O jornalista Jotabê Medeiros encontrou o playground de qualquer fã da música e ele tem nome: Louisiana Music Factory

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Na primeira vez em que fui lá ainda ficava no velho casarão de madeira de dois pavimentos, o de cima somente para vinil. Era uma portinha na frente do House of Blues, na Decatur Street. Comprei um vinil novo do Jeff Buckley, o já lendário “Grace”.

Tem um palco pequeno na entrada, que é usado pelos músicos que frequentam a loja. Toda a família Marsalis pode ser encontrada tocando lá de graça num final de tarde. Irvin Mayfield é habituê. Já vi Walter “Wolfman” Washington e Irma Thomas dando canja de graça. Fazem jams e ficam tocando entre os clientes, tudo na brodagem. Tinha dias que não dava pra entrar, de tanta gente. Daí os americanos malucos compravam chope e aqueles baldes de frango frito no bar ao lado e ficavam na rua mesmo, ouvindo uma guitarra ou um trompete que escapava lá de dentro.

Voltei lá após 5 anos e estava em endereço novo, no número 421 da Frenchmen Street (que é tipo uma Aspicuelta de New Orleans). Comprei três trilhas sonoras na primeira manhã: “Black Orpheus”, a trilha de Marcel Camus, com Luiz Bonfá e Tom Jobim, de 1959 (Fontana Records); “Barbarella”, de Roger Vadim, trilha original de Bob Crewe e Charles Fox, de 1968; e a trilha de Nino Rota para o “Romeu & Julieta” de Zefirelli, também de 1968. Todos originais, todos em perfeito estado, no mais caro paguei US$ 7,99. Estão em casa e nunca mais vão sair, nem para passear.

Louisiana Music Factory é o nome da melhor loja de discos do mundo

Há lojas maiores e há certamente lojas com acervo maior, mas poucas com tal qualidade. Não é tão antiga: o dono, Barry Smith, me disse que tem pouco mais de duas décadas. Ela foi assumindo um papel de bunker independente na cidade, e enquanto foram fechando todas as cadeias gigantes (estive na Tower Records de Tóquio, e não tem 10% da qualidade da Factory), ela foi se fortalecendo. Teve de mudar agora de lugar porque o prédio antigo foi vendido.

Suas especialidades são jazz, blues, rhytmn and blues, zydeco, cajun. Mas dá para encontrar tudo que você imagina: Metallica, Stones, Doors, Zappa, Professor Longhair, James Brown, Wilco. Sua maior concorrente é a Peaches Records, mais bem fornida de souvenires, que chegou há pouco tempo, mas está numa localização boa e estava tornando a vida dos independentes mais difícil.

Voltei no dia seguinte e não pretendia levar mais nada, mas comprei mais um monte, incluindo um single do Malcolm McLaren e um disco raro da primeira banda de Iggy Pop, The Iguanas, original e lacrado. E mais uns 20 discos de US$ 1,99.

Há muita coisa a fazer lá fora, mas a Louisina Music Factory tem mais coisa para você fazer ali dentro. É quase um sequestro dócil.

* O repórter viajou a convite do New Orleans Convention & Visitors Bureau, da American Airlines e da organização do festival

Publicado originalmente em El Pájaro que Come Piedra

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