O setor cultural será um dos mais atingidos pela pandemia do coronavírus. E isso deveria ser uma preocupação de todos, já que a indústria criativa, na qual está inserido o segmento da cultura, emprega 6,2 milhões de brasileiros e gera uma receita superior a 335 bilhões de reais. Os dados compilados são da plataforma Observatório Itaú Cultural, lançada na segunda-feira (13), um trabalho conjunto da instituição e do economista e pesquisador Leandro Valiati, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Em meio à contenção da Covid-19 e também à bem-vinda proliferação de lives e outras formas criativas dos artistas na quarentena, ainda é cedo para falar no tamanho dos prejuízos. Mas diante da inépcia do governo federal em reagir o futuro da cultura é incerto. “Não haverá perda de emprego e renda, mas de valores culturais”, adianta-se Valiati. “O impacto será maior que de outros segmentos econômicos, por sua intensidade em atividades performáticas e ao vivo, agravado no Brasil pela incapacidade de ter um consumo cultural em casa.”
Apenas Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo investem mais do que a média nacional. A concentração foi calculada por meio da soma do financiamento proveniente do mecenato, do Fundo Nacional de Cultura, da Lei do Audiovisual e do Fundo Setorial do Audiovisual. O estado fluminense tem um índice de 3,13, a capital federal 2,41 e os paulistas, 1,85. Maranhão, por exemplo, tem indicador de 0,21, em relação à média nacional – o governo investe pouco em cultura por habitante -, mas este valor é o triplo do que Mato Grosso financia per capita em cultura.
O pesquisador da UFGRS lembra que, mundo afora, há pessoas “maratonando” em séries da Netflix como forma de suprimir a falta de consumo cultural durante a pandemia do coronavírus, mas isso pode estar ocorrendo em menor escala no País. Não deixa de ser um alento, considerando que o Brasil tem uma balança comercial desfavorável nas áreas de cinema, música, fotografia, rádio e TV, segundo nos indica o Observatório Itaú Cultural.