Farofafá conversou com exclusividade com Nathália Ferro, a metade maranhense do duo Mana, completado pela paulista Maria Ó. Mana acaba de estrear em disco, com “Nada permanece”
Espaço, tempo (e suas relatividades), amor e corpo são elementos centrais em “Nada permanece”, disco do duo Mana, formado pelas cantoras e compositoras Maria Ó e Nathalia Ferro.
O álbum está disponível para audição gratuita no spotify e em um site do projeto (desenvolvido por Maria Ó), onde é possível comprar o álbum digital ou faixas separadas, além de conhecer letras, cifras, vídeos, fotos, biografias das artistas e a história por detrás das faixas.
O disco valoriza os timbres das cantoras, com um sutil ornamento de violão (Maria Ó, que também assina os arranjos, com direção rítmica de Nathália Ferro) e percussão (Denilson de Paula) emoldurando suas vozes. Uma delicadeza.
Lançado pela ybmusic, “Nada permanece” é um álbum libertário, marcado por um encontro que vai além da música. Ousado, arrisco dizer, num tempo em que, sob a égide do presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro, o Brasil tornou-se palco do ódio e da intolerância: desde a capa, em que aparecem abraçadas e nuas, até o título de uma das faixas, “Eu amo uma mulher”.
“Eu e Maria nos casamos por amor, em nosso segundo encontro. O primeiro aconteceu no lançamento do primeiro álbum dela, o “Dança três”, nós não nós conhecíamos. E logo em seguida veio a união musical. Todas as letras e músicas do Mana são nossas, em parceria ou individualmente”, revela Nathália Ferro com exclusividade ao Farofafá.
Digo notar certo amadurecimento de seu trabalho, em relação, por exemplo, à carreira solo. “O amadurecimento acontece quando temos oportunidade de relacionamento profundo, eu acredito. Sou muito feliz pelo resultado desse trabalho, por que ele foi regado a tempo e honestidade, e conta histórias reais, de uma vida que felizmente ainda existe”, comenta.
Ela continua: “A gente tocou muito esse disco. Em São Paulo, São José dos Campos, São Luís, São Francisco Xavier, Chapecó… O repertório tava tão ensaiado que gravamos tudo em dois dias, somando mais um para colocar as percussões do Denilson de Paula. Até antes de conhecer o Denilson a história era gravar mesmo o voz e violão com o qual a gente vinha ganhando a vida”, comenta sobre o processo de gravação.
Ferro resume bem o conceito do álbum: “É um disco que fala de amor. Da naturalidade, da crueza, da simplicidade, da honestidade e da vulnerabilidade contidos no ato de amar e de fazer as coisas por amor. Há também muitos símbolos contidos na nossa proposta, por sermos mulheres parceiras que compuseram, produziram, custearam e apostaram tudo numa parceria, confiando nela. Por amor e confiança uma na outra. Na minha cabeça não haveria outra concepção pra essa capa que não fosse esse abraço nu e sincero, por que foi isso que a gente se deu nesse álbum e na vida. E para além, o fotógrafo dessas imagens, que é o Stefan Lalau Patay, é um grande amigo. Ele possui uma história longa, é um rapaz que aos 76 anos continua em pleno vigor em sua arte. A delicadeza dele com o processo dessas imagens nos traz significados até agora, ainda mais nesse quadro em que vivemos agora, de pandemia”.
“Nada permanece” ganhará uma série de remixes. O primeiro é o de “Luas e ondas”, assinado por André Abujamra. Ferro se derrete, com razão: “ficamos muito felizes. Ele ouviu o disco e pediu a faixa para remixar”. O remix será disponibilizado nas plataformas digitais nesta sexta (24).
No e-mail com as fotos, recebido por este repórter, um recado final, preciso e precioso, também enviado por Nathália Ferro: “Amar é ato político e a melhor estratégia de luta. Precisamos aprender a amar cada vez melhor, a nós mesmos e aos outros, pois deste exercício de convivência e empatia nascem as bases para uma sociedade de paz”.
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Ouça “Nada permanece”: