O jornalista Leo Leomil e o compositor, luthier e alaudista Rajana Olba durante as gravações de No estúdio com Leo Leomil. Foto: divulgação
O jornalista Leo Leomil e o compositor, luthier e alaudista Rajana Olba durante as gravações de No estúdio com Leo Leomil. Foto: divulgação

Liderado pelo refugiado sírio Rajana Olba, o grupo Nikkal é o convidado do terceiro episódio da nova temporada de No estúdio com Leo Leomil, apresentado pelo jornalista em seu canal de youtube

Estreia hoje (16), às 10h, mais um episódio de No estúdio com Leo Leomil, apresentado pelo jornalista paulista em seu canal de youtube. Em episódios quinzenais, a nova temporada do programa leva ao estúdio Loop, em São Paulo, Maluria, O Temporal, Tony Seu Loco e Gabi. Hoje, no terceiro episódio, é a vez do grupo Nikkal, liderado pelo refugiado sírio Rajana Olba e completado por Roberta Kelly (percussão), Fran Araújo (flauta), Graziela Zina Simantob (guitarra), Igor Pimenta (contrabaixo), além da performance da dançarina Rebeca Coutinho.

Em pouco mais de 20 minutos, tempo médio de duração de cada episódio, Leomil conversa com o grupo e este executa quatro temas instrumentais de autoria de Rajana Olba, que também é luthier – fabricou o próprio alaúde com que se apresenta e é professor do instrumento, formado pelo conservatório da Síria. Diversos temas estão em pauta: os ofícios de luthier, compositor e instrumentista, sua condição de refugiado, o trabalho em grupo.

É a primeira vez que o artista de 36 anos, que chegou ao Brasil em 2015, entra em um estúdio para registrar suas composições. Eles executam “Uma mensagem para minha cidade” (homenagem a Sueida, escrita diante da cruel realidade da impossibilidade de voltar para casa, por conta da guerra), “Luz” (“Uma mensagem de esperança, energias boas, positivas, de uma luz que guia e ilumina nossos caminhos”, revela o músico, que a compôs no início de 2019), “Meu professor” (“uma mensagem de agradecimento, uma homenagem e respeito a todos os mestres e pessoas que passaram por minha vida, pelo meu caminho”) e “Arabiola” (“juntar esses dois conceitos no alaúde, não é uma técnica muito conhecida, é muito mais comum no violão”, afirma o autor, referindo-se à música flamenca e árabe, terrenos por onde a composição passeia).

Farofafá conversou com exclusividade com Rajana Olba.

Rajana Olba à frente do Nikkal. Foto: divulgação
Rajana Olba à frente do Nikkal. Foto: divulgação

ZEMA RIBEIRO – Qual a origem do nome do grupo?
RAJANA OLBA – Ao que se sabe, a tábua de argila conhecida como H6 [o “Hino Hurrita nº 6”, composta há cerca de 3.400 anos, encontrada em Ugarit, na Mesopotâmia, é a música mais antiga sobre a qual se sabe o suficiente para sua possível reconstrução sonora] registra uma canção que conta a história de uma jovem que não pode ter filhos e acha que é um castigo por seus pecados. Ela sai à noite para rezar para a deusa Nikkal, a deusa da lua e da fertilidade. A jovem leva consigo uma pequena lata com sementes ou óleo de gergelim como oferenda à deusa para que ela a ajude com o seu desejo de ser mãe.

ZR – Uma das músicas que você canta no programa é uma homenagem à sua cidade, que você diz não existir mais da maneira como você a conheceu. Como você acabou vindo parar no Brasil?
RO – O que mudou da minha cidade e todas as cidades na Síria: antes nos sentíamos seguros e tranquilos, não ouvíamos falar de sequestros, roubos, drogas ou assassinatos. Quando saíamos de casa, deixávamos as portas abertas de tanta paz que a gente tinha. Quando a guerra começou, sequestros, assassinatos, roubos, drogas e gangues se espalharam. A eletricidade vinha entre longos períodos, às vezes dias inteiros e às vezes duas horas por dia, havia uma grave escassez de água e matérias-primas como trigo, arroz e açúcar. Outras cidades foram bombardeadas com todos os tipos de armas diariamente, era muito difícil ficar na Síria, e a maioria dos meus amigos viajou para vários países do mundo. Encontrei uma maneira de viajar para o Líbano, onde fiquei por três anos. Senti muita falta da minha cidade, não pude visitá-la, sempre recebi más notícias, perdi quatro primos e muitos amigos em eventos separados e quase perdi meu irmão. A vida no Líbano era muito difícil e comecei a procurar uma saída. Consegui o visto no consulado brasileiro e comecei a compor música para uma carta para minha cidade antes de sair do Líbano, e terminei de escrevê-la nos primeiros meses de chegada ao Brasil. Meu sonho era ver minha família novamente, eles virem aqui. Depois de mais de dois anos, consegui trazê-los aqui com a ajuda de meus amigos brasileiros, e recomecei minha carreira musical.

ZR – Como tem sido a receptividade do povo brasileiro?
RO – Fui bem recebido no Brasil, o povo brasileiro foi muito simpático, e eu amo o Brasil como meu país.

ZR – Além de músico você é luthier. Como aprendeu os ofícios? Com eles tem conseguido se sustentar no Brasil?
RO – Eu tinha informações sobre as medidas, porque eu sou alaudista e isso me ajudou muito. Eu sempre tive vontade de construir alaúdes, aprendi assistindo vídeos no youtube e comecei a construir alaúdes no começo da pandemia, com ferramentas bem simples.

ZR – A participação no programa de Leo Leomil é sua primeira gravação. O grupo pretende entrar em estúdio e registrar o trabalho em álbum em streaming ou formato físico?
RO – Essa é a primeira gravação das minhas composições e pretendo divulgá-las nas principais plataformas de streaming.

ZR – Você sente saudade de sua terra natal? Tem vontade e/ou pretensão de voltar?
RO – Sim, eu gostaria voltar para meu país. Isso faz muita falta. Espero conseguir visitá-lo algum dia.

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Assista ao terceiro episódio de No estúdio com Leo Leomil, com o grupo Nikkal:

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