Foto: Jotabê Medeiros
Estante de livraria na cidade de Rio Grande (RS)
No momento em que o governo fala em aumentar em 12% o imposto sobre a produção de livros, estudo mostra que o Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores desde o golpe contra Dilma

 

Na circunstância da pandemia, uma das raras áreas culturais que viram um aumento no consumo do seu produto foi a de livros. O motivo é óbvio: isoladas em suas casas, as pessoas passaram a ler mais, assistir mais TV, recorrer ao streaming de filmes, atividades que não requerem reunião de público presencial. Na manhã desta sexta, 11, uma pesquisa nacional de hábitos de leitura feita entre os dias 28 de outubro de 2019 a 13 de janeiro de 2020 ( antes, portanto, da pandemia) mostra que a tendência vinha sendo inversa: em quatro anos, o Brasil perdeu  cerca de 4,6 milhões de leitores entre 2015 e 2019, segundo o estudo denominado Retratos da Leitura no Brasil.  Curiosamente, é o tempo do golpe contra Dilma Rousseff.

De acordo com a pesquisa, o Brasil tem 52% de leitores (100,1 milhões de pessoas), 4,6 milhões de leitores a menos do que a edição anterior da pesquisa, de 2015, quando o percentual de leitores era de 56%. Com exceção da faixa etária entre 5 a 10 anos (com 4 pontos percentuais a mais na proporção de leitores), todas as outras faixas de idade apresentaram estabilidade ou queda na proporção de leitores entre as duas edições da pesquisa. As principais reduções foram entre adolescentes de 14 a 17 anos e jovens de 18 a 24 anos e entre indivíduos com nível de escolaridade médio e superior. O decréscimo atingiu também todas as faixas de renda familiar.

Apesar dessa redução no percentual de leitores, a média de livros lidos em um período de três meses se manteve estável – passou de 2,54 em 2015 para 2,60 em 2019. É pouco provável, porque o atual governo não lê, mas a pesquisa tem potencial de orientar políticas públicas para o setor do livro e da leitura – no momento, a única atenção dada pelo Estado à área é a proposta de aumentar em 12% o imposto sobre a produção de livros, o que vai aprofundar o problema.

Segundo os realizadores, nos três meses anteriores à coleta de dados, 52 milhões de pessoas compraram algum livro no País, em papel ou em formato digital. Dos que costumam comprar livros, 35% utilizam livrarias físicas, 14% compram em bancas de jornal e revista, 12% fazem aquisições online e 9% procuram sebos, entre outras alternativas.

A pesquisa mostra aumento no uso do celular para a leitura de livros digitais e a redução dos demais dispositivos para leitura, principalmente o computador. Os livros digitais consolidam sua presença (44% ouviram falar deles e, desses, 37% já leram nesse formato); a maioria dos que já leram nesse formato, entretanto, baixa os livros oferecidos gratuitamente pela internet (88%). O celular é o dispositivo mais utilizado para ler os conteúdos (73%); o computador é usado por cerca de 31% dos leitores e menos de 10% leram no tablet, iPad ou em leitores digitais, como Kindle, Kobo e Lev. Quanto ao audiolivro, cerca de 20% dos brasileiros já ouviram livros dessa forma. O consumo desse formato de livro foi mais frequente entre os indivíduos com ensino superior (40%), pertencentes à classe B (31%) e entre os leitores de literatura (33%).
A pesquisa Retratos da Leitura é  realizada pelo Instituto Pró-Livro e Itaú Cultural e tem aplicação do IBOPE Inteligência. No dia 14 (segunda-feira), o Instituto Pró Livro e o Itaú Cultural lançam os resultados da quinta edição da pesquisa (a síntese do estudo apresentada aqui foi selecionada pela assessoria de comunicação do Itaú Cultural).

No total, foram realizadas 8.076 entrevistas, em 208 municípios, sendo 5.874 nas capitais de 26 estados. Os resultados da pesquisa podem ser analisados para o total do Brasil, pelas cinco regiões e por capitais. Eles foram ponderados considerando os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2017, do IBGE.

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