Na semana passada, Ozzy Osbourne me ligou. Me concedia 15 minutos para inquiri-lo sobre a novíssima turnê que fará por aqui, culminando com a apresentação no festival Monsters of Rock, no Anhembi, dia 25, sábado. Era mais uma entrevista com o elenco do festival que eu fazia para O Estado de S.Paulo, jornal para o qual trabalhava então (daqui a pouco publico também a entrevista com Jay Buchanan, vocalista do Rival Sons, a maior novidade roqueira da jornada).
Eu tava curioso para falar com Ozzy, confesso, não sobre o futuro do Black Sabbath, que é o que mais se especula no momento. Não queria realmente perguntar se ele ainda vota nos republicanos ou alguma baboseira sobre morcegos. O que eu queria muito saber era porque o Príncipe das Trevas tinha escondido uma de suas filhas do olho público durante 31 anos. O nome dela é Aimée Rachel Osbourne e não aparecia no reality show The Osbournes, cujo foco era justamente a vida privada de Ozzy. Só os roliços Kelly e Jack apareciam ali.
Acontece que Aimée (não sei porque os Osbournes colocaram esse nome gourmetizado nela, Ozzy pronuncia “Emi”) resolveu sair da toca no mês passado. Lançou um clipe sob o codinome ARO (pronuncia-se Arrow, ou érou), no qual canta a música Raining Gold. O som dela tem uma pegada meio Lana Del Rey, uma certa exacerbação dramática. Ela comentou o fato de ter se “escondido” durante tantos anos.  “É natural querer se rebelar contra os pais e o que eles fazem. Uma vez eu tendo aceitado que a música era meu destino, eu me rebelei para achar meu próprio caminho. Também acho que isso foi respeitoso para com a carreira do meu pai, assumir que eu podia fazer meu caminho sem montar nas costas daquilo que ele trabalhou a vida inteira para conseguir”.
Eu enrolei um pouco para chegar ao assunto, mas eis o que Ozzy disse.
Ouvi que você passou uma cirurgia recentemente, teve que cancelar um festival…
Não foi coisa séria. Estão especulando por aí se eu vou ou não? Não há a menor chance de não ir. Eu estou chegando, estou recuperado e foi só uma coisa superficial, a recuperação foi rápida.
Você veio 2 anos atrás com o Black Sabbath. E ouvi que vocês planejam gravar um derradeiro álbum agora com o Sabbath, é verdade?
Não, não, não. Tommy (Iommi, guitarrista) ainda está lutando contra o câncer. Não temos planos de nada no momento.
Mas estão divulgando que vocês têm uma apresentação marcada para o Japão em novembro.
Com o Black Sabbath? Não. Tommy não está legal, ele não pode fazer planos desse tipo. Mas eu estou em turnê, eu estou bem. Eu ainda vou aonde me chamarem, é só me chamar. Eu amo a música e eu amo cantar. Não tenho um concerto favorito entre os que fiz no Brasil, todos foram momentos fantásticos e havia a paixão dos fãs, e é isso que me interessa.
Soube que você foi a um concerto do cantor pop Bruno Mars recentemente. É verdade? O que viu de especial nele?
Sharon me levou, ela adora. Eu não vou muito a esses shows, mas ela ama. Ele é um garoto legal, é amigo de minha filha, Kelly. Eu ouço todo tipo de música, mas se me pergunta do que eu gosto mesmo, o que eu cresci ouvindo, era Grateful Dead, Led Zeppelin, Stones. Não há nada de realmente novo na música atualmente, na minha opinião há pouca música realmente original hoje em dia. É sempre a mesma coisa com outra roupagem.
Outro dia, Justin Bieber se fantasiou de Ozzy para dublar uma música sua num programa de TV. Você viu aquilo?
Não. Me falaram. Esse garoto é meio pancada, não sei se fez direito ou não. Também não sei se foi uma coisa boa ou ruim, é o jeito dele se promover.
Sua filha Aimée, acaba de lançar um vídeo, o primeiro dela como cantora…
Ela tem uma grande voz. Mas acho que vai ser meio sofrido pra ela, porque ela não gosta de ser objeto de atenção, não gosta de ficar na frente das câmeras… Não quis participar do programa de TV. Eu respeito, jamais forcei qualquer coisa com as crianças, elas fazem aquilo que acham que é adequado.
Foi uma surpresa. Ela parece muito tímida…
Ela não é tímida, ela tem um senso de privacidade muito exacerbado. Meu filho Jack adora a vida pública. Minha filha Kelly tem grande desenvoltura no mundo artístico. Mas Aimée sempre quis ficar atrás das câmeras, sempre quis cuidar de sua vida de forma privada. O estilo da música dela é diferente do que eu faço, mas é representativo do que ela é.
O baterista Tommy Clufetos disse que você é um entertainer 24 horas por dia, que é uma vocação inata sua…
Acho que sim. Não tenho como negar isso, é fácil de ver.
Você cancelou recentemente uma edição do Ozzyfest no México. Hoje em dia, há essa tendência de globalização dos festivais, Rock in Rio em Las Vegas, Lollapalooza em São Paulo. O que acha disso?
Não me preocupo muito com nada disso. Eu canto em qualquer lugar onde me queiram, e faço o melhor que posso. Às vezes, minha voz não está em grande forma, às vezes ela funciona maravilhosamente. Eu vou com paixão e dou o meu melhor, porque é assim que eu vivo.

Ouça “Raining Gold”, com a filha de Ozzy, ARO:


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Jotabê Medeiros, paraibano de Sumé, é repórter de jornalismo cultural desde 1986 e escritor, autor de Belchior - Apenas um Rapaz Latino-Americano (Todavia, 2017), Raul Seixas - Não diga que a canção está perdida (Todavia, 2019) e Roberto Carlos - Por isso essa voz tamanha (Todavia, 2021)

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