afastar toda a diretoria e exigir o cumprimento deste prazo, pois alguém precisa decidir os processos e a diretoria atual já é toda de precários e substitutos.
No pedido principal o MPF pediu a condenação dos diretores, com multa de 100x o salário (que deve dar mais de 2 milhões para cada um), demissão e perda dos direitos políticos e de contratar com a administração pública.
Em cerca de 3h o juiz parece ter lido toda a petição e seus anexos e deu essa decisão. Cabe agora ao MPF recorrer da decisão para garantir a tutela de urgência e corrigir a petição inicial para que ela não seja considerada inepta e o processo morra.
Veja a petição no site:
http://www.mpf.mp.br/rj/sala-de-imprensa/noticias-rj/mpf-entra-com-acao-de-improbidade-por-paralisacao-da-ancine
Se não houver mobilização social essa ação vai morrer e tudo continuará como antes.
Ué, mas não conseguiram afastar uma diretoria que está lá toda irregular paralisando a economia inteira de um setor relevante?
É um absurdo um presidente com mandato vencido fazendo esse tipo de barbeiragem e uma diretoria ilegal com mais de 180 dias reconduzida?
Isso é Brasil, meus caros!