A voz de Patativa vem de muitas léguas lá atrás, num tempo em que a alegria era a força mais subversiva da Nação.
Quatro anos após estrear em disco (em 2015, aos 77 anos), Patativa já tem 81 e continua a mesma: malandra, desbocada, suave, camarada, premonitória e atemporal.
Sou de Pouca Fala (Saravá Discos), o novo disco dessa cantora maranhense de nome de passarinho e de poeta do agreste, Patativa, exibe um violão de 7 cordas lindo de morrer, de Luís Júnior Maranhão (também arranjador e diretor musical do novo álbum). Podia ser um disco de uma música só, Sou de Pouca Fala, a primeira faixa, que já teria valido o ticket. Basicamente, a letra diz: “Me beija, te cala. Sou de pouca fala”. Quando começa o som dessa canção, e a voz da cantora entra nos ouvidos, é como se Clementina de Jesus entrasse pela sala mandando tirar os pés sujos do tapete. Tem muitas outras lindas, inclusive uma de duplo sentido muito safada chamada Não Faço Nada sem Poder (na qual ela tem a parceria vocal cúmplice de Zeca Baleiro, também produtor do disco).
De minha parte, venho até aqui também para agradecer pela faixa número 6, uma vinheta chamada Livrinho de Oração, uma coisa que só a intimidade da fé e da simplicidade pode ser capaz de produzir (e que é anterior mesmo à existência de Patativa).
Patativa, quando estreou há quatro anos, me possibilitou escrever em um veículo centenário de tradições jornalísticas formulaicas um texto do qual me orgulho (de quase todos me orgulho, para dizer bem a verdade). Flautas, trombones, coros fabulosos e as participações de Rosa Reis e Camila Reis (em Pega Maum) completam esse disco de um samba que nunca mais se fará igual, porque porta não apenas a arte, mas também o sangue da sambista.
Lendo a matéria em 2022 e simplesmente amando e assinando em baixo a exaltação à Diva de São Luís👏👏👏👏👏💖