Capim-Cidreira, de Rael, chega disposto a louvar a figura feminina de A a Z. Neste quarto álbum cheio, o rap-canção levado nas ondas do reggae do rapper paulistano coloca força gravitacional na fé e no feminino, em todas as oito faixas (duas delas apresentadas em duas versões diferentes).
“Bença Mãe” inicia a jornada celebrando ao mesmo tempo a figura materna e a pura fé, aquela que Gilberto Gil diz que não costuma falhar. “Mãe que é benzedeira/ tem planta curandeira/ mãe d’água cachoeira/ forte igual capoeira/ mãe de toda maneira/ devo minha vida inteira/ pra você”, canta Rael. “Natureza é santa, medicina é planta”, completa, crente nas potências naturais que englobam orixás, plantas medicinais e amor de mãe.
“Sempre” reforça essa linha: “Com as armas de Ogum/ as águas de Odoyá/ eu permaneço firme e forte que nem no começo/ felicidade não tem cor, idade e nem endereço/ eu me amo hoje bem mais do que ontem/ não mais do que amanhã, não mais do que amanhã”. É a faixa de fé em si mesmo, com propósito explicitamente declarado: “Disseram que preto e quem vem do gueto tem baixa autoestima/ eu tô nessa missão contra a depressão que nem medicina”. São versos que explicam os propósitos de Capim-Cidreira e da obra de Rael como um todo, desde o lançamento do potente MP3 – Música Popular do Terceiro Mundo (2010).
Feitos os manifestos de intenções de “Bença Mãe” e “Sempre”, Rael mergulha de cabeça nos raps-canções de fé no amor e na figura feminina idealizada, em canções-cantadas para musas variadas, à maneira de Jorge Ben Jor. “Logo eu, durão convencido/ coração meio endurecido/ ficou mole, esmorecido, e a partir de agora não sou eu mais quem decido”, entrega-se em “Só Ficou o Cheiro”. “Eu sou louco e ela mais um pouco/ e nós juntos, um vendaval/ ela água doce de Oxum/ toda noite de Ogum/ e é certo que vai ter briga de amor”, completa “Vendaval”, fechando o ciclo aberto por “Bença Mãe”.
Dedicadas a celebrar o feminino são “Greenga”, “Flor de Aruanda”, “Especial” e “Beijo B”, que compõem o miolo do CD. Seja louvando a mãe, a mãe-de-santo, a mãe-natureza, a namorada ou a ficante circunstancial, Capim-Cidreira existe para superar definitivamente o mito de que o rap seja predominantemente machista ou misógino. Capim-Cidreira será lançado em São Paulo no sábado 16, com show no espaço Audio.