Virada Cultural traz a São Paulo a nata da novíssima música portuguesa para shows no Ibirapuera e em casas fechadas. Conheça a diva Mimicat, uma Amy Winehouse do Tejo
Mimicat só tem um disco, “For You”, do ano passado (o segundo está a caminho, ela assegura, em entrevista). O nome real dela é Marisa Mena, tem 30 anos e nasceu em Coimbra, local onde nossos ex-presidentes posam com aqueles chapéus engraçados de Doutores Honoris Causa. Mimicat já foi crooner da banda Casino Royal, mas estourou mesmo com o seu primeiro disco solo. Voz densa e enevoada por um fog evocativo dos anos 1940, consegue passar com deliciosa despretensão pela soul, pelo jazz e pelo blues. Por que o apelido dela é Mimicat? “O nome veio da junção de duas alcunhas familiares: Mimi é como as crianças da minha família chamam as madrinhas, e eu tenho uma enteada de 12 anos. O Cat é uma parte pessoal.”
A Virada Cultural à portuguesa será O Vira turbinado. Abaixo, uma pequena entrevista que fiz, por email, com a diva, que chega ao Brasil para seu primeiro show e fica entre os dias 17 e 22 cantando aqui.
Jotabê Medeiros – Você está vindo ao mesmo tempo que o Black Mamba e outras expressões da nova música portuguesa. O que está acontecendo aí em Portugual que tornou a cena atual tão forte, em sua opinião?
Mimicat – Em Portugal há imenso talento e qualidade. Muitas vezes a dificuldade é tornar esse talento público e felizmente tanto eu como os Black Mamba tivemos as oportunidades certas para conseguirmos levar a nossa música às pessoas. Acho que a nova geração de músicos portugueses tem muita sorte por ter referências tão boas de outros músicos que vieram antes de nós e que acabaram por ir construindo um caminho e abertura para novos projetos. Juntando isso com as influências que cada músico tem, a sua própria personalidade e o facto de culturalmente Portugal estar a crescer, faz com que saltem a vista muitos projetos interessantes.
JM – A cena retrô que você abraçou tem muito a ver também com as releituras que Amy Winehouse fazia. Você foi influenciada por ela?
M – Sim, sem dúvida. Para mim a Amy foi a melhor cantora e compositora da minha geração. Identifiquei-me muito com as canções, a melancolia das letras e a voz, claro. Ela era fantástica e marcou-me. Tive muita pena que ela não tivesse continuado.
JM – Sua base parece ser principalmente a soul music, mas você também passa com leveza pelo jazz e pelo blues, com audíveis influências de Shirley Bassey, Ella Fitzgerald e Jill Scott. Entre as suas divas, não parecem estar Nina Simone e Billie Holiday. Estou enganado? Quem são seus modelos?
M – A Nina Simone e a Billie Holiday também são duas referências grandes para mim, mas sinto-me muito mais próxima dos outros nomes e a minha postura enquanto artista acho que pode ser definida como uma mistura entre as três, a Shirley, a Ella e a Jill Scott 🙂 A Shirley Bassey pela postura mais “Bond Lady atrevida”, a Ella pela voz e a Jill pelo meu lado mais ligado ao R&B e mais new soul.
JM – Noto também que há um certo sabor de acid jazz em suas interpretações. Você foi fã dos Fugees e de Lauryn Hill?
M – Siiiiiim! Ainda hoje continuo a adorar a Lauren Hill. Acho que ela, enquanto vocalista dos Fugees, e depois, como cantora/compositora a solo, marcou uma geração de cantoras.
JM – Você canta geralmente em inglês, ao contrário de suas antecessoras, como Teresa Salgueiro ou Carminho, que cantam uma música mais típica e em português. Você chegou a viver na Inglaterra ou nos Estados Unidos?
M – Nunca vivi em nenhum desses países, embora tenha imensa vontade! Desde pequena sempre fui muito ligada ao universo anglo-saxônico, primeiro pelos filmes e depois pela música. Senti uma ligação muito forte com o inglês muito cedo e era muito fácil para mim. E como sempre ouvi mais música em inglês do que em português acaba por ser mais natural para mim escrever em inglês, porque o meu imaginário musical funciona assim. Contudo, já escrevi dois temas em português e quando as palavras me surgem em português fico muito feliz, mas nunca forço nada!
JM – Seu disco de estréia é o ‘For You’. Já existe um segundo álbum? O que há nele que possa significar uma evolução do primeiro?
M – Já tenho as canções para o segundo disco, mas para já não tenho data para começar a trabalhar nele, mas já estou cheia de idéias! Será um pouco mais arrojado do que este. O meu disco de estréia foi um disco clássico, num segundo terei uma aproximação mais moderna. A parte boa de ser artista é estar constantemente a evoluir e a fazer coisas que nos dão prazer.
JM – Sempre que vou a Lisboa, há uma voz do Brasil acontecendo naquele momento. Já vi um show muito disputado de Vanessa da Matta, e sei que Marisa Monte e Maria Bethânia também são muito queridas. Qual é sua relação com o Brasil? Teve alguma influência daqui?
M – É verdade, sempre houve uma ligação muito especial entre Portugal e o Brasil e isso depois reflete-se na música e nas constantes participações entre os artistas dos dois países. Eu gosto bastante de MPB, tenho um carinho muito grande pela Elis e depois acabei por ficar fã da Maria Rita. Apesar de não ser um estilo que eu esteja sempre a ouvir, tenho algumas favoritas, uma das mais bonitas de sempre para mim, um clássico do João Gilberto, “Chega de Saudade”.
* Publicado originalmente em El Pájaro que Come Piedra
Olá.
Sou diretor cultural da Casa de Portugal e gostaria de convidá-lo para o show da Cuca Roseta na Casa de Portugal nesta sexta-feira, dia 12 de Junho.
Segue um dos posts sobre o show.
Grande abraço
http://www.portugaldigital.com.br/cultura/ver/20094717-fadista-cuca-roseta-atua-na-casa-de-portugal-em-sao-paulo