Adoniran - Meu Nome É João Rubinato, direção Pedro Serrano
Adoniran - Meu Nome É João Rubinato, de Pedro Serrano, apresenta a tristeza e a amargura por trás da irreverência do compositor e humorista paulista

Adoniran – Meu Nome É João Rubinato apresenta a tristeza e a amargura por trás da irreverência do compositor e humorista paulista

A certa altura do documentário Meu Nome É João Rubinato, a entrevistadora Marília Gabriela pede a Adoniran Barbosa (1910-1982) uma definição sobre a cidade de São Paulo. “É o inferno que anda”, ele responde, sem titubear. Nascido no interior, em Valinhos, Adoniran (cujo nome real era João Rubinato) havia se tornado, ao longo da vida, um perfeito tradutor da capital paulista em suas mais de cinco décadas de atuação artística como compositor, cantor, humorista e ator.

O diretor de Meu Nome É João Rubinato, Pedro Serrano, retrata com fidedignidade a filiação de Adoniran à São Paulo adotiva. A câmera flagra, trêmula, detalhes atuais de localidades caras a Adoniran, como o Brás, o Largo da Misericórdia, o centro da cidade, o Bexiga, o cenário original destruído da Saudosa Maloca, o bairro do Jaçanã de Trem das 11… Esse último, o filme explica, Adoniran nem viria a conhecer pessoalmente, se não tivesse se apresentado em circos da região nem trabalhado em filmes da empresa Maristela. Ator, Adoniran foi pintado de preto na dramaturgia e interpretou um bandoleiro nordestino no filme O Cangaceiro.

Enquanto emoldura o inferno paulistano, o documentário traça delicadamente um sólido perfil psicológico de Adoniran: um inferno interior correspondia nevralgicamente ao inferno vivo da cidade. O humorista não era um cara alegre, revela o próprio Adoniran, num ponto crucial do filme. “Fui muito chutado no nosso ambiente”, afirma. Essa verdade incômoda perpassa mesmo as cenas mais felizes, e Adoniran aparece explicando que os hoje históricos “erros” gramaticais em suas músicas muito atrapalharam a aceitação das letras – e do compositor. O compositor Eduardo Gudin conta que uma vez perguntou ao mestre sobre o triunfo de Trem das 11 no Rio de Janeiro, santuário do samba. “Chegou muito tarde”, Adoniran lhe respondeu com amargor.

As amarguras são descritas em meio aos sucessos. Encostado e aposentado pela Rádio Record, ele vai bater na porta da TV Bandeirantes, e acaba trabalhando em quatro telenovelas na casa. Causa dor a descrição de quando, sentindo-se sem lugar no showbizz que ajudara a forjar, buscava um sofá para repousar nas dependências da Rádio Eldorado. O aval de gente como Antonio Candido, Elis Regina e Fernando Faro, já no final da vida, surge como paliativo, que hoje reluz por sobre as infelicidades.

Adoniran – Meu Nome É João Rubinato. De Pedro Serrano. Brasil, 2018. 95 min. Estreia dia 23 de janeiro.
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