Psicóloga de formação, a cineasta Thais Lima realizou, em maio passado, o curta-metragem “REInaldo”, com dois minutos de duração. Ela assina a direção com Mateus Rizoka.
Com várias camadas sobrepostas, o filme funciona bem como uma peça de conscientização da necessidade de isolamento/distanciamento social em tempos de pandemia, além de trazer críticas sociais contundentes – poderíamos falar em uma peça de ficção baseada em nossas realidades cotidianas.
O filme está inscrito no festival Cine en Casa – da Red Cine Comunidad y Diversidad, formada por Brasil, México, Colômbia, Argentina, Equador e Bolívia –, que acontece em setembro.
“Em dois minutos você trazer uma narrativa com começo, meio e fim, ainda que esse fim diga de uma posição aberta, como é a vida, que a vida só tem fim na morte, e para alguns nem a morte é o fim, mas ali abre-se uma possibilidade de o espectador pensar se esse Reinaldo vai se haver com isso ou não, se ele vai se movimentar ou não. Foi um desafio por que é dentro de uma questão da pandemia, então toda pré [produção] foi feita de forma virtual”, comenta a diretora Thais Lima em conversa exclusiva com o Farofafá.
Entre as condições para a inscrição no citado festival estavam o filme ser feito dentro de casa, com equipamentos próprios. Somente representantes de São Paulo e Maranhão participaram da seleção – foram selecionados ainda filmes dos maranhenses Emanuelle Rebelo [“Tormento”] e Tairo Lisboa [“Experimento frame rate”].
Filipe Rizzi Roumié [que interpreta Reinaldo] é um não-ator: irmão do codiretor Mateus Rizoka, ele foi preparado virtualmente para o papel, através de videochamadas, mesma modalidade usada para a atriz Mariana Serra, que interpreta a mulher-objeto no vídeo.
“O fato de eu ser psicóloga super ajuda, tanto na questão da complexidade de construir as camadas do personagem Reinaldo, e personagens de forma geral, quanto no diálogo com a equipe. É importante para mim, são mais de 15 anos atuando na psicologia social, com experiência nos direitos socioassistenciais e os direitos humanos”, ela revela pontas e pontes entre as profissões.
Thais também comenta um pouco o trabalho com a cantora e compositora Regiane Araújo, cujo videoclipe “Tirem as cercas” ela dirige. É outra contundente denúncia social, que irmana a música a lançamentos recentes de nomes como Banda Borralheira e Beto Ehong – que assina a trilha sonora de “REInaldo”.
“Eu estou super contente com esse trabalho, por que é um desafio a que me lancei, dirigir clipes, até então eu não tinha feito isso. Só tinha produzido clipes, fiz também lá no início da carreira um trabalho pra [banda] Gallo Azhuu. São seis locações, é alta produção, foi o clipe que mais eu investi em recursos tecnológicos no sentido de equipamentos de fotografia. Nós temos uma luz, que se chama aputure, que nunca tinha sido usada em nenhuma produção daqui do Maranhão. Eu me lancei a esse desafio, junto com minha equipe. Eu não conhecia a obra da Regiane, só sabia daquela situação que aconteceu lá no CCVM [Centro Cultural Vale Maranhão] em 2018, e aquilo me chamou muito a atenção, à época eu trabalhava na Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, e chegou uma colega minha e mostrou o vídeo daquela fala dela muito forte, pedindo desculpas por estar ocupando um espaço de violação de direitos, e aquilo ficou marcado para mim. Nesse momento agora de pandemia eu me senti convocada a produzir e a fazer trabalhos mais em direção. Assisti uma live dela, fiquei apaixonada pela obra dela e mandei um convite ao vivo, que eu me colocava para fazer o clipe dela, que era muita vontade minha fazer, e ela aceitou e desde então estamos fazendo”, revela sobre o clipe da música que aborda as lutas de comunidades indígenas e quilombolas.
“O cinema me dá um retorno mais no sentido de felicidade, de realização pessoal; o cinema sempre esteve na minha vida, eu sou neta de proprietário de cinema, meu avô [José de Ribamar Moreira Serra, já falecido] foi dono de dois cinemas em São Luís, o Rex e o Rivolli; desde que eu existo o cinema já existe na minha vida, eu entrei vivendo e já tinha o cinema na minha família. É uma realização. Eu hoje não trabalho mais como psicóloga, só com o cinema. Mas eu ainda não tenho esse retorno financeiro. O retorno que eu tenho, e não me arrependo de forma alguma de ter deixado a psicologia, no sentido prático, de estar vinculada a uma instituição, de estar trabalhando em uma clínica, eu não tenho questão sobre isso, a psicologia está no meu trabalho com cinema. Estou muito realizada com o trabalho que foi feito, tanto o “REInaldo” quanto o clipe da Regiane, eu admiro muito o trabalho dela, a voz, as composições, e isso me motivou”, revela.
A live de pré-lançamento do videoclipe de “Tirem as cercas”, de Regiane Araújo, acontece no próximo dia 28 de agosto (sexta-feira), no perfil da cantora no instagram.
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