Pelas minhas contas, nos últimos 2 anos, 171 jovens foram mortos por doidos em festivais de música na Europa e nos Estados Unidos.
Em maio deste ano, num show da cantora pop Ariana Grande na Manchester Arena, na Inglaterra, 22 pessoas foram mortas e 100 ficaram feridas em explosões provocadas por extremistas britânicos no meio da plateia.
Em 13 de novembro de 2015, durante um show da banda Eagles of Death Metal no Bataclan, em Paris, terroristas se infiltraram entre o público e começaram a atirar indistintamente contra o público. Mataram 90 pessoas.
Em junho deste ano, um festival na Alemanha, em Nürburg, o Rock Am Ring, chegou a ser cancelado por ameaça de atentado.
Na madrugada desta segunda-feira, em Las Vegas, um cara chamado Stephen Paddock, de 64 anos, se encastelou numa janela do Mandalay Bay Hotel and Casino com um fuzil automático e mandou bala lá para baixo. Em 4 minutos e meio de tiroteio, matou 59 pessoas e feriu 200, até agora, jovens que frequentavam um festival de música country. Depois, foi morto pela polícia.
O local fica na Las Vegas Strip, um quadrilátero de mais ou menos 7 km no Las Vegas Boulevard, onde se localiza a maioria dos hotéis e cassinos de Las Vegas. Entre 8 a 16 de maio de 2015, aquela mesma região abrigou o festival de origem brasileira Rock in Rio USA, que recebeu 140 mil pessoas e teve shows de Metallica, Joss Stone, Bruno Mars e Linkin Park, entre  outros.
O hotel Mandalay Bay é do mesmo grupo que se associou ao Rock in Rio, o MGM Resorts. Muitos dos frequentadores e artistas do festival ficaram lá em 2015. Nesses momentos é que a gente sente a proximidade de algo do qual não se pode nem tentar defesa, uma das mais covardes agressões.
Há uma facilidade grande no acesso que vulnerabiliza todos os festivais de rock e congêneres mundo afora. Não há grande segurança no entorno, porque até pouco tempo não se admitia que tais eventos pacíficos, de congraçamento e reunião jovem, fossem ser considerados como alvo pelos malucos de plantão. Não parecia lógico.
O primeiro sinal vermelho contra esse tipo de insano ocorreu lá nos anos 1960. Foi em 9 de agosto de 1969, quando o maluco Charles Manson, com sua seita de desperados, invadiu a casa do cineasta Roman Polanski em Bel Air e matou 4 pessoas, incluindo a mulher de Polanski, a atriz Sharon Tate, grávida. Foi uma espécie de epitáfio para o sonho hippie.
Os sucessivos ataques contra festivais (atirar contra admiradores de música country, um dos redutos conservadores da música americana, como a sertaneja tem sido no Brasil, é no mínimo irônico). Parece ter uma função, a de disseminar a ideia de que não há refúgio contra o desejo de vingança. Os festivais, em suas versões “Éden original”, como Woodstock, prometiam uma zona franca de paz, solidariedade, desprendimento, amor e cumplicidade artística. Os terroristas querem que não haja mais a sensação de oásis cultural em lugar nenhum. Mas eu torço para que não vençam. Nunca.
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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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